Tecnologia esquecida pode ser a chave da próxima revolução energética global, com segurança e baixo impacto ambiental.
Desde a década de 1960, uma fonte promissora de energia tem sido deixada de lado em favor de alternativas mais conhecidas e menos eficientes. Trata-se do Tório, um elemento químico que poderia reescrever o papel da energia nuclear no mundo. Apesar de suas vantagens evidentes, ele ficou à margem das decisões políticas e industriais por mais de meio século.
Agora, com os avanços nos chamados reatores de sal fundido e a busca urgente por soluções limpas, o Tório volta ao debate com potencial para liderar a próxima revolução energética global. Protótipos estão sendo desenvolvidos em países como Dinamarca, China e Suíça, e pequenas empresas começam a se mover na direção de um futuro mais seguro, acessível e eficiente.
A promessa esquecida do Tório
Na década de 1960, cientistas do laboratório de Oak Ridge, nos Estados Unidos, operaram com sucesso um reator experimental movido a Tório por mais de 15 mil horas. O projeto demonstrou vantagens claras: baixo risco de acidentes, segurança operacional e reaproveitamento de combustível. O reator usava sal fundido como meio de resfriamento, eliminando o risco de explosões por superaquecimento.
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Apesar dos resultados positivos, o projeto foi abandonado. O foco da indústria nuclear migrou para o urânio, em parte por razões políticas e militares — o urânio era mais adequado para produção de armamentos. Desde então, o Tório foi praticamente esquecido, mesmo sendo mais abundante na natureza, menos radioativo e com resíduos que se desintegram mais rapidamente.
Um novo capítulo com reatores modulares
Nos últimos anos, startups e centros de pesquisa passaram a apostar em reatores modulares de sal fundido movidos a Tório. Diferente das usinas nucleares tradicionais, esses novos reatores são compactos — do tamanho de um contêiner marítimo — e podem operar por anos com baixa manutenção e alto controle de segurança.
O conceito de modularidade permite a fabricação em escala, reduz custos e acelera o desenvolvimento tecnológico. Além disso, o sal fundido melhora a estabilidade térmica e possibilita a extração contínua de resíduos radioativos durante o funcionamento. Em caso de falha, o sistema é projetado para se desligar sozinho, evitando acidentes como os de Chernobyl ou Fukushima.
A energia que se multiplica: ciclo breeder do Tório
Um dos diferenciais mais promissores do Tório está em seu ciclo fechado e regenerativo. Ao ser combinado com pequenas quantidades de urânio ou plutônio, o Tório gera urânio-233, que é fissível. A cada reação, mais nêutrons são liberados, gerando energia e novos combustíveis — um ciclo que se alimenta e se expande com o tempo.
Esse tipo de reator é conhecido como “breeder”, pois pode produzir mais combustível do que consome. Os resíduos gerados têm vida útil muito menor que os do urânio convencional, o que reduz drasticamente o problema do lixo nuclear. Trata-se de uma solução que une segurança, escalabilidade e sustentabilidade, algo raro no setor energético.
Por que o Tório ainda não domina o mundo?
Apesar das vantagens técnicas, o Tório ainda enfrenta barreiras complexas. A principal delas é o custo de desenvolvimento inicial: os materiais usados nos reatores precisam suportar corrosão, altas temperaturas e radiação intensa por anos. Além disso, o processo de licenciamento nuclear em muitos países é lento e burocrático.
Outro fator é o estigma histórico contra energia nuclear, alimentado por acidentes passados e desinformação. Mesmo que os reatores de Tório tenham mecanismos de segurança superiores, o receio popular e a resistência de governos dificultam sua adoção em larga escala. Mas essa realidade começa a mudar, à medida que as pressões climáticas e os custos da energia exigem novas alternativas.
Um futuro adiado — mas não impossível
O caso do Tório mostra como decisões energéticas nem sempre seguem critérios técnicos. Políticas públicas, interesses industriais e até pressões militares afastaram o mundo de uma opção mais limpa e segura. No entanto, o cenário atual aponta para um possível renascimento.
Com startups dinamarquesas desenvolvendo reatores modulares e países como China e Índia retomando projetos com Tório, a próxima revolução energética global pode vir de uma tecnologia esquecida. O desafio agora é transformar essa promessa em realidade, superando obstáculos regulatórios e técnicos com investimento e transparência.
Você acredita que o Tório pode ser o futuro da energia limpa ou será apenas mais uma promessa engavetada? Deixe sua opinião nos comentários.