Redes de supermercados em todo o Brasil enfrentam dificuldade inédita para preencher vagas e recorrem à contratação de militares da reserva do Exército, evidenciando mudanças no perfil dos trabalhadores do setor.
A escassez de mão de obra já impacta setores tradicionais do mercado de trabalho e, mais recentemente, passou a afetar também supermercados em diversas regiões do Brasil.
Com dificuldades crescentes para preencher cargos operacionais e administrativos, grandes redes de varejo passaram a recorrer a soluções inéditas, como a contratação de militares da reserva do Exército Brasileiro para suprir a demanda de funcionários.
O movimento ganhou força nos últimos meses, evidenciando um novo cenário nas relações trabalhistas do setor supermercadista.
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Falta de profissionais desafia redes supermercadistas
Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em junho de 2025, aproximadamente 30% dos estabelecimentos associados relataram obstáculos na contratação de profissionais para funções essenciais, como operadores de caixa, repositores de mercadorias e auxiliares de limpeza.
Após a pandemia de Covid-19, muitos trabalhadores migraram para atividades informais ou buscaram oportunidades em áreas como aplicativos de entrega, tecnologia e comércio eletrônico, reduzindo o interesse pelas vagas oferecidas por supermercados.
Frente a esse desafio, gestores de redes supermercadistas adotaram a estratégia de firmar parcerias com o Exército, que passou a oferecer a possibilidade de reintegração ao mercado de trabalho para militares da reserva e aposentados.
Militares da reserva ocupam vagas em supermercados
Conforme informações dos próprios empregadores, esses profissionais têm se mostrado aptos a exercer funções operacionais e administrativas, destacando-se principalmente pela disciplina, pontualidade e comprometimento.
Um gerente de uma das maiores redes varejistas do país relata que “os ex-militares trazem uma bagagem importante de responsabilidade, o que contribui diretamente para o funcionamento das lojas e para a qualidade do atendimento ao público”.
A alternativa ganhou notoriedade em estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, regiões onde a rotatividade do quadro de funcionários é historicamente elevada.
Segundo a Abras, a contratação de militares da reserva não deve ser considerada uma solução permanente, mas sim uma medida emergencial diante da escassez de mão de obra qualificada e disponível.
O presidente da associação, João Galassi, afirmou que “é fundamental valorizar a experiência desses profissionais, mas o setor precisa investir também em programas de capacitação e na melhoria das condições de trabalho para atrair novos funcionários e manter a sustentabilidade do negócio”.
Impacto da escassez de mão de obra no setor
Especialistas em recursos humanos ouvidos pela reportagem apontam que a estratégia revela tanto um problema estrutural do mercado de trabalho quanto uma possível tendência para outras áreas, como segurança patrimonial, logística e até mesmo setores administrativos de hospitais e escolas.
De acordo com a consultora de carreira Thaís Targa, “a escassez de mão de obra no varejo tem relação direta com remunerações baixas, jornadas extensas e poucas oportunidades de crescimento. A chegada de profissionais experientes, como militares aposentados, supre parte da necessidade, mas não resolve o problema central”.
O fenômeno da escassez de mão de obra em supermercados também chama atenção para a necessidade de políticas públicas voltadas à qualificação e à valorização dos trabalhadores.
De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em maio de 2025, o desemprego recuou para 7,4%, menor patamar desde 2014, porém, o crescimento do emprego informal e a baixa atratividade de funções operacionais continuam sendo obstáculos enfrentados por empresas do varejo.
Consequências para consumidores e operação das lojas
Além do impacto imediato nas operações das lojas, a falta de profissionais afeta diretamente o atendimento aos consumidores, resultando em filas maiores, redução no horário de funcionamento e sobrecarga dos funcionários efetivos.
Segundo levantamento da Abras, cerca de 18% dos supermercados de médio e grande porte registraram aumento no número de reclamações de clientes relativas à demora no atendimento e à falta de produtos nas prateleiras, fatores que podem comprometer a fidelização e a satisfação do público.
Adaptação e experiência dos militares contratados
Outra questão debatida por representantes do setor é a adaptação dos militares ao novo ambiente de trabalho.
Muitos deles, após anos de serviço nas Forças Armadas, encontram nos supermercados uma oportunidade para retornar ao mercado formal e garantir renda complementar à aposentadoria.
A experiência adquirida ao longo da carreira militar, marcada por hierarquia rígida e rotinas disciplinadas, tem sido considerada um diferencial no desempenho das atividades, conforme relatos de gerentes e supervisores das redes supermercadistas.
Caminhos para valorizar e reter profissionais
Por outro lado, entidades ligadas aos trabalhadores e sindicatos apontam a necessidade de criar políticas permanentes de formação profissional e de valorização salarial, defendendo que a solução definitiva para a escassez de mão de obra nos supermercados deve passar por investimentos em treinamento, condições dignas de trabalho e planos de carreira mais atrativos.
Ainda que a iniciativa de contratação de militares da reserva pelo setor supermercadista tenha surgido como uma resposta rápida e criativa à falta de profissionais, especialistas alertam que apenas o aumento da oferta de mão de obra não é suficiente para sanar as demandas estruturais do setor.
O desafio, portanto, permanece: conciliar produtividade, qualidade de atendimento e valorização dos trabalhadores diante das mudanças constantes no mercado.
Enquanto redes supermercadistas buscam alternativas para manter o funcionamento pleno de suas lojas, o debate sobre a escassez de mão de obra se intensifica, estimulando a reflexão sobre como o Brasil pode, de fato, construir um ambiente de trabalho mais atrativo, qualificado e justo.
A questão que fica é: será que a solução encontrada pelos supermercados poderá inspirar outros setores a repensarem suas estratégias de contratação e valorização dos profissionais?
Prezado jornalista Alisson Ficher,
Parabéns pela matéria, ela reflete fielmente a realidade humana/trabalhista do nosso varejo.
Laborei no RH de uma importante rede varejista; neste cargo por 14 anos. E tenho um parente MILITAR reformado também.
Este meu parente leu a tua materia, gostou, mas pediu, se possível, pra vc corrigir o título: não use a palavra “CONVOCADO”.
Apenas isto!
Mais uma vez, parabéns!
Quem devia está trabalhando era os jovens bolsas família, essa hora só na casa vizinha a minha há 6 jovens todos juntos com jovens e menores sem trabalho, todos em casa o dia todo, não são ****, mas todo final de semana é vhurrasco sábado e domingo. Se juntam porque mãe solteira tem direito a 2 benefícios, aprenderam com os militares do exército as filhas não casam para ficarem com as pensões de até 70 mil dos oficiais
Infelisment e o tipo de processo de seleção que tem impedido as pessoas de trabalharem nesse ramo, trabalhei no recrutamento e seleção do Pao de Açucar central central em São Paulo, 13 de maio e tinhamos em media 500 candidatos por dia, hoje as empresa fazem tudo on line, e da epoca, porem a forma de avaliação e por um robo, vejo por mim, sou cota para deficiente, excelente em gestão de lojas e não consigo sequer fazer uma entrevista.
tenho experiencia em quebras, perdas, prevenção, escalas de jornada com avaliação de picos e baixas, analise de pedidos e rotação de estoques