Segundo diz o diretor da Ubrabio, as indústrias investiram para o aumento da produção do biodiesel, porém agora enfrentam ociosidade
Não é novidade que o Brasil busca a redução da utilização do diesel, advindo do petróleo, apostando no biodiesel proveniente de óleos vegetais, uma opção mais sustentável e menos poluente. Essa busca pela utilização do biocombustível envolve políticas que foram idealizadas para que esse ramo pudesse crescer com segurança, já que se trata de uma tática para promover o desenvolvimento da economia e das indústrias de produção de biodiesel no Brasil.
Comercialização de mistura do biocombustível decresce em 2022
Em 2022, a comercialização da mistura de biodiesel com o diesel deveria estar na proporção de 14% do biocombustível e 86% de diesel nas bombas de postos de gasolina, porém, atualmente o governo mantém a mistura em 10% de biodiesel, mostrando um decréscimo em relação aos anos anteriores que seguiam os percentuais obrigatórios da mistura com o biocombustível.
Além disso, esse déficit na comercialização do biocombustível atinge diretamente as indústrias que investiram na produção do mesmo, como diz o diretor da Ubrabio, Donizete Tokarski, “Esse é o pior dos mundos, um desastre para o setor. Os empresários confiaram e investiram na ampliação da produção e agora estão com uma ociosidade maior que 50% nas indústrias”, relata.
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Governo considera importação de biodiesel
O governo Bolsonaro, recentemente, examinou a alternativa de importar biodiesel de outros países com a esperança de reduzir o valor dos combustíveis no mercado internacional, uma vez que houve um aumento rigoroso dos preços. A proposta para a indústria do biodiesel seria acabar por inviabilizar a atividade no país.
Como relata o diretor da Ubrabio, a importação do biocombustivel geraria um prejuízo vasto para o setor; “Essa situação de importação do biodiesel é uma destruição do setor, pois a indústria brasileira estava preparada para avançar. Estamos diante de um quadro de 10% na mistura e escassez de diesel no país já alertada pela própria ANP. Mesmo diante de tudo isso, ao invés de intensificar a produção de biodiesel, estão buscando uma solução paliativa, que gera emprego somente em outros países”.
Ociosidade na indústria do biodiesel
Segundo o Canal Rural, uma das considerações em relação ao setor do biocombustível, no que diz respeito às políticas governamentais, é o percentual de somente 10% na mistura, sendo que a indústria do biocombustível ganhou investimento suficiente para o aumento desse percentual.
Atualmente, o Brasil possui capacidade para 12,8 bilhões de litros de biodiesel por ano, porém a produção estimada para 2022 foi somente de 6,2 bilhões de litros, gerando uma ociosidade de cerca de 52% na indústria do biodiesel.
Segundo Flavio Negrão, gerente geral do Grupo Potencial, que possui uma unidade de produção de biodiesel localizada no município da Lapa, em Curitiba, houve um movimento por parte do setor de biodiesel para que este estivesse preparado para atender à mistura de biodiesel e diesel. Como Flávio pontua, a indústria se preparou, investiu, mas a mistura não aconteceu. O Grupo Potencial, indústria
com capacidade de 900 milhões de litros de biodiesel por ano, é a maior unidade produtora de biodiesel nacional. Para chegar nesse patamar, foram necessárias três ampliações, sendo a última em 2020 com investimento de R$ 50 milhões.
Déficit no percentual de biodiesel deixa de utilizar cerca de 5,2 milhões de toneladas de soja
O baixo percentual do biocombustível na mistura para comercialização gera impacto direto no campo, uma vez que a soja é a principal matéria-prima do biodiesel. Desse modo, o percentual de 10% de biodiesel presente no diesel, considerando que o CNPE garantia um percentual de 14% de biodiesel em 2022, traz consequências negativas para produção do campo.
Dentre a composição do biocombustível, o óleo de soja responde por 71,4%, outros óleos vegetais respondem por 17,3% e a gordura animal corresponde à 11,3%. Essa proporção varia ao longo do tempo, uma vez que depende da disponibilidade e do preço desses insumos.
Como pontua Luiz Eliezer Ferreira, técnico do DTE (Departamento Técnico e Econômico), a participação da soja na composição do biocombustível será cada vez menor no futuro, tendo em vista o crescimento e a produção de outras matérias-primas e da ascensão do preço da soja para a indústria do biodiesel.
Ainda segundo Luiz, se o percentual de biodiesel na mistura fosse aumentado o percentual na ordem de 4%, 2,8% viriam do óleo de soja. Esse adicional acarretaria no aumento de 5,2 milhões de toneladas do grão de soja ou 750 mil toneladas de óleo de soja.