Estratégia de negócios leva Raízen a descontinuar tradicional usina, movimentando mais de R$ 1 bilhão e mudando cenário do setor sucroenergético em São Paulo.
A Raízen, uma das principais companhias do setor sucroenergético brasileiro, anunciou nesta terça-feira (15) a descontinuação, por tempo indeterminado, das operações da Usina Santa Elisa, localizada em Sertãozinho, interior de São Paulo.
A medida faz parte de uma estratégia ampla de reciclagem de portfólio da companhia, visando maior eficiência operacional e financeira em um setor historicamente marcado por ciclos de transformação.
O anúncio oficial foi feito por meio de comunicado ao mercado, detalhando que a subsidiária Raízen Energia firmou contratos para venda de até 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, somando até R$ 1,045 bilhão, valor que deverá ser integralmente destinado à redução do endividamento da empresa.
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Venda bilionária de ativos e redução do endividamento
A operação representa um dos maiores movimentos recentes no mercado sucroalcooleiro nacional, envolvendo não apenas a descontinuidade de uma planta industrial emblemática, mas também uma reorganização significativa de ativos agrícolas.
O múltiplo implícito do negócio, de cerca de US$ 53 por tonelada de cana negociada, não contempla o ativo industrial da usina, que permanece sob gestão da Raízen.
Segundo fontes do setor, esse patamar de preço está alinhado com as principais transações de mercado realizadas nos últimos dois anos, refletindo tanto a qualidade dos canaviais quanto o potencial produtivo das terras comercializadas.
No mesmo comunicado, a Raízen explicou que os recursos provenientes da venda serão direcionados prioritariamente para amortização de dívidas, em linha com o movimento de desalavancagem observado entre grandes companhias do setor agroindustrial brasileiro desde o início de 2024.
Especialistas em finanças agrícolas apontam que, diante do cenário de juros elevados e pressão sobre custos, empresas têm priorizado estratégias que tragam maior liquidez e permitam novos ciclos de investimento.
São Martinho expande produção com aquisição de áreas estratégicas
A São Martinho, outro gigante do setor sucroenergético, confirmou ao mercado a aquisição de aproximadamente 10.600 hectares de áreas canavieiras que antes pertenciam à Usina Santa Elisa.
O valor do negócio pode chegar a R$ 242 milhões, de acordo com fato relevante divulgado pela companhia no mesmo dia.
Conforme detalhado pela São Martinho, a aquisição das áreas deve elevar consideravelmente a capacidade produtiva da empresa nas próximas safras.
Projeções internas indicam potencial para produção de cerca de 600 mil toneladas de cana-de-açúcar já na safra 2026/27, volume que poderá atingir 800 mil toneladas a partir do ciclo 2028/29, consolidando um novo ciclo de produção de cana no estado de São Paulo.
Importância histórica da Usina Santa Elisa para o setor
A usina Santa Elisa, fundada no início do século XX, possui um histórico marcante para o setor sucroenergético paulista.
Durante décadas, foi referência em inovação e produtividade, além de contribuir para o desenvolvimento econômico regional e a geração de empregos em Sertãozinho e cidades vizinhas.
O encerramento de suas atividades, mesmo que temporário, marca o fim de um ciclo histórico e abre espaço para uma nova configuração na cadeia produtiva do açúcar e do etanol no interior paulista.
Transformações estratégicas no setor sucroenergético
Especialistas consultados avaliam que a reestruturação de ativos promovida pela Raízen faz parte de uma tendência crescente entre grandes players do agronegócio, que buscam otimizar suas operações e maximizar retornos diante das mudanças regulatórias, do avanço tecnológico e das exigências de sustentabilidade.
A venda dos canaviais reforça a estratégia da empresa de concentrar esforços em ativos considerados mais estratégicos, enquanto permite à São Martinho expandir sua base agrícola e potencializar ganhos de escala.
A expectativa é que a transferência dos ativos gere impacto direto na oferta de matéria-prima para as usinas da São Martinho no médio e longo prazo, além de contribuir para a movimentação do mercado de terras agrícolas no interior paulista.
Ainda não há previsão para retomada das operações industriais da Usina Santa Elisa, e a Raízen informou que manterá avaliação constante das condições de mercado antes de decidir qualquer reativação.
Perspectivas e tendências para a produção de cana-de-açúcar
O setor sucroenergético brasileiro segue em busca de maior competitividade global, especialmente diante da crescente demanda por biocombustíveis e energias renováveis.
Segundo dados recentes da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), o Brasil permanece como um dos maiores produtores mundiais de açúcar e etanol, com destaque para a região Centro-Sul, onde se concentram as maiores usinas do país.
A movimentação envolvendo Raízen e São Martinho sinaliza, segundo analistas, um novo momento para o ciclo da cana em São Paulo.
Além de reorganizar ativos e fortalecer a liquidez das companhias envolvidas, o negócio deve influenciar futuras decisões de investimento e estimular a adoção de tecnologias voltadas para a produtividade e sustentabilidade dos canaviais.
Impactos regionais e futuro do setor
Em um setor dinâmico como o sucroenergético, decisões estratégicas desse porte tendem a repercutir não apenas na cadeia produtiva, mas também nas comunidades locais e na geração de emprego e renda.
A descontinuação da Usina Santa Elisa, ao lado da expansão da São Martinho, lança um novo olhar sobre o futuro da produção de cana em São Paulo e traz questionamentos sobre os próximos passos das grandes empresas do setor.
Diante desse cenário, quais estratégias serão adotadas por outros players do mercado para se manterem competitivos e sustentáveis frente às novas exigências e oportunidades do agronegócio brasileiro?