Estudo revela que resíduos de minas americanas escondem lítio e manganês capazes de abastecer milhões de veículos elétricos e reduzir a dependência externa
Um novo estudo aponta que os Estados Unidos poderiam transformar seus resíduos de mineração em fonte estratégica de minerais essenciais.
Materiais que hoje são descartados poderiam abastecer milhões de veículos elétricos e reduzir a dependência externa.
Reservatórios inexplorados
Pesquisadores analisaram 70 elementos em 54 minas ativas. O resultado revelou um potencial gigantesco.
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Um único ano de resíduos poderia fornecer lítio suficiente para 10 milhões de carros elétricos e manganês para 99 milhões.
Os números superam com folga a demanda interna e os atuais níveis de importação.
Elizabeth Holley, professora de engenharia de minas na Escola de Minas do Colorado, explicou a questão central: “Estamos produzindo apenas algumas commodities. A questão é: o que mais há nessas rochas?”
Para ela, a resposta é um reservatório inexplorado de minerais vitais para baterias, painéis solares e outras tecnologias de baixo carbono.
Segundo os cálculos, mesmo ganhos modestos fariam enorme diferença. A recuperação de apenas 1% do material já reduziria substancialmente a dependência externa.
No caso do lítio, uma taxa de 4% já cobriria todas as importações atuais.
Caminho rápido para ganhos
Os autores defendem que a forma mais rápida é otimizar o que já existe. Holley destacou que bastaria adicionar novos circuitos às operações em andamento. “Seria uma maneira muito rápida de colocar um mineral necessário em produção”, afirmou.
O estudo também orienta onde procurar cada elemento. A mina Red Dog, no Alasca, mostra o maior potencial de germânio.
Já níquel pode ser encontrado nas minas Stillwater e East Boulder, em Montana. Assim, os pesquisadores oferecem um mapa estratégico para o futuro.
Pressão geopolítica
As descobertas chegam em um momento de forte pressão política e geopolítica.
Hoje, a maior parte do lítio vem de Austrália, Chile e China. O cobalto, em sua maioria, vem da República Democrática do Congo. Garantir fontes internas virou prioridade.
A Lei de Redução da Inflação de 2022, do então presidente Joe Biden, ofereceu incentivos à produção doméstica de minerais.
Neste ano, Donald Trump foi além e assinou uma ordem executiva invocando poderes de guerra. O objetivo é liberar arrendamentos e acelerar a extração em terras federais.
O texto da ordem não deixou dúvidas: “Nossa segurança nacional e econômica está agora gravemente ameaçada por nossa dependência da produção mineral de potências estrangeiras hostis. É imperativo que os Estados Unidos tomem medidas imediatas para facilitar a produção doméstica.”
Custos e desafios
A revista Grist destacou que, embora o estudo seja promissor, existem barreiras. O professor Hamidreza Samouei, da Universidade Texas A&M, elogiou a pesquisa, mas lembrou dos entraves.
A indústria consome enormes quantidades de água e exige forte apoio político para que a recuperação seja viável.
“A mineração é uma indústria muito antiquada. Quem vai correr o risco?”, questionou Samouei.
Ainda assim, ele reconhece o valor de iniciativas nesse campo. O Departamento de Energia já lançou um programa piloto de recuperação de subprodutos.
O Pentágono, por sua vez, investiu US$ 400 milhões na única mina de terras raras em operação no país.
Ao mesmo tempo, o Congresso seguiu na direção oposta. Legisladores revogaram partes da Lei de Redução da Inflação que estimulavam a demanda por minerais críticos.
Também cortaram financiamento do Serviço Geológico e do Escritório de Ciências do Departamento de Energia.
Uma visão mais ampla
Para Isabel Barton, professora de engenharia geológica na Universidade do Arizona, a essência do estudo não é exatamente nova.
No entanto, ela considera que a pesquisa mostra uma mudança real de pensamento. O foco deixa de ser apenas um alvo específico e passa a buscar valor em toda a rocha.
Ela destacou que a dificuldade técnica varia muito. “Alguns provavelmente são relativamente simples. Outros são terrivelmente difíceis de alcançar”, disse.
O fator decisivo continuará sendo o custo. “As mineradoras estão lá para lucrar.”
De estudo a estratégia
O próximo passo é transformar o potencial em ação prática. Holley explicou que o financiamento em minerais críticos tem sido disperso.
Com o novo estudo, seria possível construir uma estratégia clara, adaptada mina a mina.
A expectativa é que esse tipo de abordagem permita aos EUA explorar melhor seus próprios recursos e, ao mesmo tempo, reduzir riscos externos.
Portanto, a análise mostra que os resíduos, antes vistos como descartáveis, podem se tornar peças centrais em uma nova política mineral.
O desafio será equilibrar custos, tecnologia e vontade política para que o que hoje é sobra se transforme em oportunidade.