Evolução mostra como o clube saiu de dívidas milionárias em 2012 para se tornar referência em faturamento no futebol brasileiro
Como o Flamengo se tornou um clube de futebol tão bem financeiramente? Essa pergunta circula nas arquibancadas, nos bares e até entre torcedores rivais.
Para responder, é preciso olhar para um processo de transformação que começou há mais de uma década.
O clube reduziu dívidas pesadas, aumentou receitas e conseguiu construir uma base financeira sólida que hoje sustenta investimentos bilionários. A seguir, a trajetória em detalhes de como o Flamengo se tornou um exemplo econômico.
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A virada com Eduardo Bandeira de Mello
No fim de 2012, Eduardo Bandeira de Mello assumiu a presidência com uma missão clara: organizar as contas.
O clube acumulava uma dívida de R$ 737 milhões, sendo R$ 400 milhões de encargos fiscais.
Não havia credibilidade para negociar com bancos, fornecedores ou grandes atletas.
O objetivo inicial foi simples: pagar dívidas e aumentar receitas.
Em 2013, o Flamengo já mostrou sinais de recuperação. A dívida caiu para R$ 667 milhões e o faturamento subiu para R$ 267 milhões.
No ano seguinte, a receita chegou a R$ 342 milhões e, em 2015, atingiu R$ 350 milhões, com a dívida reduzida para R$ 554 milhões.
O salto mais simbólico ocorreu em 2016, quando o faturamento (R$ 490 milhões) superou a dívida (R$ 472 milhões) pela primeira vez em décadas.
2013-2015: austeridade e foco no endividamento
Entre 2013 e 2015, a prioridade foi o pagamento das dívidas. A aprovação do Profut foi decisiva.
O programa alongou cerca de R$ 300 milhões de dívidas fiscais em 20 anos, dando fôlego ao caixa. Bandeira se envolveu pessoalmente nas negociações em Brasília e classificou o acordo como uma vitória.
Nesse período, o elenco era mais barato, mas ainda competitivo.
O título da Copa do Brasil de 2013 reforçou a confiança no trabalho. A arrecadação com a torcida também cresceu.
O programa “Nação Rubro-Negra”, lançado em 2013, transformou torcedores em fonte estável de receita. O valor arrecadado saltou de R$ 25 milhões, em 2012, para R$ 83 milhões no ano seguinte.
Outro destaque foi o avanço no marketing.
Em 2014 e 2015, o Flamengo arrecadou mais de R$ 115 milhões com a área comercial, reduzindo a dependência da televisão.
Em 2015, apenas 37% das receitas vieram das cotas de TV, contra 55% em 2012.
2016-2018: reforços sem loucura financeira
Com a reeleição de Bandeira, a estratégia mudou.
O clube, agora mais organizado, começou a investir em grandes contratações.
Diego chegou em 2016. Everton Ribeiro foi contratado em 2017. Vitinho desembarcou em 2018. O clube só se permitiu essas movimentações porque já havia capacidade financeira para tal.
Entre 2016 e 2018, o Flamengo arrecadou R$ 718 milhões com televisão e outros R$ 217 milhões com vendas de atletas. A transferência de Vinicius Jr para o Real Madrid, em 2017, rendeu 45 milhões de euros.
Ao mesmo tempo, as dívidas diminuíam. Em 2018, o total caiu para R$ 455 milhões. A dívida bancária, que havia chegado a R$ 162 milhões em 2015, reduziu para somente R$ 25 milhões.
Os débitos trabalhistas também caíram: de R$ 193 milhões em 2012 para R$ 60 milhões em 2018.
O número de ações na Justiça do Trabalho despencou porque o clube passou a cumprir obrigações rescisórias e fazer acordos.
2019: agressividade no mercado e títulos
Com a eleição de Rodolfo Landim, em 2019, a promessa foi ousada: montar um time imbatível. Foram nove contratações, incluindo Gabigol, Arrascaeta, Gerson, Bruno Henrique e Filipe Luís. A negociação por Arrascaeta, por exemplo, virou a maior da história do futebol brasileiro, custando cerca de 15 milhões de euros.
O resultado em campo foi imediato. O Flamengo conquistou a Libertadores, o Campeonato Brasileiro e o Carioca no mesmo ano. A estratégia de gastar mais trouxe retorno esportivo e financeiro.
Em 2019, mesmo com dívida de R$ 574 milhões, o faturamento chegou a R$ 652 milhões. Somente com vendas de jogadores, foram R$ 295 milhões arrecadados.
O crescimento contínuo e a nova realidade
A década seguinte consolidou a posição do Flamengo como potência financeira.
O clube conseguiu faturar mais de R$ 1 bilhão em quatro anos seguidos. A receita recorrente passou a ser superior a R$ 1,2 bilhão, patamar inédito para uma equipe brasileira.
Essa força veio da diversificação das receitas. Além das cotas de televisão e da venda de atletas, o clube se apoiou no programa de sócios-torcedores, no marketing e nos patrocínios.
A capacidade de crédito também cresceu, o que permitiu investimentos em contratações de impacto.
O balanço de 2024
O ano de 2024 trouxe novos recordes e também novos desafios. O Flamengo divulgou uma receita bruta de R$ 1,334 bilhão, a maior da série histórica.
Porém, a dívida operacional líquida aumentou para R$ 327 milhões, e o clube registrou déficit de R$ 734 mil.
O aumento da dívida está ligado a dois fatores: os investimentos no elenco e a compra do terreno do Gasômetro, onde o Flamengo pretende erguer seu estádio próprio.
Apenas com contratações de jogadores, os gastos chegaram a R$ 415 milhões, o maior valor desde 2019.
O balanço detalha ainda outros números: a receita recorrente ficou em R$ 1,227 bilhão, o Ebitda em R$ 271 milhões e os custos e despesas operacionais em R$ 935 milhões.
Além disso, o clube terminou o exercício com capital circulante negativo de R$ 182 milhões, reflexo da redução no caixa e do aumento das obrigações de curto prazo.
Um equilíbrio delicado
Portanto, a trajetória do Flamengo mostra como um clube pode se transformar com planejamento e disciplina financeira.
O Rubro-Negro saiu de uma dívida sufocante em 2012 para um faturamento bilionário em 2024.
O desafio agora é equilibrar investimentos altos em atletas com a manutenção de contas saudáveis.
O próprio Bandeira de Mello, responsável pelo início da virada, resumiu a situação ao afirmar que tudo foi conquistado sem mecenas e sem atalhos.
O Flamengo alcançou esse patamar com geração própria de receita, o que reforça a dimensão do esforço.
A história recente mostra que a torcida, os patrocínios, o marketing e a boa gestão foram pilares desse processo.
O clube que já foi visto como devedor e sem credibilidade hoje negocia no mesmo nível de gigantes mundiais.
O futuro, porém, dependerá da capacidade de manter a disciplina enquanto sonha ainda mais alto.