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FIM DO DÓLAR? O plano ousado de Putin para derrotar a moeda dos Estados Unidos — O presidente da Rússia espera que a cúpula dos BRICS desencadeie um grande estrondo que viole as sanções!

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 22/10/2024 às 20:08
Dólar, presidente da Rússia, Putin, BRICS
FOTO: TASS

O plano de Putin para enfraquecer o dólar envolve um movimento estratégico durante a cúpula dos BRICS. Descubra como essa estratégia pode violar as sanções impostas e o impacto que pode causar na economia global!

Vladimir Putin, o presidente da Rússia, esta pousando para fotos com os líderes de aproximadamente 24 países, incluindo figuras de grande importância geopolítica mundial como Narendra Modi, da Índia, e Xi Jinping, da China. Um dos objetivos do encontro dos BRICS é claro: diminuir a dependência do Dólar.

O evento ocorre durante a cúpula do BRICS, sediada em Kazan, nas margens do rio Volga. Este evento marca um ponto de inflexão não apenas para o bloco, que no ano anterior expandiu seu número de membros de cinco para dez, mas também para Putin, que teve que evitar comparecer à cúpula em Johannesburgo devido a um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia.

Diferentemente do evento passado, desta vez Putin, presidente da Rússia, estará presente e buscará exercer um papel de liderança, enquanto o BRICS tenta consolidar-se como uma aliança capaz de desafiar a hegemonia ocidental no cenário global.

Esse bloco, que inicialmente uniu Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, vem enfrentando desafios significativos ao longo de seus 15 anos de existência.

No entanto, com a expansão para incluir mais membros, como Egito e Irã, Putin acredita que o BRICS pode, finalmente, ganhar o peso necessário para remodelar a ordem econômica mundial.

BRICS Bridge: A nova estratégia de pagamentos globais e o fim da dependência ao Dólar

Dólar, presidente da Rússia, Putin, BRICS
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, e o presidente russo – Foto: Tass

Um dos principais temas desta cúpula será o avanço da proposta de um sistema financeiro global alternativo ao Dólar. Esse sistema, batizado de BRICS Bridge, tem como objetivo permitir que seus membros conduzam operações econômicas sem depender do dólar ou do euro, moedas tradicionalmente controladas pelas potências ocidentais.

De acordo com Sergei Lavrov, Ministro das Relações Exteriores da Rússia, esse sistema permitiria que as economias do bloco realizassem transações sem estarem sujeitas às sanções impostas pelos Estados Unidos ou seus aliados europeus.

A ideia do BRICS Bridge gira em torno de plataformas digitais administradas pelos bancos centrais dos países membros. Esse sistema de pagamentos digitais visa contornar as redes financeiras atuais, que são amplamente dominadas pelo Ocidente, em especial pelos Estados Unidos. A proposta é que esse novo sistema esteja plenamente operacional dentro de um ano.

Dólar, presidente da Rússia, Putin, BRICS
O presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e o presidente russo Vladimir Putin – Foto: TASS

A centralidade do Dólar e o domínio financeiro dos EUA

Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos emergiram como a maior potência econômica e militar global, consolidando o dólar como a moeda de referência para as transações internacionais.

Essa centralidade financeira americana permitiu ao país exercer um controle significativo sobre as transações globais.

Quase 60% das reservas globais de moeda estrangeira ainda estão denominadas em dólares, um reflexo tanto da estabilidade do sistema financeiro americano quanto da confiança dos investidores no dólar como reserva segura contra a inflação e a expropriação.

O domínio do dólar também permitiu que os Estados Unidos criassem uma rede complexa de sistemas de pagamento interconectados, colocando os bancos americanos no centro do comércio global.

A analogia mais comum para explicar esse sistema é compará-lo a voos internacionais: se dois aeroportos não têm uma conexão direta, os passageiros precisam fazer uma escala em um grande hub de conexões.

No caso das finanças globais, esse hub é os Estados Unidos, onde bancos ao redor do mundo convertem moedas estrangeiras em dólares para que possam ser utilizadas em transações internacionais.

Entretanto, essa centralidade conferiu ao governo americano um poder imenso, muitas vezes chamado de “efeito panóptico” e “ponto de estrangulamento”.

Como quase todos os bancos que transacionam em dólares precisam operar por meio de bancos correspondentes localizados nos EUA, isso permite que o governo americano monitore transações globais e imponha sanções com relativa facilidade.

Em vez de recorrer a conflitos militares, os EUA aumentaram significativamente o uso de sanções econômicas para exercer influência geopolítica. Um exemplo marcante foi a exclusão do Irã do sistema SWIFT em 2018, o que praticamente paralisou o sistema bancário iraniano.

A resposta rápida ao conflito na Ucrânia

No entanto, a resposta financeira do Ocidente à invasão russa da Ucrânia, em 2022, foi de uma magnitude inédita.

Os Estados Unidos e seus aliados congelaram US$ 282 bilhões de ativos russos em bancos estrangeiros, além de desconectar os principais bancos russos do sistema SWIFT, o que dificultou significativamente a capacidade da Rússia de realizar transações internacionais.

Além disso, o governo americano ameaçou aplicar sanções secundárias a qualquer banco ou país que ajudasse a Rússia a contornar essas medidas.

O impacto foi tão severo que até mesmo a Europa, que apoiava as sanções, ficou alarmada com a rapidez com que empresas como Visa e MasterCard cessaram suas operações na Rússia.

Esses eventos levaram Moscou a acelerar a busca por alternativas ao sistema financeiro ocidental. O presidente Putin, presidente da Rússia, espera que o BRICS Bridge ajude a aliviar as dificuldades econômicas enfrentadas pela Rússia, permitindo transações fora do sistema dominado pelo dólar.

Para Putin, o BRICS Bridge não é apenas uma estratégia geopolítica, mas uma necessidade urgente. A Rússia, que agora depende quase exclusivamente do yuan nas transações internacionais, enfrenta uma escassez de moeda estrangeira.

Em uma tentativa de superar essa crise, a Rússia teve que recorrer a trocas comerciais incomuns, como a recente negociação de tangerinas com o Paquistão, que foram pagas com grão-de-bico e lentilhas.

O papel da China na reforma do sistema de pagamentos

Dólar, presidente da Rússia, Putin, BRICS
XI Jinping e Putin, presidente da Rússia – Foto: Tass

Enquanto a Rússia enfrenta desafios com as sanções, a China enxerga o avanço tecnológico no setor financeiro como uma solução para reduzir o poder americano.

A estratégia chinesa é baseada no desenvolvimento de tecnologias de pagamento que possam contornar o sistema tradicional, dominado pelos EUA.

O BRICS Bridge, que pode acelerar e baratear as transações financeiras internacionais, é parte dessa estratégia mais ampla.

Segundo The Economist, os avanços nesse campo são observados com atenção tanto por nações emergentes quanto por potências ocidentais, preocupadas com a possibilidade de que esses sistemas possam ser usados para burlar sanções e fortalecer a posição de adversários geopolíticos.

O projeto BRICS Bridge parece ter sido inspirado em outro projeto conhecido como mBridge, uma plataforma experimental de pagamentos digitais desenvolvida pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), com a colaboração dos bancos centrais de China, Hong Kong, Tailândia e Emirados Árabes Unidos.

O mBridge demonstrou ser extremamente eficiente, reduzindo os tempos de transação de dias para segundos e praticamente eliminando os custos. Essa eficiência atraiu a atenção de muitas economias emergentes, que estão cada vez mais interessadas em soluções alternativas ao sistema financeiro atual.

A fragilidade do sistema financeiro global

A centralidade do dólar como moeda de reserva mundial cria uma vulnerabilidade para países que não têm controle direto sobre ele. Isso foi demonstrado de forma aguda no caso da Rússia, que após as sanções foi rapidamente excluída do sistema de pagamentos global.

A China, por outro lado, tem há anos expressado preocupação com a dependência excessiva de seu sistema financeiro em relação ao dólar. As sanções aplicadas à Rússia serviram como um lembrete da vulnerabilidade que muitos países enfrentam ao depender de uma moeda que pode ser “armada” em conflitos geopolíticos.

O presidente Putin, presidente da Rússia, vê na criação do BRICS Bridge uma maneira de aliviar as pressões que a Rússia enfrenta atualmente, permitindo que os países membros do bloco realizem transações sem a necessidade de passar pelo sistema financeiro americano.

As discussões em torno da criação de uma agência de classificação de crédito e de um sistema de seguros de resseguro para transportadoras de petróleo russo também demonstram a intenção do bloco em se afastar dos sistemas controlados pelo Ocidente.

Porém, a criação de um sistema global alternativo ao dólar não é uma tarefa simples. Além das barreiras técnicas, como garantir liquidez suficiente para sustentar o sistema, há questões políticas e diplomáticas.

O projeto de criar uma moeda comum para o BRICS, por exemplo, enfrenta resistência da Índia, que desconfia do poder crescente da China.

A falta de confiança entre os membros pode ser um obstáculo significativo para a implementação de um sistema financeiro completamente integrado.

O futuro dos sistemas de pagamento digitais

A discussão sobre o BRICS Bridge reflete uma tendência mais ampla no mundo financeiro: a crescente adoção de moedas digitais.

Cerca de 134 bancos centrais ao redor do mundo estão atualmente explorando ou desenvolvendo suas próprias moedas digitais. Embora a maioria desses projetos esteja focada no mercado interno, um número crescente de países, especialmente após a invasão da Ucrânia, está examinando como as moedas digitais podem ser utilizadas para transações internacionais.

O sistema atual é frequentemente criticado por ser lento e caro. Para muitos países, especialmente os em desenvolvimento, a promessa de um sistema mais eficiente é atraente.

No entanto, para o Ocidente, a criação de novos sistemas de pagamento representa um desafio direto à hegemonia do dólar. As autoridades americanas, por exemplo, já expressaram preocupação com o projeto mBridge, alertando que ele poderia ser usado para minar o sistema baseado no dólar.

O mundo em transformação

O que está em jogo na cúpula do BRICS em Kazan vai muito além das discussões sobre novas tecnologias de pagamento.

O bloco BRICS representa uma tentativa de remodelar a ordem financeira mundial, criando alternativas ao sistema centrado no Ocidente e ao dólar americano.

Embora ainda seja cedo para prever o impacto real dessas iniciativas, o crescimento da insatisfação global com o sistema atual, combinado com avanços tecnológicos, sugere que mudanças significativas estão a caminho.

Para Putin, presidente da Rússia, e seus aliados, o BRICS Bridge é mais do que uma ferramenta financeira; é uma declaração política. Ao criar um sistema que possibilite transações financeiras fora do alcance das sanções ocidentais, o bloco desafia diretamente a estrutura de poder global.

No entanto, o sucesso desse projeto dependerá da capacidade do BRICS de superar suas diferenças internas e de criar um sistema que inspire confiança entre seus membros e no resto do mundo.

Artigo feito com informações publicadas originalmente no The Economist.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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