Pesquisa da Epagri permite a exportação de maçã com alta qualidade. Variedades Fuji e Gala, tecnologia de indução de brotação e manejo pós-colheita aumentam a produtividade, fazendo Santa Catarina se destacar como maior produtor, gerando empregos e renda para milhares de famílias
A exportação de maçã é hoje uma realidade consolidada no Brasil, mas esse caminho só foi possível graças ao trabalho intenso de pesquisa da Epagri ao longo de cinco décadas, segundo uma matéria publicada.
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com clima frio necessário para o florescimento e frutificação das macieiras, se tornaram polos estratégicos da produção nacional.
Antes da década de 1980, o país dependia quase exclusivamente da importação da variedade Red Delicious, conhecida como “maçã argentina”.
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O esforço científico para adaptar e desenvolver novas cultivares mudou completamente esse cenário, tornando o Brasil autossuficiente na produção de maçãs de alta qualidade e transformando-o em exportador, com frutas apreciadas em toda a América Latina e Oriente Médio.
O trabalho da Epagri não se limitou ao campo: envolve melhoramento genético, tecnologias de propagação de plantas, desenvolvimento de porta-enxertos, manejo de pomares mais adensados e controle de doenças.
Cada avanço contribuiu para produzir frutas de melhor qualidade, mais fáceis de manejar e com produtividade elevada.
Hoje, mais de um milhão de toneladas de maçãs são produzidas anualmente, com destaque para as variedades Fuji e Gala, cultivadas principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, garantindo abastecimento interno e excedente para exportação.
Diversificação de variedades Fuji e Gala adaptadas ao clima catarinense impulsiona exportação de maçã
Um dos principais trunfos da Epagri foi a introdução de mais de 500 variedades do exterior, avaliando sua adaptação às condições de Santa Catarina.
A partir desses estudos, surgiram as variedades Fuji, originária do Japão, e Gala, originária da Nova Zelândia, que se tornaram as mais produzidas no país.
Além disso, três variedades desenvolvidas pela Epagri, identificadas com a marca Sambóa, são cultivadas também em outros países.
O trabalho envolveu anos de pesquisa para encontrar combinações que equilibrassem produtividade, resistência e sabor, fundamentais para atender ao mercado interno e internacional.
O desenvolvimento de cultivares adaptadas ao clima brasileiro reduziu a dependência de importações e permitiu que o país passasse a exportar maçãs de alta qualidade a partir de 1998, ano em que as exportações superaram as importações pela primeira vez.
Tecnologias de indução de brotação e pós-colheita garantem qualidade e competitividade na exportação de maçã.
Outro avanço decisivo da Epagri foi a tecnologia capaz de compensar a falta de frio em macieiras importadas.
Mesmo no Sul do Brasil, o frio natural não é suficiente para induzir a dormência adequada das plantas, e a aplicação de técnicas de indução de brotação tornou possível produzir mais de um milhão de toneladas de maçã anualmente.
Além disso, a Epagri investiu em tecnologias de pós-colheita, manejo fitopatológico, entomológico e de ecofisiologia, garantindo frutas com coloração intensa e sabor doce, atributos essenciais para conquistar mercados exigentes.
Essas práticas permitiram que a exportação de maçã brasileira se consolidasse, elevando o padrão de qualidade e fortalecendo a imagem da fruta catarinense no cenário internacional.
Produção em Santa Catarina, dados de produtividade e impacto econômico da exportação de maçã nacional
Santa Catarina é o maior produtor de maçãs do país, com cerca de 51% da produção nacional, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 46%.
A safra 2024/25 do estado alcançou mais de 482,2 mil toneladas, sendo Gala responsável por 40,7% e Fuji por 57,3%. Em 2023, as exportações catarinenses representaram 43,7% do total brasileiro, movimentando US$ 24,11 milhões.
O valor bruto da produção catarinense chegou a R$ 63,98 milhões, enquanto o total nacional representou R$ 1,09 bilhão, equivalendo a 1,7% do valor bruto da produção agrícola.
O cultivo da maçã também gera empregos significativos, com cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos no Brasil, metade deles em Santa Catarina.
Cidades como Fraiburgo e São Joaquim exemplificam o impacto social: Fraiburgo se destaca por pomares empresariais modernos, enquanto São Joaquim abriga pequenos produtores organizados em cooperativas que fortalecem a agricultura familiar.
Diversificação genética, desafios climáticos e inovação como pilares do futuro da exportação de maçã
Apesar do sucesso na exportação de maçã, o setor enfrenta desafios importantes. A concentração em duas variedades, Fuji e Gala, gera vulnerabilidade climática e limitações genéticas, tornando a produção suscetível a variações de temperatura, pragas e oscilações de mercado.
Outro fator crítico é a diminuição da mão de obra disponível nos últimos vinte anos, ao mesmo tempo em que os custos de trabalho aumentam.
O futuro da maçã catarinense e brasileira depende da continuidade de pesquisas inovadoras que promovam diversificação genética, manejo sustentável e tecnologias climáticas, garantindo produtividade e qualidade constantes.
A Epagri já desenvolve cultivares adaptadas às condições brasileiras, como a SCS425 Luiza, cultivada inclusive fora do país. A estratégia é reduzir a dependência econômica de poucas variedades e minimizar riscos associados às mudanças climáticas e à escassez de mão de obra.
Segundo Marcus Vinicius Kvitschal, pesquisador em melhoramento genético da Epagri, o ciclo virtuoso de ciência e produção transformou uma fruta antes importada em símbolo de qualidade nacional e força no agronegócio global.
A combinação de melhoramento genético, inovação tecnológica, manejo eficiente e políticas públicas de incentivo continuará sendo essencial para manter o Brasil entre os principais exportadores de maçã do mundo.