A fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo, com 2,6 milhões de m², é a maior produtora de caminhões e ônibus da América Latina e símbolo da engenharia brasileira.
Em meio ao cinturão industrial do ABC Paulista, em São Bernardo do Campo (SP), ergue-se um dos maiores símbolos da engenharia brasileira: a fábrica da Mercedes-Benz do Brasil. Com 2,6 milhões de metros quadrados, o equivalente a quase 370 campos de futebol, o complexo é a maior fábrica de caminhões e ônibus da América Latina e um dos pilares da indústria automotiva nacional.
Há quase sete décadas, a planta opera como uma cidade autossuficiente — com ruas internas, ambulatórios, refeitórios, linhas férreas e até rede elétrica própria — produzindo diariamente cerca de 200 veículos que rodam pelas estradas do Brasil e do mundo.
Um marco da engenharia automotiva brasileira
Fundada em 1956, a unidade de São Bernardo do Campo foi a primeira fábrica da Mercedes-Benz fora da Alemanha, simbolizando o início da era moderna da indústria automobilística no Brasil. À época, o país começava a se industrializar, e o governo de Juscelino Kubitschek estimulava a produção local de veículos pesados. A empresa alemã escolheu o ABC Paulista justamente por sua localização estratégica e proximidade com os portos de Santos e com a nascente malha rodoviária nacional.]
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Desde então, a fábrica nunca parou de crescer. Hoje, o complexo ocupa 2,6 milhões de m², dos quais cerca de 400 mil m² são de área construída — abrigando galpões, prédios administrativos, centros de pesquisa e laboratórios de engenharia. É aqui que são fabricados caminhões da linha Accelo, Atego e Actros, além de chassis de ônibus urbanos e rodoviários exportados para mais de 50 países.
Um ecossistema industrial que funciona como uma cidade
A dimensão da fábrica impressiona não apenas pelo tamanho, mas pela complexidade das operações. Dentro de seus muros, circulam diariamente mais de 10 mil pessoas, entre engenheiros, técnicos, operadores e terceirizados. Há ruas pavimentadas, estações de tratamento de água e efluentes, postos de atendimento médico, refeitórios com capacidade para milhares de refeições e até um sistema interno de transporte.
A estrutura é comparável à de uma pequena cidade industrial. As linhas de produção funcionam em três turnos diários, o que significa que a atividade nunca cessa: enquanto um grupo encerra o expediente, outro inicia a montagem de novos caminhões. Em dias de pico, mais de 200 veículos deixam a linha de montagem, cada um com centenas de componentes fabricados localmente por fornecedores espalhados em um raio de até 200 quilômetros.
Automação, robôs e precisão alemã em solo brasileiro
A tecnologia empregada no complexo é de ponta. Nos setores de estamparia e soldagem, robôs industriais executam operações de alta precisão, manipulando chapas metálicas com movimentos calculados ao milímetro. As áreas de pintura e montagem contam com sistemas automatizados que aplicam camadas de tinta com uniformidade microscópica e verificam cada componente por meio de sensores ópticos.
Toda a produção é monitorada por um sistema digital de rastreabilidade — cada caminhão tem um “histórico de nascimento” que registra o número de série de todas as peças instaladas, os testes de qualidade e os resultados das inspeções. Essas informações são arquivadas por décadas, permitindo identificar rapidamente eventuais falhas e aprimorar os processos.
O resultado é uma operação que combina a engenharia de precisão alemã com a criatividade e resiliência brasileira, tornando a unidade uma das mais eficientes da Mercedes-Benz no mundo.
Centro de inovação e engenharia aplicada
Além de fabricar caminhões e ônibus, a planta abriga o Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Mercedes-Benz do Brasil, que realiza pesquisas em combustíveis alternativos, motores elétricos e conectividade veicular. Foi nesse centro que nasceram diversos projetos pioneiros da marca no país, como o primeiro caminhão elétrico fabricado em território brasileiro, o eActros, e estudos sobre motores a biometano e biodiesel avançado.
Os engenheiros da unidade colaboram diretamente com equipes da Alemanha e da Índia em projetos globais de mobilidade. Essa integração faz com que São Bernardo do Campo não seja apenas um polo de produção, mas também um laboratório de inovação e engenharia aplicada.
O impacto econômico da maior fábrica de caminhões do Brasil
O peso da operação na economia nacional é imenso. Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a Mercedes-Benz de São Bernardo é responsável por uma fatia significativa da produção de veículos pesados do país. O complexo gera milhares de empregos diretos e sustenta uma cadeia de centenas de fornecedores, desde pequenas metalúrgicas até gigantes do setor automotivo.
Estudos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que cada vaga direta na fábrica gera, em média, cinco empregos indiretos — o que significa que a operação movimenta cerca de 50 mil postos de trabalho em todo o estado. Além disso, a presença da planta impulsiona o comércio local e o setor imobiliário, consolidando São Bernardo como o coração da indústria automobilística brasileira.
Sustentabilidade e energia limpa em larga escala
Apesar de seu tamanho, a fábrica se destaca também pelas práticas ambientais. Nos últimos anos, a Mercedes-Benz investiu em painéis solares, reaproveitamento de água da chuva e sistemas de reciclagem de resíduos industriais. A unidade é autossuficiente em tratamento de efluentes e mantém programas de reflorestamento e compensação ambiental nas áreas ao redor do complexo.
Outra iniciativa relevante é a redução do consumo de energia por veículo produzido: em apenas dez anos, a planta conseguiu cortar mais de 30% do gasto energético, ao mesmo tempo em que aumentou o volume de produção. Os caminhões também são submetidos a testes de emissões em laboratório próprio, alinhados às normas Euro 6, as mais rígidas do mundo.
Um legado de quase 70 anos
Desde que foi inaugurada, a fábrica já produziu mais de 2,5 milhões de veículos entre caminhões e chassis de ônibus. Ela sobreviveu a crises econômicas, transformações políticas e revoluções tecnológicas, mantendo-se como referência em produtividade e qualidade.
Durante os períodos mais desafiadores, como a pandemia de 2020, a unidade adaptou turnos e manteve parte da produção ativa, evitando paralisações completas.
Hoje, quase 70 anos após sua fundação, a planta continua expandindo: recebe investimentos constantes em digitalização, robótica e eletrificação de veículos pesados, consolidando-se como uma das fábricas mais modernas do hemisfério sul.
Um colosso que mantém o Brasil em movimento
A cada 7 minutos, em média, um caminhão sai das linhas de montagem e segue para as estradas.
Esses veículos cruzam o país transportando grãos, combustíveis, medicamentos e produtos que sustentam a economia nacional. Por trás de cada entrega há a força de milhares de trabalhadores e o pulso de uma indústria que não para.
Com 2,6 milhões de m², 10 mil funcionários e 200 veículos produzidos por dia, a maior fábrica de caminhões da América Latina é mais que um marco da engenharia — é uma cidade industrial viva, onde o som dos motores é o batimento constante do Brasil sobre rodas.