A usina de Itaipu finalizou a primeira fase da montagem da ilha solar flutuante no Rio Paraná. O projeto-piloto, que conta com mais de 1,5 mil painéis, promete gerar energia renovável para consumo interno e abrir caminho para futuras expansões sustentáveis.
A usina hidrelétrica de Itaipu, localizada na fronteira entre Brasil e Paraguai, alcançou um marco inédito em sua trajetória, conforme informado nesta segunda, 06. A empresa concluiu a montagem da primeira fase do projeto-piloto de uma ilha solar flutuante, que promete diversificar a matriz energética da hidrelétrica e reforçar seu compromisso com fontes renováveis.
No total, 1.568 painéis fotovoltaicos foram instalados e ancorados sobre o leito do reservatório do Rio Paraná, o mesmo que movimenta as 20 turbinas da usina. A área ocupada pelo projeto é de 7,6 mil metros quadrados, o equivalente a quase um campo de futebol inteiro, criando uma estrutura flutuante impressionante e pioneira na América do Sul.
Energia solar e hidrelétrica em harmonia
O próximo passo do projeto envolve a instalação de cabos de energia e comunicação, além da realização de testes frios e quentes para validar o funcionamento do sistema. A expectativa da empresa é iniciar a operação oficial em novembro, alcançando 1 MWp (megawatt-pico) de capacidade máxima.
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Esse volume de geração é suficiente para abastecer aproximadamente 650 residências, e toda a energia será destinada ao consumo interno da própria usina. O projeto reforça a busca de Itaipu por autossuficiência e sustentabilidade, alinhando-se às metas globais de transição energética.
De acordo com o engenheiro Márcio Massakiti Kubo, da Superintendência de Energias Renováveis da Itaipu, o cronograma sofreu pequenos ajustes devido às chuvas e à prioridade dada à segurança da equipe. “O cronograma sofreu pequenos ajustes devido às chuvas e à necessidade de garantir a segurança dos trabalhadores e da operação da hidrelétrica”, explicou.
Ele ressaltou ainda que a montagem da ilha solar exige atenção redobrada por estar próxima a áreas sensíveis, como o vertedouro — estrutura responsável por liberar o excesso de água — e a zona náutica de segurança da usina.
Investimento e parceria binacional fortalecem o projeto
O investimento total no projeto é de US$ 854,5 mil, cerca de R$ 4,5 milhões, financiado pela Itaipu Binacional. A execução está a cargo de um consórcio formado pelas empresas Sunlution (brasileira) e Luxacril (paraguaia), vencedoras da licitação.
A cooperação entre os dois países reforça a importância de Itaipu como símbolo da integração energética e diplomática entre Brasil e Paraguai. A hidrelétrica, que já responde por cerca de 9% da energia consumida no Brasil, se posiciona agora como uma referência também em inovação em energias renováveis.
Um ano de testes e avaliação ambiental contínua
Com a fase de montagem concluída, a ilha solar entra agora em um período de avaliação de 12 meses. Durante esse tempo, serão monitorados o desempenho técnico, a eficiência energética e os possíveis impactos ambientais do sistema.
Segundo Itaipu, “não foram identificados impactos significativos na literatura especializada, o que encorajou a realização do projeto”. Ainda assim, a usina manterá o monitoramento constante de aspectos ambientais, como qualidade da água, presença de algas e mudanças no habitat de aves e peixes.
O objetivo é garantir que a geração de energia solar flutuante seja compatível com o ecossistema do reservatório, preservando a biodiversidade da região e consolidando o modelo como referência de sustentabilidade.
Potencial de expansão e impacto futuro da ilha solar
De acordo com estimativas da Itaipu, se apenas 1% da área do reservatório fosse coberta por painéis solares, seria possível gerar até 3,6 TWh por ano — o equivalente a 4% da produção total da usina em 2023. Essa projeção mostra o enorme potencial de expansão do projeto.
O superintendente de Energias Renováveis da Itaipu, Rogério Meneghetti, destacou que, no futuro, se o projeto conseguir cobrir 10% do reservatório, a produção poderia atingir 14 mil MW, o dobro da capacidade atual da hidrelétrica.
Apesar disso, ele pondera que nem todas as áreas podem ser utilizadas. “Ficam de fora, por exemplo, as áreas de navegação e de reprodução de peixes”, explicou Meneghetti. Essa limitação reforça a importância do planejamento técnico e ambiental para o crescimento sustentável da iniciativa.
Itaipu amplia fronteiras da energia limpa
Além da ilha solar, Itaipu desenvolve outros projetos voltados à transição energética, como pesquisas com hidrogênio verde e biocombustíveis. Uma das iniciativas mais inovadoras da empresa envolve transformar produtos apreendidos em contrabando em biogás, reforçando o compromisso com a economia circular e o aproveitamento de resíduos.
A usina, que recentemente alcançou o marco histórico de 3,1 bilhões de megawatts-hora (MWh) produzidos desde 1984, continua sendo referência mundial em eficiência energética. Para se ter uma ideia da grandiosidade desse número, essa produção seria capaz de abastecer o mundo por 44 dias ou o Brasil por mais de seis anos.
Com a ilha solar flutuante, Itaipu mostra que inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas, abrindo caminho para uma nova era da energia limpa na América do Sul.