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GNL vs. Vaca Muerta: a batalha pelo gás que pode reduzir a conta de energia no Brasil

Escrito por Carla Teles
Publicado em 30/06/2025 às 19:25
GNL vs. Vaca Muerta a batalha pelo gás que pode reduzir a conta de energia no Brasil
GNL vs. Vaca Muerta: Descubra a batalha pelo futuro do gás no Brasil e como a aliança com a Argentina pode garantir energia mais barata e segura.
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A convergência entre a necessidade brasileira por gás para estabilizar sua matriz renovável e a urgência argentina em exportar as reservas de Vaca Muerta está redefinindo o mapa energético regional, com o Gás Natural Liquefeito (GNL) desempenhando um papel central.

Uma nova dinâmica reconfigura o mapa energético da América do Sul. De um lado, o Brasil busca uma fonte de energia flexível para garantir a estabilidade de sua matriz elétrica renovável, visando reduzir a dependência do GNL importado. Do outro, a Argentina precisa monetizar as vastas reservas de gás de Vaca Muerta. Essa convergência forja um novo eixo energético que promete fortalecer a segurança regional, mas enfrenta monumentais desafios de infraestrutura, financeiros e políticos.

O paradoxo renovável do Brasil e a oportunidade econômica da Argentina

O Brasil se destaca por uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com 88,2% vindo de fontes renováveis. No entanto, esse sucesso cria uma vulnerabilidade: a intermitência da energia eólica e solar. Para garantir a estabilidade do sistema, o gás natural tornou-se um pilar. As usinas termelétricas a gás funcionam como uma apólice de seguro, acionadas para compensar as flutuações das renováveis. Isso cria um paradoxo: quanto mais o Brasil avança na transição verde, mais estratégica se torna sua necessidade de gás, muitas vezes importado como GNL a preços voláteis.

Em contraste, a matriz energética da Argentina é 87% fóssil. O país possui a segunda maior reserva de gás de xisto do mundo em Vaca Muerta. Com a produção em crescimento exponencial, a exportação de gás é vista como uma tábua de salvação econômica para uma nação em crise fiscal crônica. A complementaridade é clara: a Argentina tem o recurso, e o Brasil tem o mercado e a necessidade.

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O Brasil como hub de GNL

Para mitigar os riscos da dependência do GNL importado e capitalizar sua posição, o Brasil está expandindo sua infraestrutura. A capacidade de regaseificação do país deve saltar mais de 50%, impulsionada por investimentos privados. Novos terminais, como os da New Fortress Energy e da Compass, somam-se a uma rede já robusta.

Essa expansão transforma o Brasil em um potencial hub regional de GNL. A infraestrutura confere flexibilidade para importar de diversos fornecedores globais, como Estados Unidos e Catar, aproveitando preços baixos. Mais importante, ela dá ao Brasil um imenso poder de barganha. Enquanto negocia um gasoduto com a Argentina, o país constrói uma alternativa baseada no mar, garantindo que não se torne dependente de uma única fonte.

Os detalhes do acordo bilateral e a vantagem competitiva nos preços

Em novembro de 2024, um Memorando de Entendimento foi firmado entre Brasil e Argentina. O acordo estabelece um caminho para o Brasil importar até 30 milhões de metros cúbicos diários de gás argentino até 2030, um volume comparável ao pico do fornecimento boliviano no passado.

O principal atrativo é o preço. Estima-se que o gás de Vaca Muerta chegue à fronteira brasileira custando entre US$ 7 e US$ 9,2 por MMBtu. Esse valor é significativamente inferior ao do GNL internacional em períodos de alta e ao do gás doméstico vendido pela Petrobras, que já atingiu patamares de US$ 14 a US$ 17 por MMBtu. A disponibilidade de um gás mais barato pressiona pela redução de custos de transporte dentro do Brasil, acelerando a reforma do setor.

Infraestrutura, financiamento e a controvérsia ambiental

A concretização do acordo depende da superação de enormes barreiras. A rota mais rápida para o gás chegar ao Brasil envolve a reversão de gasodutos na Argentina e o uso da capacidade ociosa do Gasbol, passando pela Bolívia. Embora viável, essa opção cria dependência de um terceiro país e tem capacidade limitada. Uma alternativa de longo prazo é um gasoduto direto ligando Uruguaiana a Porto Alegre, um projeto que exige investimentos bilionários.

O financiamento é outro obstáculo. A Argentina busca apoio do BNDES, mas a proposta é politicamente controversa no Brasil devido ao risco econômico argentino. Além disso, o projeto enfrenta forte oposição ambiental. O gás de Vaca Muerta é extraído por fraturamento hidráulico (fracking), um método proibido em alguns estados brasileiros por seus impactos, como o alto consumo de água e o risco de contaminação. Isso cria uma contradição para o Brasil, que se posiciona como líder da agenda climática.

Cenários de GNL e o teste para a Integração Sul-Americana

O futuro desta integração energética pode seguir três caminhos. Um cenário de “Integração Plena” veria a superação dos desafios, resultando em um mercado de gás sul-americano líquido e competitivo. Um cenário mais provável de “Avanço Parcial” teria a rota via Bolívia como principal elo, mas com um fornecimento menos confiável. Por fim, um “Colapso da Integração” forçaria o Brasil a depender exclusivamente do mercado global de GNL.

O eixo Brasil-Vaca Muerta é um teste decisivo. Ele representa uma mudança para uma integração regional baseada na lógica de mercado e na complementaridade econômica. O sucesso ou o fracasso do projeto não apenas definirá o futuro energético de Brasil e Argentina, mas também o potencial para uma cooperação pragmática em todo o continente.

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Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: carlatdl016@gmail.com

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