Projeto da Reflect Orbital busca refletir a luz do Sol de volta à Terra
A startup californiana Reflect Orbital pediu ao governo dos Estados Unidos, em outubro de 2025, autorização para colocar em órbita o primeiro espelho espacial de 18 metros por 18 metros. O lançamento está previsto para abril de 2026 e marca o início de uma constelação com mais de 4 mil satélites-refletores. Esses equipamentos devem redirecionar a luz solar para a Terra durante o crepúsculo, ampliando a geração de energia solar mesmo após o pôr do sol.
O pedido, enviado à Comissão Federal de Comunicações (FCC), explica que o espelho refletirá a luz sobre pontos específicos do planeta. Além disso, o projeto conta com investimento da Força Aérea dos EUA, no valor de US$ 1,25 milhão (R$ 6,7 milhões).
Assim, a Reflect Orbital busca testar uma forma inédita de geração contínua de energia e reduzir a dependência de fontes convencionais.
Cientistas alertam sobre impactos astronômicos e ambientais
Contudo, astrônomos e ambientalistas manifestaram forte preocupação com a proposta. O astrônomo John Barentine, do Observatório Silverado Hills, no Arizona, explicou que os espelhos podem emitir feixes até quatro vezes mais brilhantes que a Lua cheia.
Ele destacou que o excesso de luz pode interferir em observações astronômicas e afetar espécies noturnas sensíveis à luminosidade. Além disso, o vice-diretor da Sociedade Astronômica Real, Robert Massey, classificou o projeto como “catastrófico sob o ponto de vista astronômico”. Segundo ele, o objetivo de prolongar o dia e iluminar o céu pode comprometer observações científicas e prejudicar a pesquisa astronômica.
Por outro lado, Massey comparou o caso ao projeto Starlink, da SpaceX, que já enfrenta críticas por causar rastros luminosos nas imagens astronômicas. No entanto, diferentemente da Starlink, a Reflect Orbital planeja refletir a luz solar de forma intencional, fazendo do brilho intenso um elemento central da missão. Dessa forma, o impacto luminoso deixaria de ser acidental para se tornar um efeito programado.
Empresa promete controle e tempo limitado das reflexões
Em resposta às críticas, a Reflect Orbital informou que o sistema foi desenvolvido para limitar o tempo e a área das reflexões, evitando poluição luminosa intensa. Segundo nota enviada à revista Space, cada ponto iluminado terá cerca de 5 km de diâmetro e duração máxima de poucos minutos.
Depois disso, o espelho mudará de posição, impedindo que a luz permaneça concentrada sobre o mesmo local.
Além disso, um porta-voz da empresa afirmou que “nosso serviço será localizado e de curta duração”. Durante o teste previsto para 2026, observadores verão um ponto brilhante em movimento, e o brilho no solo será semelhante ao da Lua. Dessa forma, a empresa acredita que o impacto visual será mínimo e controlado.
A Reflect Orbital também garantiu que fará estudos ambientais completos antes do lançamento da constelação. Para isso, trabalhará em parceria com especialistas em ecologia e astronomia, com o objetivo de reduzir os efeitos ecológicos e luminosos.
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Riscos para a vida noturna e o equilíbrio biológico
Especialistas apontam que os riscos ultrapassam a astronomia. A poluição luminosa pode interferir diretamente nos ciclos naturais de animais e humanos, alterando ritmos biológicos e comportamentos noturnos.
O ambientalista David Smith, da organização britânica BugLife, destacou que “a poluição luminosa rompe o equilíbrio entre o dia e a noite que guia a vida na Terra há bilhões de anos”.
Além disso, um relatório da Royal Society, divulgado em 2024, revelou que o brilho artificial global cresce cerca de 10% ao ano. Como consequência, o número de estrelas visíveis a olho nu diminuiu de 250 para aproximadamente 100.
Diante desse cenário, astrônomos e biólogos temem que o impacto na vida noturna humana e animal possa tornar-se irreversível caso o projeto avance.



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