Desde 1958, a França adotou uma postura estratégica de independência nuclear, garantindo que sua segurança não dependesse dos Estados Unidos ou da OTAN. Hoje, diante das crescentes ameaças e da incerteza sobre o compromisso americano com a defesa europeia, o país reavalia seu papel e discute expandir seu escudo nuclear para aliados do continente.
O presidente da França, Emmanuel Macron, sugeriu recentemente a possibilidade de integrar a dissuasão nuclear francesa à segurança da Europa.
A ideia gerou debates acalorados, mas também trouxe uma nova perspectiva para países como Alemanha e Polônia, que antes confiavam exclusivamente na proteção dos EUA.
O plano nuclear da França começou em 1958 com Charles de Gaulle
A política nuclear independente da França começou com o general Charles de Gaulle, que acreditava que a segurança do país não poderia depender completamente dos EUA e da OTAN. Ele argumentava que, apesar da aliança com Washington, os interesses americanos nem sempre coincidiam com os da Europa.
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Assim, a França investiu no desenvolvimento de ogivas nucleares próprias, criando uma capacidade de defesa soberana. Diferente do Reino Unido, que mantém sua dissuasão nuclear com tecnologia americana, a França controla totalmente seu arsenal, sem depender de ninguém.
Hoje, com 300 ogivas nucleares, a França se tornou uma das principais potências militares do mundo, capaz de lançar ataques estratégicos tanto por meio de aeronaves quanto de submarinos nucleares.
Macron propõe expandir o escudo nuclear francês para a Europa
Diante do novo cenário global, Emmanuel Macron trouxe à tona um debate delicado: a França poderia proteger outros países europeus com seu escudo nuclear?
O governo francês esclareceu que não se trata de compartilhar armas nucleares, mas sim de avaliar como a proteção da França poderia ser estendida a aliados europeus. Isso significaria:
- Patrulhamento de bombardeiros nucleares franceses sobre países aliados.
- Estacionamento de caças nucleares em bases de outros países europeus.
- Acordos de defesa para um possível uso do arsenal em caso de ameaças.
Essa proposta, no entanto, encontra resistência política dentro da própria França. Setores da extrema direita e extrema esquerda criticam a ideia, argumentando que o país deve manter sua dissuasão apenas para a defesa nacional.
A crescente incerteza sobre o apoio dos EUA fortalece a ideia
Até pouco tempo, a maioria dos países europeus não considerava a opção francesa, pois confiavam no guarda-chuva nuclear dos EUA e da OTAN. No entanto, essa visão começou a mudar com a política de Donald Trump, que, durante seu governo, ameaçou reduzir o apoio militar à Europa.
Diante dessa incerteza, Alemanha e Polônia passaram a considerar a proteção nuclear francesa como uma alternativa viável. O chanceler alemão Friedrich Merz surpreendeu aliados ao sugerir um diálogo com a França e o Reino Unido para fortalecer a dissuasão nuclear europeia.
Essa mudança na percepção de segurança indica que a Europa pode estar se movendo para um novo modelo de defesa, menos dependente dos Estados Unidos.
Rússia, Reino Unido e o equilíbrio de poder nuclear na Europa
Mesmo que a França e o Reino Unido combinassem suas forças nucleares, somando 550 ogivas, esse número ainda seria muito menor que o arsenal da Rússia, que possui cerca de 6.000 ogivas (embora a maioria esteja em reserva).
Apesar da diferença numérica, especialistas afirmam que a dissuasão nuclear não depende apenas da quantidade de armas, mas sim da capacidade de uma resposta rápida e eficaz. A França, por exemplo, possui mísseis M51 instalados em submarinos nucleares, capazes de atingir Moscou e outras cidades russas.
Ainda assim, há um grande desafio estratégico:
- A Rússia, devido ao seu tamanho geográfico, poderia resistir a um conflito nuclear prolongado.
- A França, por outro lado, não tem essa vantagem, tornando sua defesa baseada na capacidade de um contra-ataque imediato.
Com isso, a principal dúvida é se a França deveria alterar sua doutrina nuclear para deixar claro que protegeria outros países da União Europeia. Alguns analistas acreditam que manter a ambiguidade faz parte da estratégia de dissuasão, enquanto outros defendem que um compromisso explícito traria mais segurança aos aliados.