Em Curitiba, loja do Grupo Muffato permite que clientes peguem produtos e saiam sem passar pelo caixa, com cobrança automática via aplicativo.
A paisagem do varejo na América Latina mudou com a inauguração do Muffato Go, o primeiro supermercado autônomo da região. Lançada pelo Grupo Muffato em Curitiba, Paraná, em novembro de 2022, a loja promete o fim das filas através de uma experiência de compra totalmente tecnológica. Com um investimento de R$ 10 milhões, o projeto permite que os clientes simplesmente peguem os produtos que desejam e saiam, com a cobrança sendo feita de forma automática em seu cartão de crédito.
Uma experiência de compra revolucionária
A jornada do cliente no Muffato Go é desenhada para ser simples e intuitiva. O processo começa com o download do aplicativo da loja. Nele, o consumidor faz um cadastro rápido e associa um cartão de crédito à sua conta.
Para entrar na loja, o aplicativo gera um código QR único. Este código é escaneado em catracas na entrada, liberando o acesso. Uma vez dentro, o cliente pode selecionar os produtos que deseja diretamente das prateleiras e colocá-los em sua sacola. Ao terminar, não há necessidade de passar por um caixa. Basta sair da loja. A cobrança é processada automaticamente no cartão registrado, e o recibo é enviado digitalmente.
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A loja possui 250 metros quadrados e um mix de aproximadamente 2.000 itens, focada em compras rápidas e de conveniência. O projeto incluiu até um hall de entrada para que os clientes possam baixar o aplicativo com calma, usando o Wi-Fi do local.
A tecnologia por trás da inovação
A experiência “pegue e leve” é possível graças a uma complexa aliança tecnológica. O cérebro da operação é a plataforma da startup portuguesa Sensei. Ela utiliza uma combinação de inteligência artificial (IA), visão computacional e uma rede de sensores.
Câmeras instaladas no teto rastreiam os movimentos dos clientes de forma anônima. Elas não usam reconhecimento facial, mas identificam os consumidores por seu percurso e vestimentas. Ao mesmo tempo, sensores de peso nas prateleiras detectam a retirada ou devolução de cada produto.
Os algoritmos de IA processam esses dados em tempo real. Eles criam um “carrinho de compras virtual” para cada pessoa na loja. A fusão desses dados garante que a cobrança seja precisa. O projeto envolveu um ecossistema de parceiros, incluindo a Renovretail para integração de sistemas e a Elgin para as etiquetas eletrônicas de preço.
Mais que um supermercado, um laboratório de dados
A decisão do Grupo Muffato de lançar um supermercado autônomo é um movimento estratégico ousado. O objetivo não é apenas eliminar filas, mas posicionar a marca como líder de inovação no mercado. Essa ação força os concorrentes a reavaliarem seus próprios planos de tecnologia.
Embora a conveniência seja o principal atrativo para o cliente, o ativo mais valioso a longo prazo são os dados. A tecnologia oferece uma visibilidade sem precedentes sobre o comportamento do consumidor. O sistema registra não apenas o que é comprado, mas todo o processo de decisão: o que foi pego, observado e devolvido à prateleira.
Esses dados permitem otimizar o estoque, os planogramas e criar promoções personalizadas. O Muffato Go funciona como um laboratório em tempo real para entender a jornada de compra do consumidor.
Micromercados e a cautela de outros gigantes
O Muffato Go não está sozinho no campo da automação. Muito antes, a Zaitt já operava como um mercado 100% autônomo, mas recentemente mudou seu foco para se tornar uma empresa que vende sua tecnologia para terceiros.
Enquanto isso, uma “terceira vaga” de varejo autônomo cresce de forma explosiva: os micromercados em condomínios e escritórios. Empresas como a market4u já possuem milhares de lojas e mostram que a hiperconveniência, mesmo com tecnologia menos sofisticada, tem uma demanda massiva.
Em contraponto, gigantes como o Grupo Pão de Açúcar (GPA) adotam uma postura mais cautelosa. Em 2019, o GPA testou um sistema de “scan-and-go” internamente com seus colaboradores, mas não avançou para um lançamento em larga escala, demonstrando uma abordagem mais conservadora à disrupção.
O futuro do emprego e a privacidade do consumidor
A automação no varejo gera debates importantes sobre seu impacto social. A tecnologia promete liberar os funcionários de tarefas repetitivas, como operar um caixa. Com isso, eles podem se concentrar em funções de maior valor, como auxiliar clientes e atuar como consultores de vendas. Isso, no entanto, exige um grande esforço de requalificação da força de trabalho.
Outro ponto crucial é a privacidade. A coleta detalhada de dados sobre o comportamento dos consumidores levanta preocupações. Para garantir a confiança, empresas como o Muffato precisam seguir rigorosamente a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e adotar medidas robustas de cibersegurança, como a tokenização de dados de pagamento, para proteger as informações de seus clientes.