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Conheça os impostos invisíveis que drenam o lucro de empresas e dificultam manter um CNPJ no Brasil: ISS, PIS, COFINS, IRPJ e CSLL estão entre os principais tributos que o empreendedor deve pagar a tríade do governo.

Escrito por Paulo Nogueira
Publicado em 09/10/2025 às 16:02
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Um raio-x claro e direto sobre ISS, PIS, COFINS, IRPJ e CSLL — com dados reais, fontes oficiais e simulações
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Descubra quanto sua empresa realmente entrega ao governo — e como cada imposto afeta o seu lucro

Pouca gente percebe, mas o peso tributário das empresas brasileiras vai muito além do simples “nota fiscal + imposto”. Entre município, estado e União, cinco tributos moldam o custo de existir: ISS, PIS, COFINS, IRPJ e CSLL.

Cada um desses impostos tem lógica própria, base de cálculo e exceções específicas. Todos, juntos, determinam quanto realmente sobra de lucro no fim do mês, influenciando decisões financeiras e estratégicas.

Segundo a Receita Federal, mais de 95% das empresas brasileiras escolhem Lucro Presumido ou Simples Nacional, por serem regimes menos complexos e menos burocráticos que o Lucro Real, que exige apuração detalhada e controlada.

ISS – o imposto que depende do seu CEP

O Imposto Sobre Serviços (ISS) é municipal e incide sobre prestação de serviços listados na Lei Complementar nº 116/2003, atualizada pela LC 157/2016, que fixou alíquota mínima de 2% e máxima de 5%.

Cada município define o percentual dentro dessa faixa. Quando o serviço é exportado e o resultado ocorre fora do país, o ISS não é cobrado, conforme o artigo 2º, parágrafo único da LC 116/2003.

Isso significa que uma consultoria brasileira que presta serviços a uma empresa estrangeira pode ser isenta do ISS, desde que comprove que o resultado do trabalho foi realmente usufruído no exterior.

PIS e COFINS – a dupla federal sobre o faturamento

Essas contribuições federais incidem sobre o faturamento bruto e representam parte significativa da carga tributária. O diferencial entre elas está no regime de apuração e na possibilidade de gerar créditos tributários.

Empresas no Lucro Presumido seguem o regime cumulativo, pagando 0,65% de PIS e 3% de COFINS sobre a receita total. Já as do Lucro Real usam o regime não cumulativo, com 1,65% e 7,6%, respectivamente.

No regime não cumulativo, as empresas podem gerar créditos tributários sobre insumos, energia elétrica, aluguel e despesas operacionais. Essa compensação reduz o valor a pagar e incentiva o controle de custos.

Há ainda um detalhe relevante: receitas financeiras, como rendimentos e aplicações, sofrem tributação de 4,65% no total (0,65% de PIS + 4% de COFINS), conforme o Decreto 8.426/2015.

IRPJ – o coração do imposto sobre lucro

O Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) possui alíquota básica de 15% sobre o lucro, com adicional de 10% sobre a parcela que excede R$ 20 mil por mês ou R$ 60 mil por trimestre.

De acordo com o Regulamento do Imposto de Renda de 2018 (RIR/2018), o IRPJ pode ser apurado pelos regimes de Lucro Real, Lucro Presumido ou Lucro Arbitrado, dependendo da estrutura contábil da empresa.

O Lucro Real considera o lucro contábil ajustado por adições e exclusões legais. Já o Lucro Presumido aplica percentuais fixos sobre a receita bruta, variando de 8% a 32%, conforme a atividade.

O STJ, no Tema 1008, decidiu em 2024 que o ISS e o ICMS compõem a base de cálculo do IRPJ e da CSLL no Lucro Presumido, aumentando o valor final dos tributos.

CSLL – a “irmã” do IRPJ

A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) nasceu para financiar a seguridade social e acompanha o IRPJ quase integralmente, seguindo as mesmas bases e formas de apuração.

A alíquota padrão é de 9%, mas instituições financeiras e seguradoras pagam 15%, conforme a Receita Federal. O cálculo segue os mesmos percentuais presumidos utilizados para o IRPJ em cada regime.

No Lucro Presumido, a base presumida é de 32% da receita para serviços e 12% para comércio e indústria. Já no Lucro Real, incide diretamente sobre o lucro líquido ajustado.

Como tudo se conecta

O ISS tributa o serviço prestado, o PIS e a COFINS tributam o faturamento, enquanto o IRPJ e a CSLL incidem sobre o lucro. Juntos, formam o núcleo da carga empresarial.

A principal diferença entre Lucro Real e Lucro Presumido está em como o lucro é apurado. O primeiro considera o resultado contábil real, enquanto o segundo presume margens fixas sobre a receita.

As margens presumidas são definidas pela Lei nº 9.718/1998 e variam de 8% a 32%, conforme o setor. Já o Lucro Real permite deduzir despesas, mas exige estrutura contábil detalhada.

Cenário 1: empresa de serviços no Lucro Presumido

Imagine uma empresa de consultoria que fatura R$ 900.000 por trimestre. O município cobra 5% de ISS, o que resulta em R$ 45.000 sobre o total das notas emitidas.

O IRPJ, com base presumida de 32%, gera R$ 288.000. Aplicando 15%, chega-se a R$ 43.200, somando adicional de R$ 22.800, totalizando R$ 66.000 de imposto trimestral.

A CSLL incide também sobre R$ 288.000, com alíquota de 9%, gerando R$ 25.920. O PIS e COFINS, somados, equivalem a 3,65% sobre R$ 900.000, resultando em R$ 32.850.

O total de impostos no trimestre é de aproximadamente R$ 169.770. É importante lembrar que o ISS pago ainda integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

Cenário 2: comércio no Lucro Presumido

Uma loja que fatura R$ 1.200.000 por trimestre não paga ISS, mas deve recolher IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. As bases de cálculo seguem percentuais definidos por lei.

O IRPJ tem base de 8%, totalizando R$ 96.000. Aplicando 15%, resulta em R$ 14.400, somando adicional de R$ 3.600, alcançando R$ 18.000 no trimestre.

A CSLL usa base de 12%, totalizando R$ 144.000. Aplicando 9%, chega-se a R$ 12.960. O PIS e a COFINS, com 3,65%, representam R$ 43.800.

Somando tudo, a carga total chega a R$ 74.760 no trimestre. Esse valor ainda pode variar com incentivos, regimes monofásicos ou substituições tributárias.

Cenário 3: indústria no Lucro Real

Uma fábrica que fatura R$ 1.500.000 e tem custos de R$ 900.000 segue o regime não cumulativo para PIS e COFINS, permitindo créditos sobre os insumos adquiridos.

O débito é de R$ 138.750 e o crédito de R$ 83.250, resultando em R$ 55.500 líquidos. O lucro líquido, considerando custos e despesas, é de R$ 300.000.

O IRPJ, com 15%, gera R$ 45.000 e adicional de R$ 24.000, totalizando R$ 69.000. A CSLL de 9% adiciona R$ 27.000, somando R$ 151.500 no trimestre.

E quando o serviço é para fora do Brasil?

Nas exportações de serviços, o ISS não incide, desde que o resultado ocorra no exterior, conforme a Lei Complementar 116/2003. Isso pode reduzir bastante a carga tributária.

Mesmo assim, PIS, COFINS, IRPJ e CSLL continuam válidos, pois são tributos federais. A diferença está em como a receita é enquadrada e comprovada no balanço contábil.

Empresas de software, engenharia e design que atendem clientes estrangeiros costumam aproveitar essa isenção parcial, o que torna seus serviços mais competitivos globalmente.

O custo da complexidade

O sistema tributário brasileiro está entre os mais complexos do mundo. Segundo o Banco Mundial, as empresas gastam 1.501 horas por ano apenas para cumprir obrigações fiscais.

Essa complexidade pesa mais sobre pequenas empresas, que têm menos estrutura contábil. Sem orientação, muitas acabam pagando mais impostos do que realmente deveriam pagar.

O planejamento tributário é essencial para reduzir custos. Com simulações e controle contábil, é possível antecipar cenários e escolher o regime mais vantajoso para cada tipo de negócio.

Como os Estados Unidos cobram impostos das empresas?

Nos Estados Unidos, a lógica é o oposto. O sistema prioriza impostos diretos, principalmente o Income Tax (imposto de renda). As empresas pagam tributos com base no lucro líquido, e não sobre o faturamento.
Há o Corporate Income Tax federal, com alíquota fixa de 21% desde 2018, mais o imposto estadual sobre lucro (em média entre 4% e 10%, dependendo do estado).
O Sales Tax, equivalente ao nosso ICMS, existe, mas é bem mais simples — cobrado apenas na etapa final da venda ao consumidor. Isso elimina a cumulatividade e simplifica a contabilidade.

Veja um comparativo de cobrança de impostos das 5 maiores economias do mundo ( não leve em conta o Brasil nesta tabela):

PaísCarga Tributária (% do PIB)Estrutura PredominanteObservação Econômica
Brasil33,1%Impostos sobre consumo e faturamento (ISS, ICMS, PIS/COFINS)Alta complexidade e custo de conformidade; 1.501 horas/ano para pagar impostos (Banco Mundial)
Estados Unidos25,4%Impostos sobre renda e lucrosSistema simples, digital e previsível; foco em arrecadação direta e menor peso sobre consumo
China28,0%Impostos sobre produção e renda empresarialModelo híbrido com foco em empresas estatais; forte controle centralizado
Japão31,4%Impostos sobre renda, consumo e previdênciaSistema estável, com alto financiamento da seguridade social
Alemanha38,9%Impostos sobre renda, lucro e folha de pagamentoElevada tributação, mas compensada por forte rede de bem-estar social
Índia18,0%Impostos sobre bens e serviços (GST) e rendaSistema unificado desde 2017 (Goods and Services Tax), reduzindo burocracia e evasão

Planejar é sobreviver

Compreender os regimes e controlar o fluxo financeiro ajuda a reduzir a carga tributária. O Lucro Real permite créditos e deduções, enquanto o Lucro Presumido oferece simplicidade operacional.

Acompanhar as decisões do STJ e do STF é fundamental, pois mudanças jurídicas podem alterar as bases de cálculo e as margens de lucro de forma significativa.

Planejar, simular e acompanhar jurisprudências não é luxo. É uma estratégia de sobrevivência em um sistema tributário que muda constantemente e afeta diretamente a rentabilidade empresarial.

Fontes oficiais e legais

Receita Federal do Brasil — orientações sobre IRPJ, CSLL, PIS e COFINS. Lei Complementar nº 116/2003 e LC nº 157/2016 — regras do ISS. Leis nº 10.637/2002 e nº 10.833/2003 — PIS e COFINS não cumulativos. Lei nº 9.718/1998 — base do regime cumulativo. Decreto nº 8.426/2015 — tributação sobre receitas financeiras. RIR/2018 — Regulamento do Imposto de Renda. STJ (Tema 1008, 2024) — inclusão de ISS e ICMS no IRPJ e CSLL.

O sistema tributário brasileiro é um verdadeiro labirinto, mas entender o ISS, PIS, COFINS, IRPJ e CSLL é o primeiro passo para escapar dele. Planejar e agir com estratégia é o segredo da sobrevivência empresarial.

Você acredita que o excesso de impostos no Brasil é fruto de má gestão ou de falta de vontade política para simplificar o sistema?

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Fonte
Paulo Nogueira

Eletrotécnica formado em umas das instituições de ensino técnico do país, o Instituto Federal Fluminense - IFF ( Antigo CEFET), atuei diversos anos na áreas de petróleo e gás offshore, energia e construção. Hoje com mais de 8 mil publicações em revistas e blogs online sobre o setor de energia, o foco é prover informações em tempo real do mercado de empregabilidade do Brasil, macro e micro economia e empreendedorismo. Para dúvidas, sugestões e correções, entre em contato no e-mail informe@clickpetroleoegas.com.br. Vale lembrar que não aceitamos currículos neste contato.

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