Com 45 mil km e 180 Tbps, o 2Africa é o maior cabo submarino do mundo, conectando África, Europa e Ásia e revolucionando a infraestrutura global da internet.
Sob os oceanos do planeta, onde a luz solar não chega e a pressão pode esmagar o aço, corre uma das maiores obras de engenharia moderna, uma estrutura invisível que mantém o mundo conectado. Trata-se do 2Africa, o maior sistema de cabos submarinos de internet já construído, com 45 mil quilômetros de extensão e capacidade de transmissão que chega a 180 terabits por segundo (Tbps). O projeto, liderado por um consórcio global de empresas de telecomunicações e tecnologia, tem como objetivo ligar África, Europa e Ásia, formando um anel digital em torno de três continentes e revolucionando o acesso à rede em dezenas de países emergentes.
Um projeto que muda a geografia digital do planeta
Anunciado em 2020 e em implantação desde 2022, o 2Africa é um projeto de escala inédita. Sua extensão equivale a mais do que dar uma volta completa na Terra e cobre 46 pontos de conexão (“landings”) em 33 países, incluindo Egito, Espanha, Nigéria, África do Sul, Arábia Saudita, Omã, Índia e França.
Segundo o consórcio responsável, o cabo tem como missão principal multiplicar por 16 a capacidade de internet na África, continente onde o custo e a limitação de infraestrutura ainda impedem a plena inclusão digital.
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O 2Africa deve conectar 1,2 bilhão de pessoas de forma mais rápida e estável, reduzindo a dependência de redes terrestres e satelitais.
O projeto é conduzido por gigantes como Meta Platforms (Facebook), Vodafone Group, China Mobile International, Orange, STC (Saudi Telecom Company) e Telecom Egypt, com suporte de empresas especializadas em cabos oceânicos como a Alcatel Submarine Networks (ASN).
A meta é que todo o sistema esteja totalmente operacional até 2025, com as últimas conexões sendo ativadas na costa do Mediterrâneo e na Península Arábica.
Uma engenharia subaquática colossal
Construir um cabo submarino global é um desafio comparável a lançar um foguete ao espaço. O 2Africa é composto por 16 pares de fibra óptica encapsulados em múltiplas camadas de isolamento, blindagem e armadura metálica.
Cada centímetro foi projetado para resistir à pressão do oceano profundo, à corrosão e até a mordidas de tubarões — um risco real documentado em outros cabos.
Durante a instalação, navios especializados mapeiam o fundo do mar com sonar para definir rotas seguras, evitando vulcões subaquáticos e falhas geológicas.
O cabo é então desenrolado lentamente a partir do convés, descendo até o leito oceânico e sendo enterrado em alguns trechos próximos às costas, para evitar danos causados por âncoras ou pesca.
A profundidade máxima do 2Africa chega a 8.000 metros, e o projeto já foi classificado pela PR Newswire e pela Reuters como “a maior rede de fibra óptica submarina da história da humanidade”.
Conectando três continentes e centenas de milhões de pessoas
O nome “2Africa” não é casual, o objetivo é transformar o continente africano no novo eixo digital global, conectando-o às redes europeias e asiáticas com baixa latência e alta velocidade.
A estrutura circular liga diretamente o Mar Mediterrâneo, o Mar Vermelho, o Oceano Índico e o Atlântico, criando uma rota de redundância inédita: se um trecho falhar, o tráfego pode ser redirecionado automaticamente pelo outro lado do anel.
Essa arquitetura é considerada à prova de interrupções, e garante ao sistema uma confiabilidade de 99,999%, padrão exigido em aplicações críticas como bancos, bolsas de valores e sistemas de defesa.
De acordo com a Vodafone Global Enterprise, o 2Africa poderá aumentar o PIB africano em até US$ 26 bilhões por ano após sua conclusão, graças à expansão do comércio eletrônico, da educação à distância e dos serviços financeiros digitais.
Um marco para a nova corrida tecnológica
O projeto 2Africa é também um reflexo da nova disputa geopolítica da conectividade global. Assim como os portos e oleodutos foram estratégicos no século XX, agora os cabos submarinos se tornaram os “oleodutos de dados” do século XXI.
Hoje, mais de 98% de todo o tráfego internacional de internet viaja por cabos submarinos, e não por satélites, como muitos imaginam. Isso inclui mensagens, chamadas, vídeos, transações bancárias e comunicações militares. Nesse contexto, o 2Africa é uma ferramenta de poder econômico e diplomático:
- Para a Meta, ele garante autonomia tecnológica frente a rivais como Google e Amazon, que operam suas próprias redes globais.
- Para a China Mobile, o projeto fortalece a presença da China em países africanos e do Oriente Médio.
- Para a Vodafone e operadoras europeias, ele representa a chance de diversificar rotas e reduzir custos de interconexão.
O resultado é uma rede com impacto direto na economia mundial — e com importância estratégica comparável à do Canal de Suez ou à da antiga Rota da Seda.
O futuro já está conectado
Os primeiros trechos do 2Africa já estão ativos desde 2023, com pousos confirmados no Reino Unido, Espanha, Egito, Quênia e África do Sul. As próximas etapas incluem conexões no Golfo Pérsico, na costa indiana e no Mar Arábico, consolidando a cobertura total até 2025.
Além de expandir o acesso à internet, o sistema servirá como base para redes 5G e 6G, data centers e computação em nuvem, consolidando a infraestrutura digital de três continentes interligados por um único “anel de luz” submerso.
Mais do que uma façanha de engenharia, o 2Africa representa uma revolução invisível: um cordão de vidro e luz que costura continentes, economias e pessoas em tempo real.
Sob os mares, onde antes apenas navios cruzavam, agora passa a verdadeira rota do século XXI — a rota dos dados.