Apoiar o setor de óleo e gás e investir na transição energética não é contraditório, diz BNDES. WEF alerta que mecanismos atuais são insuficientes para descarbonização.
O setor de óleo e gás está desempenhando um papel crucial na promoção da transição energética global. De acordo com o BNDES, apoiar essa indústria e investir em alternativas sustentáveis não são ações que se excluem mutuamente. O Fórum Econômico Mundial (WEF) tem feito alertas significativos de que os mecanismos atuais são insuficientes para alcançar uma descarbonização eficaz, destacando a necessidade de mais inovação e investimentos neste sentido.
No contexto da indústria petrolífera, os desafios são múltiplos, mas as oportunidades são igualmente vastas. O setor de óleo e gás tem a capacidade de liderar uma transformação significativa, não apenas na forma como a energia é produzida, mas também na forma como é consumida. A necessidade de descarbonizar a economia global implica que setores como o de petróleo e gás implementem soluções mais sustentáveis e eficientes o quanto antes.
Financiamento e Transição Energética
Para o BNDES, não existe contradição ao proporcionar suporte ao setor de óleo e gás e, simultaneamente, investir na transição energética. Elisa Lage, chefe do departamento de Petróleo, Gás e Navegação do banco, mencionou durante o painel Financiabilidade da Transição Energética, realizado na quarta-feira (25), parte do ROG.e, um dos maiores eventos de energia no mundo, que ocorre no Boulevard Olímpico, no Rio de Janeiro, até quinta-feira (26). Nos últimos 20 anos, o BNDES tem financiado o setor de óleo e gás através de inúmeros projetos nas áreas de transporte e distribuição de gás, refino e distribuição de combustíveis, entre outros empreendimentos.
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O gás natural é um componente essencial da agenda de transição energética, uma vez que é necessário para atender à demanda durante períodos de intermitência. A executiva sublinhou que o banco também está concentrando esforços na descarbonização da indústria petrolífera em várias frentes, incluindo refino, transporte, distribuição e eficiência energética.
Desafios em Países Emergentes
Presente no painel, Thales Panza de Paula, responsável pelo engajamento da América Latina no World Economic Forum (WEF), ressaltou que os atuais mecanismos de financiamento são insuficientes para cumprir as metas de descarbonização estabelecidas no Acordo de Paris. ‘O grande desafio atualmente está nos países emergentes, onde é necessário dobrar os investimentos‘, ele apontou. Nessas regiões, as dificuldades principais incluem o alto custo dos financiamentos, a limitada capacidade de endividamento governamental (mais de 50% dos financiamentos provêm do setor público), o baixo desenvolvimento dos mercados de capitais (com Brasil como uma exceção), e o risco cambial.
Apesar dessas adversidades, o fluxo de investimentos em projetos no setor energético mostra tendência de crescimento, com uma expectativa de US$ 3 trilhões em 2024, dos quais US$ 2 trilhões serão dedicados às energias limpas e US$ 1 trilhão aos fósseis. Esses investimentos são especialmente proeminentes na China, EUA e Europa, enquanto os mercados emergentes atraem cerca de 15% do total dos investimentos. O painel contou também com a participação de Bruno Aranha, professor da FIA e fundador da YvY Capital; Victor Santos, diretor associado do BTG Pactual; e Gilberta Lucchesi, CFO da Repsol Sinopec Brasil, que atuou como moderadora.
Descarbonização da Indústria
Os desafios de descarbonização em setores industriais como siderurgia, cimento e fertilizantes foram discutidos no painel ‘Indústria hard to abate‘. Jorge Oliveira, CEO da ArcelorMittal, indicou que a empresa está acelerando o uso de soluções verdes, como carvão vegetal e sucata, e investindo em eficiência energética. No entanto, ressaltou que a aplicação de tecnologias renováveis em larga escala ainda enfrenta barreiras de custo. ‘O Brasil possui energia renovável na base da sua matriz energética, o que pode ser uma vantagem competitiva globalmente’, afirmou, destacando a importância de políticas públicas e regulamentações de mercado para atração de investimentos.
Osvaldo Ayres, CEO da Votorantim Cimentos, compartilhou que a empresa tem acumulado conhecimento com projetos-piloto de descarbonização em diversos países, incluindo eletrificação e CCUS nos EUA e na Europa. Daniel Hubner, vice-presidente sênior da Yara Fertilizantes, reconheceu as dificuldades enfrentadas por alguns setores no processo de descarbonização mas vê potencial em soluções locais, como o biometano no Brasil. ‘Reduzimos globalmente 45% das nossas emissões de 2005 a 2018, com melhorias em catalisadores e eficiência energética. Agora, precisamos buscar novas rotas’, disse ele, destacando o biometano como uma via promissora a ser explorada.
A Revolução do Computador Quântico
Claudio Makarovsky, diretor Industrial de Energia e Recursos Naturais da Microsoft, anunciou no painel ‘Inteligência Artificial e Computação Quântica: o futuro da indústria de O&G’, realizado durante o iUP Innovation Connections, evento paralelo da ROG.e, que até 2030 teremos um computador quântico mundial, focado no mapeamento molecular e desenvolvimento de novas drogas. Flavio Waltz, sócio de Operações Digitais da E&Y, comentou que, em uma pesquisa de 2022 com mais de 500 executivos europeus, 48% acreditavam em aplicações práticas dessa tecnologia até 2030.
Clécio de Bom, professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), destacou que, no futuro, as empresas encontrarão suas próprias rotas para desenvolver tecnologias disruptivas, enquanto Marc Spieler, diretor de Energia da NVIDIA, prevê que o boom da computação quântica ainda está por vir, e no futuro todos terão tanto um computador clássico quanto um quântico.
Equidade de Gênero na Indústria
Os esforços para promover equidade de gênero na indústria de O&G se refletem nos números do setor. Um estudo de 2023 da Associação Internacional de Produtores de Petróleo e Gás (IOGP) indica que há em média 23% de participação feminina nas empresas do segmento. Luciara Queiroz, gerente Brasil de Sustentabilidade da SLB, mencionou esses dados no painel ‘Mulheres na indústria de energia: desafios e oportunidades para a igualdade de gênero’, realizado no Fórum DE&I. Ana Gati, presidente e fundadora do Instituto Mulheres e Operações (MEO), enfatizou que a representatividade feminina está associada a melhores resultados financeiros, comentando que, segundo a McKinsey, empresas com alta presença de mulheres apresentam performance 25% superior.
Além disso, o desenvolvimento profissional é crucial. Camila Santiago, gerente de Manutenção e Confiabilidade da Constellation, apontou quatro fatores essenciais para o sucesso: comunicação, resiliência, inteligência emocional e competência técnica. A combinação desses elementos levou à promoção de Eduarda Lacerda, gerente geral da unidade de negócios do Espírito Santo da Petrobras, mesmo durante a gravidez. Luisa Moura, analista de Diversidade na Wilson Sons, adicionou que a chave para a diversidade é a exposição intencional de diferentes grupos aos desafios que se deseja enfrentar, o que define como representação social.
Sobre a ROG.e
A ROG.e é um dos maiores eventos do setor energético no mundo, organizado pelo IBP. O evento deve atrair mais de 70 mil visitantes de 65 países distintos, incluindo lideranças do setor, autoridades, investidores e acadêmicos. Ocupando oito armazéns, com mais de 550 expositores, sete eventos paralelos e um Congresso, a ROG.e 2024 conta com o patrocínio de renomadas empresas como Petrobras, Shell, TotalEnergies, Equinor, Galp, Origem, Brava, Petronas, Prio, bp, Chevron, ExxonMobil, Modec, Repsol Sinopec Brasil, SBM Offshore, Acelen, Eletrobras, Excelerate Energy, Ipiranga, Pan American Energy, Vibra, Dell, Nvidia, Naturgy, TechnipFMC, TBG, Trident Energy, ABB, Construtora Elevação, Compass, Foresea, Huawei, Karoon Energy, OceanPact, Perbras, Subsea7, TAG, Transpetro, Vallourec, Renave, e a participação do Governo Federal.
Fonte: Bruno Postiga