Localizado no Estaleiro Rio Grande (RS), o dique seco que foi palco do auge e da crise da indústria naval brasileira agora ressurge com novos projetos, incluindo a reciclagem de plataformas.
De acordo com um relatório de análise estratégica sobre a indústria naval brasileira, o título de maior dique seco para construção naval do Brasil, e também da América Latina, pertence a uma monumental estrutura localizada no Estaleiro Rio Grande (ERG), na cidade de Rio Grande, Rio Grande do Sul. A trajetória deste ativo é um reflexo da própria política industrial do país nas últimas duas décadas, marcada por um ciclo de ascensão meteórica, um colapso dramático e um recente e promissor renascimento.
Concebido para ser uma “fábrica de plataformas” para a Petrobras, o dique foi o epicentro da revitalização da indústria naval nacional. No entanto, sua história também é marcada por uma crise que paralisou suas operações por anos. Hoje, o gigante ressurge com uma nova estratégia, focada na diversificação de serviços, desde reparos até a reciclagem sustentável de embarcações.
As dimensões e a capacidade do dique
A infraestrutura central do Estaleiro Rio Grande é seu dique seco, uma obra que redefiniu a capacidade da engenharia naval no país. Suas dimensões são impressionantes: 350 metros de comprimento por 133 metros de largura, com uma profundidade de 13,8 metros.
-
Modernização da APS no Porto de Santos: investimento de R$ 3 milhões reforça segurança e tecnologia
-
Royal Navy comissiona HMS Stirling Castle para reforçar operações de caça a minas no Reino Unido
-
Submarino nuclear USS Helena é desativado após 38 anos
-
O navio futurista movido a hidrogênio de 200 metros que pode cruzar oceanos sem emitir poluentes e custará US$ 500 milhões
A capacidade operacional do dique é amplificada por seu maquinário. A peça principal é o pórtico “Goliath”, um guindaste gigante com capacidade para içar até 600 toneladas, que se move sobre trilhos por toda a extensão da estrutura. O dique foi projetado para permitir a construção simultânea de duas grandes plataformas do tipo FPSO (Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Transferência), o que o tornou um ativo estratégico para os planos da Petrobras no pré-sal.
O auge do Polo Naval e o papel na construção de plataformas da Petrobras
O estaleiro, construído pela WTorre e entregue em maio de 2010, foi a peça-chave de uma ambiciosa política de Estado para revitalizar a indústria naval brasileira, impulsionada pela demanda da Petrobras. A operação do dique foi assumida pela Ecovix, que em 2010 venceu um contrato para a construção de oito cascos “replicantes” para FPSOs.
O dique foi fundamental para a construção de cascos de plataformas como a P-66, P-67 e P-69. É importante notar, no entanto, que outras plataformas famosas da época, como a P-74, P-75, P-76 e P-77, tiveram seus módulos construídos e integrados em outros estaleiros do Polo Naval de Rio Grande ou até mesmo em outros estados e na China, evidenciando a complexidade e a fragmentação da produção na época.
O renascimento a partir de 2021, reparos, reciclagem e novos navios
Após um longo período de paralisia, o Estaleiro Rio Grande iniciou um notável processo de renascimento, com uma nova estratégia focada na diversificação de serviços para não depender de um único cliente.
Reparo Naval: em agosto de 2021, o dique voltou a operar com o reparo do navio de estimulação de poços Siem Helix I.
Reciclagem Sustentável: em dezembro de 2023, o estaleiro se tornou pioneiro no Brasil ao receber a plataforma P-32 da Petrobras para um processo de desmantelamento e reciclagem sustentável, em parceria com a Gerdau.
Retorno à Construção: o marco da retomada ocorreu em fevereiro de 2024, com a assinatura de um contrato de US$ 278 milhões com a Transpetro para a construção de quatro navios-tanque, recolocando o estaleiro no mapa da construção naval.
O futuro do maior dique seco para construção naval do Brasil
O futuro do Estaleiro Rio Grande, embora promissor, depende da sustentabilidade da demanda por novos projetos e da capacidade de requalificar a mão de obra especializada, que foi desmobilizada durante quase uma década de crise.
A estratégia de diversificar as atividades, combinando construção, reparos e reciclagem, é uma tentativa de criar um modelo de negócio mais resiliente e evitar a repetição do ciclo de “boom e colapso” que marcou sua história. A trajetória do maior dique seco para construção naval do país continua a ser um importante termômetro para a saúde da indústria naval brasileira.