Índia pressiona pelo uso da rupia nos BRICS em 2025, mas Brasil e África do Sul resistem e defendem sistema multimoedas contra avanço da China.
O que era para ser um debate técnico virou uma disputa geopolítica dentro do BRICS em 2025. A Índia passou a pressionar pela adoção ampliada da rupia nos acordos comerciais do bloco, tentando transformar sua moeda em instrumento de maior projeção global. Mas o movimento encontrou resistência imediata de Brasil e África do Sul, que preferem manter um sistema multimoedas, capaz de equilibrar forças e evitar a hegemonia de um só país — seja a China com o yuan, seja a própria Índia com a rupia.
A divergência expõe o racha interno do BRICS em um momento decisivo. Enquanto os países buscam alternativas ao dólar e discutem plataformas como o BRICS Pay, cresce o risco de que a disputa monetária interna fragilize a coesão do bloco.
O plano da Índia: transformar a rupia em referência
A estratégia indiana não surgiu do nada. Nova Délhi já vinha trabalhando desde 2023 para internacionalizar a rupia. Firmou acordos bilaterais com países da Ásia e da África, criou mecanismos de compensação em rupias e buscou atrair parceiros estratégicos para abandonar o dólar.
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Em 2025, a Índia quer dar um salto: inserir a rupia no coração dos BRICS, transformando-a em uma das moedas de referência para contratos comerciais e investimentos dentro do bloco. O objetivo é duplo:
- Reduzir dependência do dólar, alinhando-se ao discurso da desdolarização.
- Ganhar protagonismo frente à China, que hoje lidera o bloco com o avanço do yuan.
Com mais de 1,4 bilhão de habitantes e um PIB que cresce acima da média global, a Índia busca usar a rupia como ferramenta de poder diplomático e econômico.
O contra-ataque de Brasil e África do Sul
Se a proposta indiana agrada Moscou e interessa parcialmente a Pequim, ela não tem a mesma recepção em Brasília e Pretória. Tanto o Brasil quanto a África do Sul defendem que o BRICS avance em um modelo de pagamentos multimoedas, que permita aos países transacionarem em yuan, rupia, real, rand ou rublo, conforme a conveniência de cada operação.
A visão brasileira é clara: ao priorizar apenas uma moeda, o bloco corre o risco de trocar a dependência do dólar por uma nova dependência — seja ela do yuan ou da rupia. O modelo multimoedas, ao contrário, garantiria flexibilidade e equilíbrio interno, além de respeitar a diversidade das economias que compõem o BRICS.
O peso da China: o yuan como rival silencioso
No centro do debate está a China, que já avançou muito mais que a Índia no processo de internacionalização. Apenas no comércio com o Brasil, o yuan já responde por cerca de 40% das transações em 2025, sustentado pelo swap cambial de R$ 157 bilhões firmado entre os dois países.
Pequim enxerga a proposta indiana com ambivalência. De um lado, apoia qualquer iniciativa que reduza o espaço do dólar. De outro, não quer ver a rupia ganhando espaço demais dentro do BRICS, justamente quando o yuan começa a conquistar terreno. Assim, o jogo é de paciência: a China finge apoiar a Índia, mas trabalha nos bastidores para manter o yuan como a moeda dominante do bloco.
Nos Estados Unidos, a disputa é acompanhada com uma mistura de preocupação e alívio
Nos Estados Unidos, a disputa é acompanhada com uma mistura de preocupação e alívio. Preocupação porque cada avanço do BRICS em moedas alternativas representa uma ameaça ao domínio do dólar. Mas também alívio porque, enquanto os membros brigam entre si, a unidade do bloco fica fragilizada.
Analistas em Washington afirmam que o maior risco para os EUA não é o BRICS criar uma moeda única ou substituir o dólar de imediato, mas sim o fortalecimento gradual de redes paralelas de pagamentos. Se rupia e yuan avançarem lado a lado, o dólar pode perder espaço em contratos de energia, grãos e tecnologia.
O impacto no Brasil
Para o Brasil, a disputa abre oportunidades e riscos. O país depende cada vez mais da China como parceiro comercial e não pode ignorar o avanço do yuan. Ao mesmo tempo, vê na Índia um contrapeso importante dentro do BRICS, capaz de evitar que Pequim dite sozinho as regras do jogo.
O modelo multimoedas defendido por Brasília tem lógica prática: permite que exportadores e importadores escolham a moeda mais vantajosa em cada operação, reduzindo custos e diversificando riscos. Para o agronegócio, que vende bilhões em soja, carne e milho para a China e a Índia, essa flexibilidade pode significar margens mais altas e contratos mais seguros.
O futuro do BRICS Pay
A divergência sobre rupia e yuan não paralisa totalmente o bloco. Em paralelo, os BRICS avançam na criação de uma plataforma de pagamentos integrada, conhecida informalmente como BRICS Pay, que permitiria transações em moedas locais sem necessidade de dólar ou euro.
O formato final ainda é incerto. Se prevalecer a visão indiana, a rupia ganhará peso. Se prevalecer a visão chinesa, o yuan dominará. Mas se Brasil e África do Sul conseguirem impor o modelo multimoedas, o BRICS poderá se apresentar como um sistema realmente multipolar — mais próximo da narrativa de equilíbrio que o bloco tenta vender ao mundo.
O avanço da rupia dentro do BRICS em 2025 é mais do que uma questão monetária: é um teste de unidade para o bloco. A Índia joga alto para transformar sua moeda em instrumento de poder global. O Brasil e a África do Sul resistem, temendo cair em uma nova dependência. A China observa de perto, pronta para defender o espaço do yuan.
A pergunta que fica é inevitável: o BRICS está construindo um sistema financeiro multipolar ou apenas abrindo caminho para novas hegemonias internas?
De qualquer forma, o dado de 2025 é claro: o debate sobre a rupia mostrou que a batalha contra o dólar não será apenas externa. Ela também será travada dentro do próprio BRICS.