Manifestação nacional por remuneração justa e melhores condições de trabalho causa atrasos em pedidos e levanta debate sobre precarização do trabalho por apps
Começou com buzinas, capacetes erguidos e muita indignação. A Greve dos entregadores de aplicativo chegou chegando nesta semana, paralisando o país com um barulho que não veio só dos escapamentos das motos. Veio da revolta de quem roda sol a sol e ainda se vê no aperto, ganhando cada vez menos por cada quilômetro percorrido.
A paralisação, iniciada na segunda-feira (31), seguiu com força até a terça (1º) e ainda nesta quarta-feira (2) continua provocando reflexos nos grandes centros urbanos. A Greve dos entregadores de aplicativo é o retrato de uma categoria que, cansada da “escravidão moderna”, decidiu levantar a voz.
O que motivou a Greve dos entregadores de aplicativo?
Os entregadores exigem pagamento mínimo de R$ 10 por entrega, mais R$ 2,50 por quilômetro rodado. No caso das entregas feitas de bicicleta, eles pedem um limite máximo de três quilômetros por corrida. Outro ponto que gera revolta é o agrupamento de pedidos sem a devida compensação financeira – ou seja, quando o app junta duas ou mais entregas em uma rota e o entregador não recebe a mais por isso.
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A insatisfação também se baseia no fato de que, mesmo com a alta da gasolina, do custo de vida e da manutenção das motos, os valores pagos por entrega continuam os mesmos.
Os impactos nas entregas e no dia a dia do consumidor
Com a Greve dos entregadores de aplicativo se espalhando pelo Brasil, consumidores relatam atrasos de até duas horas nos pedidos. Em várias capitais, restaurantes parceiros fecharam temporariamente a opção de entrega, e a demanda ficou represada. Nas redes sociais, choveram relatos de pedidos cancelados, pratos frios e também muito apoio aos trabalhadores.
A cidade de São Paulo foi o epicentro das manifestações. Na segunda-feira, uma motociata partiu das imediações do Pacaembu rumo à Avenida Paulista, fechando faixas e chamando a atenção com faixas, buzinas e gritos de ordem. No Rio de Janeiro, houve confronto e 12 pessoas foram presas, acusadas de tentativa de impedir outros entregadores de trabalhar.
Reação das empresas de aplicativos
A Amobitec, associação que representa empresas como iFood, Uber e 99, declarou respeitar o direito de manifestação e manter canais de diálogo com os entregadores. O iFood afirmou, em nota, que não houve impactos relevantes na operação e que 60% das entregas ainda são realizadas pelos próprios restaurantes.
Mesmo assim, a pressão é evidente. A Greve trouxe à tona a necessidade de rever o modelo de trabalho dos apps, que cresce com rapidez mas, segundo os entregadores, às custas da exploração. A discussão sobre regulamentação desse tipo de trabalho ganha força e deve seguir nos próximos meses.
Nova paralisação a caminho
Mesmo com a promessa de negociação, os entregadores afirmaram que vão manter a mobilização. Uma nova Greve dos entregadores de aplicativo está sendo planejada para o dia 2 de maio, data estratégica por ser próxima do feriado e com alta demanda de pedidos. A ideia é seguir pressionando as plataformas para que melhorem as condições e garantam remuneração justa.
Nos bastidores, fala-se em articulação com outras categorias precarizadas, como motoristas de app e trabalhadores informais, para fortalecer o movimento. A pauta é ampla, mas o foco imediato está na valorização dos entregadores, que se sentem esquecidos e sobrecarregados.
O debate público e a necessidade de regulamentação
A Greve dos entregadores de aplicativo também colocou holofotes sobre a falta de proteção social desses profissionais. Sem vínculo empregatício, eles não têm acesso a benefícios básicos como 13º salário, férias, FGTS e plano de saúde. Quando sofrem um acidente ou precisam se afastar, ficam sem amparo.
A discussão sobre a formalização do trabalho por aplicativos está na pauta do governo federal. Em 2023, o Ministério do Trabalho chegou a apresentar um esboço de regulamentação, mas a proposta enfrenta resistências das empresas e de parte dos trabalhadores, que temem perder a autonomia.
Enquanto isso, as ruas seguem sendo palco de protestos, e os aplicativos se equilibram entre a pressão popular, a manutenção da receita e a busca por soluções sustentáveis.
O que vem pela frente (Greve dos entregadores de aplicativo)
O desfecho da Greve dos entregadores de aplicativo ainda é incerto. Mas uma coisa é clara: a categoria mostrou força, organização e não pretende mais ficar em silêncio. A sociedade, os aplicativos e o governo precisarão sentar à mesa e discutir o futuro desse tipo de relação de trabalho.
Para os consumidores, fica o alerta: por trás daquele hambúrguer que chega quentinho, há uma engrenagem complexa, e quem a movimenta está, neste momento, exigindo respeito.
A Greve dos entregadores de aplicativo é, antes de tudo, um grito coletivo por dignidade.
Fonte: CNN