Startup mexicana de supermercados online anuncia fechamento repentino, deixando dúvidas sobre os motivos que levaram à decisão após recente investimento expressivo.
O mercado digital acaba de perder um importante nome: o Justo, uma rede de supermercados 100% online, anunciou o fechamento de suas operações no Brasil no último sábado (7). A startup mexicana, que iniciou sua trajetória no país em 2021, deixa o mercado após três anos de atuação, sem dar muitos detalhes sobre a decisão. O anúncio surpreendeu, especialmente porque veio apenas um mês depois de um aporte de US$ 70 milhões (cerca de R$ 420 milhões).
O que levou ao fechamento do Justo?
Embora o Brasil tenha sido um mercado estratégico para a expansão do Justo, a empresa parece estar redirecionando seus esforços para o México, onde mantém parcerias significativas, como a recente colaboração com a Amazon para entregas.
No Brasil, o Justo ganhou destaque ao oferecer produtos como hortifrúti, itens de limpeza e carnes com entregas rápidas, muitas vezes no mesmo dia. O modelo chamou atenção durante a pandemia, quando as compras online de supermercados explodiram. No entanto, a operação de um supermercado 100% digital mostrou-se um desafio complexo.
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De acordo com o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail, o mercado brasileiro é extremamente competitivo, e o varejo alimentar online enfrenta dificuldades específicas. “Operar um negócio de varejo alimentar puro online no mercado difícil como é, e competitivo como é o mercado, por exemplo, de São Paulo, é uma empreitada muito complexa”, afirma.
Logística: o grande desafio das redes de supermercados digitais
Uma das maiores barreiras para a sustentabilidade de redes de supermercados 100% digitais é a logística. Diferentemente de outros setores do varejo, o mercado alimentar exige manipulação, armazenamento e transporte específicos para diferentes tipos de produtos. Isso encarece e complica o processo de entrega rápida.
A infraestrutura logística no Brasil é cara e depende quase exclusivamente do modal rodoviário, o que aumenta os custos. Mariana Munis, professora de administração do Mackenzie Campinas, destaca que o sistema tributário do Brasil também é um obstáculo.
“Aqui a gente tributa por estado, por federação, por município, coisa que em outros mercados não ocorre. Isso torna muito complexo ter escala em um mercado 100% digital”, explica.
Crescimento das compras online e o paradoxo do mercado
Embora o fechamento de supermercado digital como o Justo seja um exemplo dos desafios enfrentados por esse modelo, o mercado de compras online de alimentos continua em expansão. Segundo o relatório Webshoppers da NielsenIQ Ebit, o setor de alimentos teve um aumento de 26,2% em 2023, com 32% dos consumidores utilizando aplicativos de entrega de supermercado pelo menos uma vez ao mês.
Esse crescimento contrasta com a dificuldade de escalar modelos exclusivamente digitais, especialmente em mercados competitivos como o brasileiro. A competição com gigantes como Carrefour, Pão de Açúcar, iFood, Rappi e Daki, que já possuem operações híbridas e estrutura mais robusta, foi um dos fatores que dificultaram a consolidação do Justo no Brasil.
A despedida do Justo e o futuro do mercado digital
O Justo, fundado em 2019 no México por Ricardo Weder e o brasileiro Ricardo Martinez, agradeceu aos consumidores brasileiros em uma publicação no Instagram. A startup trouxe inovações e mostrou que existe demanda por serviços online, mas também revelou as limitações do modelo digital puro em um país com tantos desafios estruturais.
Agora, a saída do Justo abre espaço para que os concorrentes absorvam sua clientela e fortaleçam suas operações. Redes tradicionais como Carrefour e Pão de Açúcar já possuem estruturas híbridas, enquanto plataformas como iFood e Rappi continuam expandindo seus serviços no setor de supermercados.
Reflexões sobre o modelo 100% digital
O encerramento das operações do Justo no Brasil levanta uma questão importante: será que o modelo de supermercado 100% digital é viável em mercados complexos como o brasileiro? A experiência mostra que a logística, a tributação e a infraestrutura ainda são grandes barreiras. Além disso, competir com redes consolidadas que já possuem presença física e digital torna o cenário ainda mais desafiador.
No entanto, isso não significa que o modelo digital esteja fadado ao fracasso. Pelo contrário, ele segue como uma tendência, mas talvez precise ser repensado e adaptado às condições locais. A integração com plataformas maiores e parcerias estratégicas podem ser o caminho para superar essas dificuldades.
Para os consumidores, o mercado continua cheio de opções, com empresas tradicionais e startups disputando para oferecer conveniência e eficiência.
Para os empreendedores, fica a lição de que inovar é necessário, mas entender as peculiaridades do mercado é essencial para o sucesso a longo prazo. O fechamento do Justo é um lembrete de que a tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas o mercado de varejo, especialmente o alimentício, exige mais do que inovação: ele pede resiliência e adaptação.