Estudo aponta falta crescente de profissionais na construção civil, avanço acelerado da inteligência artificial e mudança de prioridades na gestão, com impacto direto na produtividade e nos custos de obras.
A nova edição do “Termômetro Falconi da Construção Civil” indica que a escassez de profissionais qualificados e a pressão de custos mantêm o setor em compasso de espera.
Segundo o levantamento, seis em cada dez executivos classificam o mercado como morno, com baixa perspectiva de aceleração nos próximos meses.
Para atravessar o período, empresas intensificam o uso de tecnologia e apostam em qualificação de equipes, com inteligência artificial emergindo como alternativa prática diante das vagas não preenchidas.
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Escassez de mão de obra pressiona o setor
Entre os obstáculos citados pelos entrevistados, a oferta de mão de obra qualificada ocupa o topo das menções, aparecendo em 71% das respostas.
Em seguida estão as taxas de juros elevadas (48%), o custo de materiais e serviços (37%) e a demanda de mercado (36%), que havia sido a principal dor no estudo anterior, de 2023.
A ausência de profissionais capacitados pressiona prazos e orçamentos, especialmente em funções técnicas e de engenharia.
“É inegável que a dificuldade em atrair e reter mão de obra qualificada atrasa a transformação do setor”, afirma André Chaves, vice-presidente da unidade de Indústria de Base e Bens de Capital da Falconi.
Inteligência artificial ganha espaço nas construtoras
Mesmo com a travessia difícil, há um movimento concreto para aumentar a eficiência.
O uso de ferramentas de IA nas empresas mais que dobrou em dois anos: saiu de 15% em 2023 para 38% em 2025.
A adoção cresce como forma de automatizar rotinas, apoiar planejamento e reduzir retrabalho em meio ao déficit de profissionais.
Soluções tecnológicas de base já compõem o arsenal de parte das companhias.
Entre as mais citadas estão BIM, CRM e Lean Construction, difundidas para melhorar controle de custos, visibilidade de obra e produtividade.
Ainda que a digitalização avance, executivos ressaltam que a tecnologia precisa vir acompanhada de processos robustos e times treinados para entregar resultado.
Custos e qualificação no topo das prioridades
Na agenda de curto prazo, a maioria dos gestores pretende concentrar recursos em três frentes.
O item mais mencionado é a melhoria da gestão de custos da obra (74%).
Em seguida aparecem treinamento e (re)qualificação de mão de obra (57%) e fortalecimento de marca (43%).
Em 2023, o foco das empresas estava mais voltado a cumprimento de prazos, experiência do cliente e industrialização, o que reforça a guinada para dentro da operação em 2025.
A leitura é de execução.
“Mais do que buscar a inovação pela inovação, temos que entender quais problemas são prioritários para serem resolvidos, definir as soluções mais adequadas (com e sem tecnologia), estabelecer padrões robustos de execução, criar rotinas de monitoramento e alinhar objetivos entre obra e matriz”, avalia Chaves.
Ele acrescenta um alerta operacional: sem preparo, a tecnologia tende a render menos do que pode.
Capacitação como chave da transformação digital
Lacunas de capacitação freiam a captura de valor das ferramentas digitais.
Como resume o executivo da Falconi, “Sem ações de capacitação, as empresas correm o risco de não conseguir implementá-las de forma efetiva”.
Em outras palavras, o retorno sobre investimento em IA, BIM ou métodos enxutos depende de gestores treinados, indicadores acompanhados e rotina disciplinada em campo.
Nesse contexto, cresce a ênfase em padronização de processos, rotinas de monitoramento e integração entre obra e matriz.
Empresas que alinham tecnologia a metas claras de produtividade, controle de custos e planejamento tendem a amortecer a falta de profissionais e a volatilidade de preços.
Expectativas de mudança para os próximos cinco anos
Além do diagnóstico imediato, o “Termômetro” mede a confiança em transformações de médio prazo.
Mais da metade dos respondentes considera provável que o setor passe por mudanças estruturais nos próximos cinco anos.
O otimismo com disrupção supera o registrado dois anos antes, indicando que, embora o presente seja de prudência, a visão de futuro inclui maior modernização e ganho de eficiência.
A percepção de que a construção conserva métodos tradicionais segue verdadeira.
Ainda assim, a combinação de pressão de custos, déficit de talentos e maturidade digital em evolução forma um vetor que pode acelerar a adoção de soluções analíticas, automação de rotinas e industrialização de etapas.
Detalhes da pesquisa
A edição de 2025 do “Termômetro Falconi da Construção Civil” reuniu 120 executivos de construtoras e incorporadoras de diferentes portes. Do total, 35% ocupam cargos de CEO, sócio/proprietário ou diretor.
A coleta ocorreu entre 02 e 30 de junho de 2025, com apoio do Ecossistema Sienge durante o Construsummit. O questionário mapeou percepção de cenário, prioridades de investimento e grau de adoção tecnológica nas empresas.