Lula pede reação do BRICS contra tarifas americanas, propõe reforma da ONU e defende maior protagonismo do bloco em temas como comércio, clima, inteligência artificial e segurança internacional.
Em pronunciamento nesta segunda-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou os países do BRICS a reagirem de forma coordenada ao avanço do protecionismo global, criticou as tarifas impostas pelos Estados Unidos sob Donald Trump e defendeu reformas no sistema multilateral, com foco na ONU e na OMC.
Segundo ele, “a chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados”, o que exigiria uma resposta coletiva do bloco, que reúne Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul e os novos membros.
O tom ecoa compromissos firmados na Cúpula do BRICS no Rio (6 e 7 de julho), quando líderes aprovaram decisões sobre clima, saúde, governança da inteligência artificial e integração econômica.
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Tarifas dos EUA e OMC
Ao abordar as medidas unilaterais recentes, Lula afirmou que princípios da OMC como nação mais favorecida e tratamento nacional foram “transformados em letra morta” por decisões adotadas “em poucas semanas”.
A fala se insere em um cenário de tarifa-base de 10% sobre importações instituída por Trump em abril e ampliada com atos subsequentes, hoje contestada na Justiça.
No campo multilateral, o presidente cobrou que o BRICS chegue “unido” à 14ª Conferência Ministerial da OMC, marcada para 26 a 29 de março de 2026, em Camarões, com agenda de “refundação” do comércio em bases modernas e flexíveis.
BRICS 2025: clima, saúde e IA
Lula recordou que, no Rio, os líderes “mostraram que o BRICS é capaz de aportar soluções concretas” e aprovaram decisões em áreas sensíveis.
O Documento de Rio de Janeiro e comunicados associados fixaram ênfase em uma governança global de IA ancorada na ONU, com proteção a dados e compensação a detentores de direitos, e em compromissos de financiamento climático.
Dados oficiais do Brasil na presidência do BRICS estimam que o grupo ampliado reúne cerca de metade da população mundial e aproximadamente 40% da economia global (PPP).
Guerra na Ucrânia
Ao falar de segurança, o presidente defendeu “pavimentar caminhos para uma solução realista” na guerra da Ucrânia e citou o “encontro no Alasca e seus desdobramentos em Washington” como passos “na direção correta”.
Em 15 de agosto, Trump e Vladimir Putin se reuniram em Anchorage, sem acordo concreto. Dias depois, a Casa Branca recebeu Zelensky e líderes europeus para discutir garantias de segurança e sanções adicionais.
Gaza e Cisjordânia
Lula classificou como “urgente” pôr fim “ao genocídio em curso” e condenou o anúncio israelense de assumir controle de Gaza e a ameaça de anexação da Cisjordânia.
Em agosto, o gabinete político-militar de Israel aprovou plano para tomar Gaza City, enquanto o ministro Bezalel Smotrich apresentou proposta para anexar até 82% da Cisjordânia.
Em 23 de julho, o Brasil anunciou que ingressará como interveniente no processo movido pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça, que acusa Israel de violar a Convenção do Genocídio.
Soberania digital e IA
No eixo digital, o presidente argumentou que, “sem soberania digital”, países seguirão vulneráveis à manipulação externa.
Ele defendeu governança democrática e cooperação a partir de ecossistemas nacionais.
As posições convergem com a agenda doméstica, que vem debatendo política digital, cibersegurança e regulação de plataformas.
Clima e COP30 em Belém
Lula adiantou prioridades para a COP30, que ocorrerá de 10 a 21 de novembro em Belém.
Ele propôs criar um Conselho de Mudança do Clima da ONU para articular atores e mecanismos hoje dispersos e citou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, desenhado para remunerar serviços ecossistêmicos de países com florestas tropicais.
Além do plano financeiro, Belém será vitrine para a estratégia brasileira de transformação ecológica, com metas de mobilização de capital e padronização de regras.
América Latina e Caribe
No balanço regional, Lula lembrou que América Latina e Caribe são livres de armas nucleares desde o Tratado de Tlatelolco, assinado em 1967 e em vigor desde 1968.
Ele citou também a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), criada em 1986, como base para afastar tensões externas.
Banco do BRICS
Na área financeira, o presidente sustentou que o Novo Banco de Desenvolvimento ajuda a diversificar bases produtivas e financiar transições justas.
O ponto foi reforçado pela recondução de Dilma Rousseff para novo mandato à frente da instituição e pelos encontros anuais de 2025.
Reforma do Conselho de Segurança
Lula defendeu ampliar o Conselho de Segurança para incluir novos membros permanentes e não permanentes de América Latina, África e Ásia.
Ele disse ainda que a “futura presidência indiana do BRICS contará com todo o apoio do Brasil”. A rotação foi confirmada: a Índia assume em 2026 e sediará a 18ª cúpula.
Multilateralismo em foco
Ao final, o presidente afirmou que “o BRICS já é o novo nome da defesa do multilateralismo”.
Diante desse cenário, como você avalia a capacidade real do BRICS de coordenar respostas eficazes às tarifas dos EUA e, ao mesmo tempo, destravar reformas na ONU?