Levantamentos do SPC Brasil e da Serasa mostram que quase metade da população adulta está inadimplente, em meio a juros altos e endividamento crescente.
O Brasil acaba de registrar um marco histórico: o maior índice de inadimplência de consumidores já observado. De acordo com dados da Serasa Experian, em abril de 2025 cerca de 76,6 milhões de brasileiros estavam com dívidas atrasadas e o nome restrito em cadastros de crédito. Isso equivale a 47,1% da população em idade ativa.
O levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do SPC Brasil confirma a mesma tendência. Em maio, o número de inadimplentes foi estimado em 70,73 milhões de pessoas, ou 42,6% da população adulta. Seja pela metodologia da Serasa ou pelo levantamento da CNDL, o cenário é alarmante: quase metade do país enfrenta dificuldades para pagar suas contas.
Empresas também batem recorde de dívidas
A crise não atinge apenas famílias. Em janeiro de 2025, a Serasa revelou que 7,1 milhões de empresas brasileiras estavam inadimplentes, o maior patamar desde o início da série histórica. Esse contingente corresponde a 31,4% do total de negócios no país, com dívidas somadas em torno de R$ 155 bilhões.
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Os setores mais afetados foram comércio e serviços, que lidam diretamente com a queda do consumo e o aumento do custo do crédito. Para muitos empreendedores, manter a operação em dia se tornou um desafio diário diante da elevação das taxas de juros e da dificuldade de renegociação com fornecedores e bancos.
O peso do crédito caro
Um dos principais fatores por trás desse recorde é o custo do crédito. Apesar de uma leve redução da taxa Selic ao longo de 2024, os juros seguem em patamares elevados. O resultado é um efeito cascata: financiamentos, cartões de crédito e empréstimos pessoais ficam mais caros, tornando difícil para consumidores e empresas honrarem seus compromissos.
A inflação, embora mais controlada do que em anos anteriores, ainda corrói a renda. Com salários que não acompanham o aumento de preços, muitas famílias se veem obrigadas a escolher entre pagar contas básicas, como energia e alimentação, ou quitar parcelas de financiamentos.
Dívidas que mais pesam no bolso
Os estudos apontam que o cartão de crédito segue como o grande vilão da inadimplência. Parcelamentos de longo prazo, juros rotativos altíssimos e facilidade de acesso tornam o cartão uma armadilha para milhões de brasileiros.
Além disso, contas básicas como água, luz, telefone e internet também aparecem entre as dívidas mais atrasadas. No setor financeiro, o atraso em empréstimos e financiamentos de veículos é outro ponto de preocupação.
Impactos no consumo e na economia
O recorde de inadimplência tem reflexos diretos na economia. Famílias endividadas reduzem o consumo, comprometendo as vendas no comércio e os investimentos de empresas. Para o setor financeiro, aumenta o risco de crédito, o que dificulta ainda mais o acesso a novos empréstimos para pessoas e empresas já endividadas.
Esse ciclo vicioso trava o crescimento econômico e gera incertezas no mercado de trabalho, já que companhias em dificuldade acabam adiando contratações e novos projetos.
Caminhos para reverter o quadro
Especialistas defendem uma combinação de medidas para reverter esse quadro. Entre elas estão a educação financeira, ainda pouco difundida no país, e programas de renegociação de dívidas que ofereçam condições reais de pagamento.
Nos últimos anos, iniciativas como o Desenrola Brasil mostraram algum alívio para milhões de devedores. No entanto, o volume de dívidas novas mostra que a inadimplência não é apenas fruto de crises pontuais, mas de um modelo de crédito caro e de um sistema que sobrecarrega famílias de baixa e média renda.
Recorde de inadimplência no Brasil em 2025
O recorde de inadimplência no Brasil em 2025 escancara uma realidade dura: o país vive uma crise silenciosa no bolso de consumidores e empresas. Com mais de 76 milhões de pessoas e 7,1 milhões de negócios com dívidas em atraso, o problema já atinge quase metade da população e um terço das companhias.
Sem mudanças estruturais, como a redução do custo do crédito, o estímulo à renegociação e uma política de aumento real da renda, o Brasil continuará preso a esse ciclo de endividamento. Para milhões de brasileiros, sair da lista de inadimplentes ainda parece um desafio distante.