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Como o Flamengo deixou as dívidas para trás e virou potência econômica com R$ 1,334 bi em 2024

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 21/08/2025 às 11:28
Como o Flamengo
Foto: Reprodução
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Evolução mostra como o clube saiu de dívidas milionárias em 2012 para se tornar referência em faturamento no futebol brasileiro

Como o Flamengo se tornou um clube de futebol tão bem financeiramente? Essa pergunta circula nas arquibancadas, nos bares e até entre torcedores rivais.

Para responder, é preciso olhar para um processo de transformação que começou há mais de uma década.

O clube reduziu dívidas pesadas, aumentou receitas e conseguiu construir uma base financeira sólida que hoje sustenta investimentos bilionários. A seguir, a trajetória em detalhes de como o Flamengo se tornou um exemplo econômico.

A virada com Eduardo Bandeira de Mello

No fim de 2012, Eduardo Bandeira de Mello assumiu a presidência com uma missão clara: organizar as contas.

O clube acumulava uma dívida de R$ 737 milhões, sendo R$ 400 milhões de encargos fiscais.

Não havia credibilidade para negociar com bancos, fornecedores ou grandes atletas.

O objetivo inicial foi simples: pagar dívidas e aumentar receitas.

Em 2013, o Flamengo já mostrou sinais de recuperação. A dívida caiu para R$ 667 milhões e o faturamento subiu para R$ 267 milhões.

No ano seguinte, a receita chegou a R$ 342 milhões e, em 2015, atingiu R$ 350 milhões, com a dívida reduzida para R$ 554 milhões.

O salto mais simbólico ocorreu em 2016, quando o faturamento (R$ 490 milhões) superou a dívida (R$ 472 milhões) pela primeira vez em décadas.

2013-2015: austeridade e foco no endividamento

Entre 2013 e 2015, a prioridade foi o pagamento das dívidas. A aprovação do Profut foi decisiva.

O programa alongou cerca de R$ 300 milhões de dívidas fiscais em 20 anos, dando fôlego ao caixa. Bandeira se envolveu pessoalmente nas negociações em Brasília e classificou o acordo como uma vitória.

Nesse período, o elenco era mais barato, mas ainda competitivo.

O título da Copa do Brasil de 2013 reforçou a confiança no trabalho. A arrecadação com a torcida também cresceu.

O programa “Nação Rubro-Negra”, lançado em 2013, transformou torcedores em fonte estável de receita. O valor arrecadado saltou de R$ 25 milhões, em 2012, para R$ 83 milhões no ano seguinte.

Outro destaque foi o avanço no marketing.

Em 2014 e 2015, o Flamengo arrecadou mais de R$ 115 milhões com a área comercial, reduzindo a dependência da televisão.

Em 2015, apenas 37% das receitas vieram das cotas de TV, contra 55% em 2012.

2016-2018: reforços sem loucura financeira

Com a reeleição de Bandeira, a estratégia mudou.

O clube, agora mais organizado, começou a investir em grandes contratações.

Diego chegou em 2016. Everton Ribeiro foi contratado em 2017. Vitinho desembarcou em 2018. O clube só se permitiu essas movimentações porque já havia capacidade financeira para tal.

Entre 2016 e 2018, o Flamengo arrecadou R$ 718 milhões com televisão e outros R$ 217 milhões com vendas de atletas. A transferência de Vinicius Jr para o Real Madrid, em 2017, rendeu 45 milhões de euros.

Ao mesmo tempo, as dívidas diminuíam. Em 2018, o total caiu para R$ 455 milhões. A dívida bancária, que havia chegado a R$ 162 milhões em 2015, reduziu para somente R$ 25 milhões.

Os débitos trabalhistas também caíram: de R$ 193 milhões em 2012 para R$ 60 milhões em 2018.

O número de ações na Justiça do Trabalho despencou porque o clube passou a cumprir obrigações rescisórias e fazer acordos.

2019: agressividade no mercado e títulos

Com a eleição de Rodolfo Landim, em 2019, a promessa foi ousada: montar um time imbatível. Foram nove contratações, incluindo Gabigol, Arrascaeta, Gerson, Bruno Henrique e Filipe Luís. A negociação por Arrascaeta, por exemplo, virou a maior da história do futebol brasileiro, custando cerca de 15 milhões de euros.

O resultado em campo foi imediato. O Flamengo conquistou a Libertadores, o Campeonato Brasileiro e o Carioca no mesmo ano. A estratégia de gastar mais trouxe retorno esportivo e financeiro.

Em 2019, mesmo com dívida de R$ 574 milhões, o faturamento chegou a R$ 652 milhões. Somente com vendas de jogadores, foram R$ 295 milhões arrecadados.

O crescimento contínuo e a nova realidade

A década seguinte consolidou a posição do Flamengo como potência financeira.

O clube conseguiu faturar mais de R$ 1 bilhão em quatro anos seguidos. A receita recorrente passou a ser superior a R$ 1,2 bilhão, patamar inédito para uma equipe brasileira.

Essa força veio da diversificação das receitas. Além das cotas de televisão e da venda de atletas, o clube se apoiou no programa de sócios-torcedores, no marketing e nos patrocínios.

A capacidade de crédito também cresceu, o que permitiu investimentos em contratações de impacto.

O balanço de 2024

O ano de 2024 trouxe novos recordes e também novos desafios. O Flamengo divulgou uma receita bruta de R$ 1,334 bilhão, a maior da série histórica.

Porém, a dívida operacional líquida aumentou para R$ 327 milhões, e o clube registrou déficit de R$ 734 mil.

O aumento da dívida está ligado a dois fatores: os investimentos no elenco e a compra do terreno do Gasômetro, onde o Flamengo pretende erguer seu estádio próprio.

Apenas com contratações de jogadores, os gastos chegaram a R$ 415 milhões, o maior valor desde 2019.

O balanço detalha ainda outros números: a receita recorrente ficou em R$ 1,227 bilhão, o Ebitda em R$ 271 milhões e os custos e despesas operacionais em R$ 935 milhões.

Além disso, o clube terminou o exercício com capital circulante negativo de R$ 182 milhões, reflexo da redução no caixa e do aumento das obrigações de curto prazo.

Um equilíbrio delicado

Portanto, a trajetória do Flamengo mostra como um clube pode se transformar com planejamento e disciplina financeira.

O Rubro-Negro saiu de uma dívida sufocante em 2012 para um faturamento bilionário em 2024.

O desafio agora é equilibrar investimentos altos em atletas com a manutenção de contas saudáveis.

O próprio Bandeira de Mello, responsável pelo início da virada, resumiu a situação ao afirmar que tudo foi conquistado sem mecenas e sem atalhos.

O Flamengo alcançou esse patamar com geração própria de receita, o que reforça a dimensão do esforço.

A história recente mostra que a torcida, os patrocínios, o marketing e a boa gestão foram pilares desse processo.

O clube que já foi visto como devedor e sem credibilidade hoje negocia no mesmo nível de gigantes mundiais.

O futuro, porém, dependerá da capacidade de manter a disciplina enquanto sonha ainda mais alto.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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