Durante a Segunda Guerra Mundial, Henry Ford criou o ‘carro de soja’, um protótipo feito de plástico vegetal com soja, trigo e cânhamo, símbolo de inovação e sustentabilidade precoce na indústria.
No auge da Segunda Guerra Mundial, quando o aço se tornara um recurso escasso e estratégico, Henry Ford surpreendeu o mundo com uma ideia que parecia saída de um laboratório futurista: construir um carro feito de materiais vegetais, com painéis derivados de soja, trigo e cânhamo. O projeto ficou conhecido como o “Soybean Car”, ou simplesmente o carro de soja, e até hoje é lembrado como uma das invenções mais ousadas e curiosas da história automotiva.
Apresentado oficialmente em 13 de agosto de 1941, durante um evento da American Soybean Association em Dearborn, Michigan, o protótipo representava a união entre dois setores que Ford acreditava serem inseparáveis: a indústria e a agricultura. Sua visão era de que as fazendas americanas poderiam abastecer não apenas as cozinhas, mas também as fábricas.
A ideia por trás do carro de soja
Desde a década de 1930, Henry Ford vinha investindo em pesquisas com plásticos e combustíveis derivados de plantas. O magnata acreditava que os agricultores americanos poderiam ser os novos fornecedores da indústria automobilística.
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Para isso, Ford criou laboratórios dedicados ao estudo de compostos à base de soja, trigo, milho e cânhamo, com o objetivo de substituir parte do aço e de produtos químicos sintéticos usados na fabricação de automóveis.
Em 1941, essa ideia ganhou forma física no Soybean Car, um veículo experimental que, segundo a própria Ford Motor Company, pesava 30% menos que um carro de aço equivalente e possuía painéis de carroceria feitos de plástico vegetal reforçado. O chassi era de tubos de aço, mas toda a parte externa — capô, teto, portas e para-lamas — era composta por uma mistura de fibras agrícolas e resinas sintéticas desenvolvidas nos laboratórios da marca.
Um carro feito de plantas
A composição exata dos painéis nunca foi completamente documentada, mas registros do museu The Henry Ford, nos Estados Unidos, indicam que a mistura incluía soja, trigo, cânhamo, linho e outras fibras vegetais, unidas por uma base plástica de origem fenólica.
Essa combinação resultava em um material surpreendentemente leve e resistente, a ponto de o próprio Henry Ford demonstrar publicamente sua força: ele chegou a golpear a carroceria com uma marreta diante das câmeras, sem causar qualquer dano visível.
A cena, registrada em fotos e jornais da época, virou símbolo da inovação americana em tempos de guerra. O objetivo era mostrar que o carro não apenas economizava aço — essencial para tanques e aviões —, mas também oferecia resistência comparável ao metal.
Um passo à frente do seu tempo
Mais do que uma curiosidade técnica, o carro de soja representava uma filosofia. Ford defendia a ideia de uma economia circular entre fazendeiros e indústrias. Ele chegou a declarar que “o agricultor pode ser não apenas o produtor de alimentos, mas também de materiais para a indústria”. A visão era ousada, antecipando em décadas o conceito de sustentabilidade industrial que só ganharia força no século XXI.
O veículo foi construído sobre um chassi tubular leve e usava o mesmo motor V8 de 60 cavalos que equipava os modelos convencionais da época. O peso total era de aproximadamente 900 kg, o que o tornava mais econômico e ágil. Estimativas apontam que o protótipo custou cerca de US$ 25.000 em valores de 1941 — o equivalente a mais de US$ 500.000 hoje.
O fim do experimento e o legado
Poucos meses após sua apresentação, o ataque a Pearl Harbor levou os Estados Unidos a entrar definitivamente na guerra, o que desviou todos os esforços industriais para a produção bélica. O projeto do carro de soja foi interrompido, e o único protótipo construído foi desmontado e perdido com o tempo.
Mesmo assim, as pesquisas com plásticos vegetais continuaram. Os laboratórios da Ford Motor Company seguiram desenvolvendo compostos derivados de soja, e décadas mais tarde, a montadora voltaria a investir nesse conceito — hoje, partes dos painéis internos e espumas dos bancos de modelos modernos da Ford usam polímeros de soja.
Um símbolo de visão e inovação
O carro de soja de 1941 permanece como um dos capítulos mais fascinantes da história automotiva. Embora nunca tenha saído do estágio experimental, ele mostrou que a ideia de veículos sustentáveis não nasceu com os carros elétricos, mas com a mente inquieta de Henry Ford, em plena era do aço e da guerra.
Mais do que um protótipo excêntrico, o Soybean Car foi um manifesto: uma prova de que tecnologia e natureza podiam coexistir muito antes de o termo “ecológico” se tornar moda. E, 80 anos depois, o mundo finalmente começa a seguir o caminho que Ford vislumbrou em 1941.