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Ganges em colapso: rio que abastece 650 milhões de pessoas seca em ritmo recorde, perde geleiras no Himalaia e sofre com mais de mil barragens que alteraram seu curso natural

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 05/10/2025 às 14:47
Seca, barragens e recuo das geleiras colocam o Ganges em colapso, comprometendo o abastecimento de 650 milhões de pessoas no Sul da Ásia.
Seca, barragens e recuo das geleiras colocam o Ganges em colapso, comprometendo o abastecimento de 650 milhões de pessoas no Sul da Ásia.
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Com vazões em queda recorde e geleiras desaparecendo, o Ganges enfrenta uma crise hídrica sem precedentes que ameaça agricultura, cidades e ecossistemas.

O Rio Ganges, considerado uma das maiores fontes de vida do planeta, enfrenta um processo de esgotamento alarmante. Nascido nas geleiras do Himalaia e desaguando na Baía de Bengala, o curso d’água que por séculos alimentou civilizações e impulsionou economias está sofrendo com o declínio de suas vazões a níveis sem precedentes.

A mudança ameaça diretamente a segurança alimentar, o abastecimento urbano e a sobrevivência de ecossistemas em todo o Sul da Ásia.

Segundo análise publicada no The Conversation, o Ganges sustenta mais de 650 milhões de pessoas em uma região densamente povoada e com forte dependência agrícola.

O rio garante a irrigação de campos, o fornecimento de água para indústrias e o consumo das cidades. No entanto, cientistas alertam que o fluxo está diminuindo de forma acelerada, impulsionado por fatores climáticos e humanos.

Geleiras do Himalaia e o derretimento acelerado

Os especialistas destacam que o recuo das geleiras do Himalaia, em especial a Gangotri — principal fonte do Ganges —, é um dos principais motores da crise.

Essa geleira perdeu quase um quilômetro de comprimento nas últimas duas décadas, reduzindo drasticamente o volume de água liberado de forma constante. O resultado é paradoxal: durante o degelo, há inundações repentinas; fora desse período, o rio enfrenta secas prolongadas.

Com isso, vários trechos do Ganges já não permitem mais a navegação regular, e a irrigação de plantações se torna irregular.

As comunidades agrícolas que dependem do rio veem seus ciclos de produção comprometidos, com impactos diretos na renda e na segurança alimentar da região.

Monções imprevisíveis e períodos de seca severa

O estudo aponta que as monções — antes previsíveis e regulares — tornaram-se altamente variáveis. Essa instabilidade traz períodos de seca fora do padrão histórico.

Cidades e vilas situadas nas margens do rio enfrentam longos intervalos sem chuva e uma oferta de água cada vez mais limitada.

A mudança do regime de chuvas reforça o estresse hídrico e agrava a desigualdade entre as regiões que ainda recebem precipitações abundantes e aquelas que secam por completo.

Intervenções humanas e o peso das barragens

Outro ponto crítico destacado no relatório é o papel da intervenção humana. A expansão agrícola, a intensificação industrial e a construção de mais de mil barragens e reservatórios alteraram profundamente o fluxo natural do Ganges.

Essas estruturas reduzem a quantidade de água que chega às áreas mais baixas, impedindo a recuperação do rio durante as estações de recarga.

De acordo com o artigo, essas obras, somadas à retirada maciça de água para irrigação e abastecimento urbano, provocam desequilíbrios ecológicos e reduzem a capacidade do sistema fluvial de se autorregular.

Esgotamento das águas subterrâneas

O uso excessivo das águas subterrâneas agrava ainda mais o quadro. A Bacia do Ganges-Brahmaputra tem uma das maiores taxas de esgotamento de aquíferos do planeta, com quedas anuais entre 15 e 20 milímetros. A perfuração profunda e o bombeamento intenso, motivados pela necessidade agrícola e urbana, comprometem a recarga natural dos lençóis freáticos.

O estudo também alerta para a contaminação dos aquíferos por metais pesados como arsênio e flúor. Essa poluição traz riscos à saúde humana e reduz a qualidade da água utilizada nas plantações, com prejuízos à produtividade agrícola e à segurança alimentar.

Impactos além das fronteiras

A crise do Ganges não se limita à Índia. Segundo o The Conversation, a falta de acordos internacionais eficazes agrava a situação em países vizinhos como Bangladesh e Nepal. A Barragem de Farakka, localizada na Índia, reduz drasticamente o volume de água que chega a Bangladesh durante a estação seca, provocando aumento da salinização do solo no delta e afetando ecossistemas como os Sundarbans — a maior floresta de manguezais do mundo.

Pequenas comunidades rurais nas zonas fronteiriças sofrem com a escassez. Muitos afluentes menores já secaram completamente durante parte do ano, e poços tradicionais passaram a fornecer volumes mínimos de água. Para os pesquisadores, esses sinais indicam o colapso progressivo de todo o sistema fluvial caso medidas urgentes não sejam implementadas.

Necessidade de ação coordenada e imediata

Os especialistas afirmam que a magnitude da crise exige uma resposta coordenada em múltiplos níveis.

Entre as medidas recomendadas estão a redução da extração de águas subterrâneas, a definição de vazões ecológicas mínimas para garantir a sobrevivência da fauna aquática e a melhoria dos modelos climáticos, de modo que possam integrar variáveis humanas e meteorológicas.

Além disso, o estudo destaca que somente uma cooperação transfronteiriça efetiva entre Índia, Bangladesh e Nepal poderá enfrentar o desafio de forma duradoura.

Isso envolve o compartilhamento de dados, a gestão integrada de barragens e o planejamento climático conjunto, com participação de governos, comunidades locais, cientistas e organismos internacionais.

Um símbolo espiritual em risco

Mais do que uma fonte de água, o Ganges tem valor espiritual e cultural profundo para milhões de pessoas. Suas margens abrigam rituais, tradições e formas de vida milenares.

Entretanto, as mudanças em seu regime hídrico colocam em risco não apenas a biodiversidade e a sustentabilidade regional, mas também o patrimônio simbólico que o rio representa.

A análise conclui que o esgotamento do Ganges é uma emergência global. A continuidade dessa tendência ameaça a estabilidade social e econômica do Sul da Ásia e pode tornar irreversíveis os danos ambientais.

Segundo o relatório, apenas uma ação conjunta, estratégica e sustentada — com vontade política e cooperação internacional — poderá evitar o colapso de um dos sistemas fluviais mais emblemáticos e essenciais do planeta.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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