Inflação na Argentina desacelera para 1,9% em agosto, mas crise política e queda do peso colocam ajuste econômico de Javier Milei em risco.
A inflação na Argentina registrou 1,9% em agosto, segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). O resultado ficou ligeiramente abaixo da previsão do mercado, que esperava taxa de 2%.
O número repete o patamar de julho, quando o país também anotou 1,9%. No acumulado de 12 meses até agosto, a inflação atingiu 33,6%, abaixo dos 36,6% do mês anterior, refletindo uma desaceleração gradual após os primeiros meses do governo de Javier Milei.
Setores com maiores altas no mês
Entre os segmentos que mais pressionaram os preços em agosto estão transporte, com alta de 3,6%, e bebidas alcoólicas e tabaco, que avançaram 3,5%.
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Restaurantes e hotéis tiveram elevação de 3,4%, enquanto habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis subiram 2,7%. Já a educação registrou variação de 2,5%.
Apesar da desaceleração geral, os dados do Indec mostram que a inflação na Argentina permanece resistente a cair abaixo de 2% ao mês de forma consistente.
Em 2025, os índices mensais têm oscilado entre 2% e 3%, após quedas mais acentuadas no primeiro ano de Milei.
Ajuste econômico e efeitos sociais
Desde que assumiu a presidência em dezembro de 2023, Javier Milei adotou um ajuste econômico severo. Obras federais foram suspensas e os repasses de verbas para os estados foram interrompidos.
Subsídios a tarifas de água, gás, energia elétrica, transporte público e outros serviços essenciais também foram retirados, o que provocou alta expressiva dos preços ao consumidor nos primeiros meses de seu mandato.
A política de ajuste coincidiu com aumento da pobreza no início de 2024, quando 52,9% da população passou a viver nessa condição.
No segundo semestre, o percentual recuou para 38,1%, o equivalente a 11,3 milhões de pessoas, mas os protestos populares se intensificaram.
Crise política agrava cenário
Enquanto tenta manter a inflação na Argentina sob controle, Milei enfrenta uma crise política que abalou sua base de apoio.
Nas últimas semanas, um escândalo envolvendo Karina Milei, irmã e secretária-geral da Presidência, desencadeou uma investigação judicial.
Um áudio atribuído a Diego Spagnuolo, ex-chefe da Agência Nacional de Discapacidade (Andis), acusa Karina Milei e o subsecretário de Gestão Institucional, Eduardo “Lule” Menem, de cobrar propinas de indústrias farmacêuticas para a compra de medicamentos da rede pública.
A denúncia abalou a credibilidade do governo e ocorreu às vésperas das eleições da província de Buenos Aires, nas quais Javier Milei sofreu derrota expressiva. A província concentra quase 40% do eleitorado nacional.
Impacto no mercado e no peso argentino
O revés eleitoral intensificou a pressão sobre os ativos financeiros do país. Na segunda-feira seguinte ao pleito, os títulos públicos e as ações de empresas argentinas despencaram.
O peso argentino caiu 27% frente ao dólar, alcançando o valor mínimo histórico de 1.423 por dólar.
A desvalorização forçou o presidente a convocar seu gabinete para discutir medidas emergenciais diante da perda de confiança dos investidores.
A instabilidade cambial representa risco direto para a inflação na Argentina, que depende da manutenção do valor do peso para evitar repasses aos preços internos.
Acordo bilionário com o FMI
Apesar da turbulência recente, Milei conquistou um importante respaldo externo em abril de 2025 ao firmar um acordo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A primeira parcela, de US$ 12 bilhões, foi liberada poucos dias depois do anúncio.
Os recursos se somam a dívidas antigas da Argentina com o FMI, que já ultrapassavam US$ 40 bilhões.
O acerto sinaliza confiança do fundo no programa econômico de Milei, que prevê eliminar os controles de capitais e atrair investimentos privados.
O governo considera essencial manter a inflação abaixo de 2% ao mês para prosseguir com a abertura cambial. Após o acordo, o Banco Central da Argentina anunciou o fim da paridade fixa do peso e introduziu o câmbio flutuante.
Medidas monetárias e cambiais
Com o objetivo de sustentar o programa com o FMI, o governo lançou uma série de medidas monetárias, fiscais e cambiais.
Em maio, autorizou o uso de dólares mantidos fora do sistema financeiro sem exigência de comprovação de origem.
Em junho, promoveu flexibilizações para operações com pesos e dólares no mercado de títulos públicos e planejou captar US$ 2 bilhões por meio de novas emissões. Também prometeu reduzir a emissão de moeda pelo Banco Central da Argentina.
Diante da forte queda do peso antes das eleições de Buenos Aires, o Tesouro Nacional anunciou em 2 de setembro que passaria a intervir diretamente no câmbio, comprando e vendendo dólares para evitar desvalorizações abruptas.
O governo de Javier Milei busca conter a inflação na Argentina enquanto tenta estabilizar o câmbio e recuperar a confiança do mercado.
O êxito dessas medidas será determinante para a manutenção do acordo com o FMI e para o avanço do ajuste econômico iniciado em 2023.
No entanto, a crise política e a recente desvalorização do peso colocam incertezas sobre a capacidade do governo de sustentar a trajetória de queda da inflação nos próximos meses.