Infecção por parasita mortal preocupa os EUA: 124 casos humanos de gusano barrenador confirmados na Nicarágua em menos de 1 ano
A Embaixada dos Estados Unidos em Managua emitiu no último dia 7 de julho uma alerta sanitária séria para seus cidadãos na Nicarágua, após o Instituto de Proteção e Sanidade Agropecuária (IPSA) confirmar 124 casos de infecção humana pelo gusano barrenador (larvas da mosca Cochliomyia hominivorax) durante o ano de 2025. O retorno dessa praga, há 25 anos erradicada no país, reacende a preocupação para humanos e animais em toda a América Central.
O que é esse parasita e por que é tão perigoso?
O gusano barrenador, também conhecido como “screwworm fly”, é uma espécie de mosquito carnívoro cujas larvas se alimentam de tecido vivo de mamíferos, inclusive humanos. As hembras depositam entre 200 e 500 ovos em feridas abertas, mucosas ou orifícios corporais. Em menos de 24 horas, as larvas eclodem e escavuram o tecido, causando miasis, dor aguda, inflamação e risco de septicemia, podendo levar à morte, se não tratadas rapidamente.
Esse processo pode ocorrer em poucos dias: em 3 a 7 dias as larvas já se alimentaram o suficiente para cair no solo, transformarem-se em pupas e emergirem como moscas adultas em cerca de 10 a 20 dias — ciclo que pode se repetir centenas de vezes, especialmente em zonas tropicais .
-
Descoberta histórica: mais Soldados de Terracota encontrados na China!
-
O fim do papel higiênico é real? tecnologia inusitada promete eliminar o tradicional papel; conheça
-
Concreto? Que nada! Novo asfalto testado no Brasil usa 1.800 kg de plástico reciclado e promete triplicar a vida útil das rodovias
-
Considerada um verdadeiro ‘colosso subterrâneo’ com mais de 600 km, a maior caverna do mundo está situada nos Estados Unidos
Proliferação alarmante na Nicarágua
Até a primeira semana de junho, o IPSA contabilizava 18.059 casos no gado, com 117 ocorrências humanas, recentemente atualizadas para 124 infecções em pessoas. Esse avanço reflete uma retomada intensa da infestação, que explodiu desde abril de 2024, quando o governo declarou alerta sanitário animal e mobilizou 122 técnicos nos pontos de controle na fronteira com a Costa Rica.
Os casos humanos concentram-se em regiões como Río San Juan, Rivas e a Costa Caribe Sul, áreas fronteiriças com a Costa Rica, mas já se espalham por pacífico, centro, norte e Caribe Norte da Nicarágua. O avanço acelerado sugere um processo de dispersão descontrolada.
Reações internacionais e medidas regionais
A Embaixada dos EUA alertou que qualquer ferida ou lesão que apresente dor intensa, vermelhidão, inchaço ou contenha larvas exige atenção médica imediata. A citação oficial no Twitter reforçou:
“En cuestión de horas, los huevos eclosionan… las larvas se alimentan del tejido circundante”.
Além disso, os EUA destinaram US$ 110 milhões para apoiar ações de controle do gusano barrenador em toda a América Central, incluindo suporte técnico, programas de imunização e bloqueios sanitários nas fronteiras.
México retoma exportação de gado, mas ainda com restrições
O México suspendeu exportações para os EUA em maio de 2025 (após o primeiro caso humano confirmado no estado de Chiapas), retomando aos poucos a partir de 7 de julho, com cerca de 882 cabeças cruzando a fronteira por Agua Prieta, Sonora . A decisão vem acompanhada de protocolos sanitários rígidos, como redução do fluxo a 500 cabeças/dia, inspeção, triagem e uso da técnica de indivíduos estéreis .
No início de 2025, saiu o primeiro caso humano confirmado no México: uma mulher de 77 anos em Chiapas, com sintomas típicos de miasis, dor, febre e ferida supurante elpais.com. Desde então, o país intensificou vigilância em estados tropicais.
O risco para o Brasil
Especialistas apontam que a expansão atual coloca o Brasil em posição vulnerável. A plaga já alcançou países limítrofes como Costa Rica, Panamá e México desde 2023 cb24.tv. Com mais de 63.000 casos regionais, sendo 56,4 % na Nicarágua, a chance de entrada via trânsito de gado, turismo ou mudanças climáticas é alta.
Embora existam programas eficazes, como a técnica de liberação de moscas estéreis usada pelos EUA desde os anos 50 para erradicação do parasita até o Panamá, a aplicação em larga escala no Brasil exigiria articulação entre órgãos como MAPA, Anvisa, Ministério da Saúde e governos estaduais.
Sintomas, diagnóstico e tratamento
Para humanos, os principais sinais incluem:
- Feridas que apresentam supuração e larvas visíveis;
- Dor intensa, vermelhidão e aumento da temperatura local;
- Febre, mal-estar ou sintomas de infecção sistêmica.
O tratamento envolve remoção cirúrgica ou manual das larvas, irrigação da ferida, uso de larvicidas locais (ex.: ivermectina tópica) e antibióticos para prevenir septicemia. A detecção precoce reduz significativamente a mortalidade.
Nos animais, a abordagem combina triagem médica, isolamento e uso da técnica de moscas estéreis para evitar a reprodução do inseto na região.
Reforço necessário: vigilância e políticas públicas
Diante da gravidade, algumas ações são essenciais:
- Monitoramento contínuo: rastreamento em áreas de fronteira, com amostragem ativa em gado, fauna silvestre e pessoas que visitam regiões rurais.
- Controle sanitário reforçado: inspeções obrigatórias para transporte de animais, restrições regionais e suporte financeiro aos produtores.
- Campanhas de conscientização: comunicação sobre prevenção, cobertura de feridas, uso de repelentes e busca de atendimento em caso de sintomas.
- Investimento em SIT: expansão da liberação de moscas estéreis, técnica testada desde os anos 1950.
- Treinamento de equipes de saúde/veterinária: capacitação via organizações como OIE, FAO e OMS, integrando esforços entre Brasil, CEPAN, Costa Rica, México e EUA.
O ressurgimento do gusano barrenador na Nicarágua, com 124 casos em humanos e mais de 18 mil em animais, representa uma ameaça epidemiológica e econômica significativa. A emergência demanda resposta regional coordenada, vigilância reforçada, aplicação de tecnologias e consciência pública intensa, sob pena de vermos o parasita contornando fronteiras e ameaçando rebanhos e populações vulneráveis, incluindo o Brasil.