Demissões em série e retração das exportações reforçam a crise no setor de máquinas agrícolas no Rio Grande do Sul, com impacto direto em Horizontina, município altamente dependente da John Deere para sua economia.
A John Deere confirmou a demissão de 150 funcionários na fábrica de Horizontina (RS) nesta quarta-feira (17), justificando o ajuste como resposta à retração do mercado e à queda da produção de máquinas agrícolas.
A unidade é uma das principais empregadoras do município e símbolo da cadeia de equipamentos no estado. Segundo a companhia, o objetivo é “adaptar o volume de produção à demanda atual do mercado”.
Em nota enviada à imprensa, a fabricante indicou que a decisão decorre do cenário recente de menor ritmo de vendas no segmento de máquinas, que pressiona estoques e linhas de montagem.
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O movimento foi alvo de negociação com o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Horizontina e Região.
De acordo com a apuração publicada nesta quinta-feira (18) pelo portal Zero Hora, a empresa chegou a cogitar 200 desligamentos, mas recuou para 150 após tratativas com a entidade sindical.
O corte surpreende porque, no início do ano, a fábrica havia contratado cerca de 200 novos empregados para atender um pico de demanda.
Histórico de cortes na fábrica de Horizontina
A unidade de Horizontina já vinha operando com revisões de quadro desde 2024.
Naquele ano, a companhia demitiu 150 trabalhadores após um período de layoff, encerrando contratos ao fim do programa temporário.
A medida foi atribuída à readequação do plano de produção para o ano fiscal seguinte.
Meses antes, em março de 2024, a empresa concedera férias coletivas a 1,1 mil funcionários diante da queda nas vendas, preservando parte da renda com complementos previstos em acordo.
Esse expediente já sinalizava arrefecimento na carteira de pedidos e a necessidade de calibrar turnos e linhas.
Peso da John Deere para a economia de Horizontina
Horizontina tem 18.851 habitantes, segundo o Censo 2022 do IBGE, e concentra parcela relevante de sua atividade em torno da indústria de máquinas agrícolas.
A importância da planta transparece nos números do comércio exterior: em 2024, o município exportou mais de US$ 104,7 milhões, com predominância de máquinas agrícolas.
O montante ficou 37% abaixo do observado em 2023, refletindo a desaceleração do setor.
Além do impacto direto nos postos de trabalho, a redução do ritmo fabril tende a afetar a cadeia de fornecedores e serviços locais.
O sindicato avalia que parte dos demitidos pode ser absorvida por outras metalúrgicas da região, mas admite preocupação com a combinação de anos de estiagem recentes e endividamento de produtores.
Esses fatores castigaram a demanda por máquinas e retardaram renovação de frota.
Outras demissões no setor de veículos e máquinas agrícolas
A retração não é isolada.
Em janeiro de 2025, a AGCO, fabricante de colheitadeiras com unidade em Santa Rosa, demitiu 51 colaboradores — cerca de 10% do efetivo local — em um ajuste também motivado pela menor demanda.
A empresa já havia recorrido a layoff em 2024, antes das dispensas.
No setor automotivo, a General Motors (GM) de Gravataí adotou layoff de dois meses a partir de 22 de abril de 2025.
O sindicato estimou entre 700 e 1.000 trabalhadores diretamente afetados na montadora e em sistemistas.
Reportagens locais contabilizaram, no total, cerca de 1,4 mil empregados com contratos temporariamente suspensos, mantendo apenas parte do turno e da manutenção.
A medida também foi justificada como ajuste à demanda.
Causas da retração e sinais do agronegócio
O ciclo recente do agronegócio no estado ajuda a explicar o freio.
A combinação de preços menos favoráveis, safras irregulares e custo financeiro elevado restringiu investimentos do produtor rural.
Esse cenário reduziu a procura por máquinas de maior valor.
Em paralelo, a própria indústria vinha se reorganizando desde 2024, quando se multiplicaram programas de férias coletivas e suspensões temporárias de contratos para evitar acúmulo de estoques.
Nesse contexto, a John Deere informou que priorizará o realocamento interno de parte do efetivo e o cumprimento das verbas legais aos desligados.
O sindicato mantém atendimento jurídico e acompanha recolocações em empresas vizinhas.
Em nota, a entidade reafirmou que seguirá monitorando as condições de mercado e o andamento da produção na unidade.