Riqueza escondida no pasto: saiba como um resíduo fisiológico raro virou item de luxo no mercado asiático e movimenta fortunas com exportações clandestinas
O chamado “ouro bovino” tem despertado curiosidade e interesse no Brasil e no exterior. Trata-se do cálculo biliar de bois, uma substância rara formada dentro da vesícula biliar desses animais e que, surpreendentemente, pode atingir valores de até R$ 300 mil por quilo. O nome chamativo se justifica pelo alto valor de mercado e pela escassez do produto, tornando-o uma verdadeira preciosidade no comércio internacional.
De acordo com o médico-veterinário Walter de Oliveira Graça Júnior, técnico agropecuário na região de Itapetininga (SP), essas pedras são compostas por colesterol, bilirrubina e sais minerais que se acumulam no organismo ao longo de muitos anos. “É um resíduo fisiológico que só aparece com o tempo. Animais mais velhos, criados de forma extensiva, têm mais chance de apresentar esses cálculos”, explica o especialista.
Por que é tão raro encontrar o “ouro bovino”
A raridade do cálculo biliar está diretamente ligada ao modelo produtivo da pecuária brasileira. Por causa da alta demanda por carne, o país tem adotado o abate precoce, sacrificando animais jovens com poucos anos de vida produtiva. Isso reduz drasticamente as chances de formação de cálculos biliares, que exigem tempo e condições específicas de saúde do animal.
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“Para atender ao mercado, os bois são abatidos cada vez mais cedo. Isso impede que o cálculo biliar se forme”, explica Walter. Ele acrescenta que apenas duas em cada 100 vacas podem desenvolver a pedra, geralmente pequenas, com entre um e cinco centímetros de diâmetro.
Esse fator de escassez faz com que o produto seja altamente valorizado. No mercado asiático, onde há demanda constante, o quilo pode variar entre R$ 100 mil e R$ 300 mil, conforme a pureza e a coloração do material. O Brasil, segundo o especialista, produz cerca de 2 mil quilos por ano, resultado do abate de aproximadamente 2 mil bois para cada quilo obtido — um dado que mostra o quanto o “ouro bovino” é raro e caro.
A informação foi divulgada pelo G1, que também destacou casos de apreensões policiais, como a registrada em Iaras (SP), onde foram encontrados mais de 1,1 quilo de fel bovino, avaliado em R$ 800 mil.

Para que serve a pedra da vesícula do boi
O cálculo biliar bovino tem uso tradicional na medicina chinesa há mais de 2 mil anos. O produto é utilizado na fabricação de remédios naturais para transtornos neurológicos, convulsões e febres, além de ser empregado como amuleto espiritual em algumas culturas. Na Ásia, ele é considerado um ingrediente de alto valor energético e medicinal, o que mantém o comércio aquecido.
No entanto, no Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não reconhece propriedades terapêuticas nessas substâncias. Assim, não há regulamentação oficial que permita o uso medicinal do material em território nacional. Apesar disso, a demanda internacional mantém o mercado paralelo ativo, com exportações muitas vezes clandestinas.
Um comércio valioso e quase invisível
Embora a comercialização não seja formalmente proibida, ela ocorre quase sempre fora dos canais oficiais, sem fiscalização sanitária e sem recolhimento de impostos. Muitas vezes, as pedras são retiradas de frigoríficos de forma ilegal, escondidas em mochilas ou exportadas por intermediários ligados ao contrabando internacional.
“Não é proibido vender, mas é um mercado informal”, detalha Walter. “Há pessoas que extraem o material em abatedouros e vendem sem controle, inclusive para fora do país.”
Esse mercado paralelo se tornou tão lucrativo que já atraiu a atenção das autoridades policiais. Em uma das apreensões mais recentes, a Polícia Rodoviária encontrou uma mochila com 1,181 quilo de fel bovino, avaliado em mais de R$ 800 mil, reforçando o quanto o “ouro bovino” é cobiçado.
Entre o mito e o lucro: o fascínio que mantém vivo o mercado do ‘ouro bovino
O “ouro bovino” é uma das curiosidades mais valiosas e controversas do agronegócio brasileiro. Enquanto para muitos trata-se apenas de um resíduo fisiológico, para outros representa um tesouro biológico de alto valor cultural e econômico. Entre a tradição milenar da medicina oriental e o mercado clandestino moderno, as pedras da vesícula do boi continuam despertando fascínio — e fortunas — ao redor do mundo.



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