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Especialista explica por que o Brics não oferece saída viável ao Brasil nas tensões comerciais com os EUA e defende negociações diretas

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 13/08/2025 às 19:28
Brics O que está travando o Brics e pode prejudicar o Brasil nas negociações comerciais
Foto: Reprodução
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Em meio às tensões comerciais com os Estados Unidos, cresce o debate sobre possíveis alianças estratégicas do Brasil. No entanto, especialistas apontam limitações importantes em blocos como o Brics e o Mercosul, indicando que o caminho pode estar em outra direção.

A ideia de recorrer ao Brics como apoio nas tensões comerciais com os Estados Unidos seria viável para o Brasil? Essa é a intenção do governo federal.

Entretanto, segundo Vitelio Brustolin, pesquisador de Harvard e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), durante participação no WW, da CNN Brasil, essa ideia não é viável.

Conforme ele, os principais integrantes do grupo já negociam individualmente questões tarifárias com Washington.

A China, por exemplo, recebeu uma proposta para quadruplicar suas importações de soja americana.

Esse cenário preocupa o Brasil, responsável por 70% da soja consumida pelo mercado chinês. Um aumento nas compras do produto dos EUA poderia reduzir o espaço da produção brasileira.

Além disso, a Índia também mantém tratativas para rever tarifas impostas. O país asiático enfrenta medidas secundárias por importar petróleo, derivados e armamentos russos.

O Brasil está na mesma lista, o que reforça a complexidade das negociações. A África do Sul, outro integrante do bloco, igualmente discute condições comerciais com os norte-americanos.

Conflitos internos e falta de coesão

O mais importante, na avaliação de Brustolin, é que o Brics enfrenta problemas de unidade. Há conflitos internos que dificultam qualquer ação conjunta.

A Índia mantém disputas territoriais e políticas com a China. O Egito tem divergências com a Etiópia relacionadas à Somália.

Já Irã e Arábia Saudita só restabeleceram relações diplomáticas em 2023, o que ainda não garante alinhamento total.

Essas tensões enfraquecem a capacidade do bloco de agir de forma coordenada.

Sem consenso interno, a força política e comercial do grupo perde relevância em disputas internacionais de grande porte.

Estrutura limitada do Brics

Outro fator ressaltado pelo especialista é a própria natureza do Brics. A organização é informal: não tem sede, estatuto, regimento ou critérios claros para admitir novos membros.

Essa ausência de estrutura formal impede que o bloco atue de maneira eficaz em questões comerciais complexas, que exigem regras claras e processos decisórios bem definidos.

Portanto, mesmo que houvesse vontade política, o Brics teria dificuldades para funcionar como frente unida contra medidas tarifárias norte-americanas.

Mercosul também não é alternativa

Brustolin lembra que, embora o Mercosul seja uma organização formal, também não se apresenta como alternativa viável para a questão.

Um exemplo é a Argentina, que já obteve vantagens significativas negociando diretamente com os Estados Unidos.

O país conseguiu 80% de isenção em tarifas por meio de acordos bilaterais, mostrando que a via individual pode ser mais eficaz do que a busca por soluções coletivas.

Nesse contexto, depender exclusivamente de alianças regionais ou multilaterais pode não trazer os resultados desejados. A experiência argentina reforça que negociações diretas tendem a ser mais rápidas e efetivas.

Necessidade de diálogo direto

Além das análises sobre os blocos econômicos, Brustolin destacou a importância de um contato direto entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos.

Ele lembrou que o presidente Lula afirmou que ligaria para Donald Trump, convidando-o para participar da COP 30. Também enviou uma carta formal.

No entanto, ainda não está confirmado se haverá encontro entre os dois durante a Assembleia Geral da ONU, marcada para 23 de setembro.

Para o pesquisador, a relação direta entre os líderes pode abrir portas para acordos mais rápidos e específicos.

Isso porque, no cenário atual, esperar por soluções multilaterais dentro de do BRICS, um bloco com divergências internas e limitações estruturais pode significar perder oportunidades de negociação.

Em resumo, a aposta no Brics como alternativa estratégica para enfrentar tensões comerciais com os Estados Unidos não encontra respaldo, tanto pela falta de coesão interna quanto pelas negociações bilaterais já em andamento.

O caminho, segundo Brustolin, passa por diplomacia direta e acordos específicos que atendam aos interesses imediatos do Brasil.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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