A Comissão Europeia adotou em 3 de setembro de 2025 as propostas para assinar e concluir o acordo UE-Mercosul. O movimento acontece enquanto os EUA elevam tarifas. Entenda o que foi decidido e o que o Brasil pode ganhar.
O avanço do acordo UE-Mercosul chega em um momento sensível para o comércio exterior brasileiro. Com tarifas mais altas nos Estados Unidos e o fim da isenção para pequenas encomendas, empresas correm para replanejar mercados e logística. Para Bruxelas, a iniciativa reforça diversificação comercial e previsibilidade regulatória entre dois blocos que, juntos, formam um mercado de centenas de milhões de consumidores.
Segundo a Comissão Europeia, em 3 de setembro de 2025 foram encaminhadas ao Conselho da UE as propostas formais para assinatura e conclusão de dois instrumentos: o EU-Mercosur Partnership Agreement (EMPA) e um Acordo Comercial Interino. O interino vale até a ratificação completa do EMPA. Ainda será preciso aprovação dos governos, do Parlamento Europeu e, conforme exigências internas, de parlamentos nacionais.
Em paralelo, o comércio com os EUA ficou mais duro. O governo norte-americano acabou com o de minimis de US$ 800 a partir de 29 de agosto de 2025 e iniciou a fiscalização no mesmo dia. A nova regra atinge remessas de baixo valor, com cobrança de tarifas e procedimentos mais complexos para operadores e transportadoras.
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O que a UE aprovou e o que ainda falta
Não houve “ratificação” final. A Comissão propôs que os países da UE decidam politicamente pela assinatura e pela conclusão dos textos, etapa prévia ao trâmite legislativo. O desenho prevê o uso de um acordo interino para antecipar benefícios até a entrada plena do EMPA, reduzindo incertezas para empresas dos dois lados.
Entre os termos já divulgados, a UE promete cortar tarifas sobre 92% das exportações do Mercosul em até dez anos, enquanto o Mercosul eliminará tarifas sobre 91% das exportações europeias no horizonte do acordo. Carros e autopeças terão reduções graduais por até 15 anos e produtos agro sensíveis ficarão sob cotas.
A Comissão também apresentou salvaguardas e monitoramento para responder a picos de importação ou quedas bruscas de preços em setores sensíveis. Sinais recentes incluem um fundo de crise agrícola e “gatilhos” para limitar fluxos quando houver risco a produtores europeus.
Por que o timing importa para o Brasil, tarifas dos EUA e fim do de minimis
A guinada regulatória nos EUA aumentou custos e paralisou remessas internacionais. Após o fim do de minimis de US$ 800, o tráfego postal global aos Estados Unidos despencou 81% na semana de início da regra, e 88 operadores postais suspenderam parte ou todos os envios, segundo a UPU. Para pequenas empresas e consumidores, a conta subiu e a previsibilidade caiu.
A CBP confirmou que começou a aplicar a ordem executiva em 29 de agosto, exigindo entrada formal e pagamento de tributos para cargas de baixo valor. O Federal Register detalhou a suspensão do benefício para remessas, reforçando a mudança imediata no processo aduaneiro.
O impacto já aparece nos dados brasileiros. Em agosto, primeiro mês com as novas tarifas norte-americanas em vigor, as exportações do Brasil para os EUA caíram 18,5%, mesmo com superávit maior na balança total. Setores como aeronaves, açúcar e máquinas foram os que mais sentiram.
Entraves e salvaguardas, agricultura francesa, meio ambiente e política
Apesar do avanço, o caminho europeu não está livre. Agricultores franceses continuam pressionando contra o acordo por temores de concorrência desleal e padrões ambientais distintos. A resistência envolve França e aliados, com protestos e sinais de veto político se não houver contrapartidas.
Para acalmar Paris e outros críticos, Bruxelas discute cláusulas de proteção e um “protocolo político” com circuit breakers para frear importações em caso de dano a produtores, além de um pacote financeiro para o setor. O Financial Times reportou a intenção de aprovar salvaguardas mais claras, com monitoramento de volumes e preços e possibilidade de medidas rápidas.
Ambientalistas e parte do Parlamento seguem céticos sobre a enforçabilidade dos compromissos climáticos. O debate opõe os ganhos estratégicos de diversificação e integração industrial às pressões internas de segmentos sensíveis, o que pode alongar prazos e exigir ajustes antes das votações.
Quanto o Brasil pode ganhar, PIB, investimentos e acesso a mercado
Estudo do Ipea estima que, entre 2024 e 2040, o acordo pode elevar o PIB do Brasil em 0,46% e aumentar investimentos em 1,49%, equivalente a US$ 9,3 bilhões a preços de 2023. Os ganhos projetados para o Brasil superam os da UE e de outros países do Mercosul no agregado.
Para a indústria, o corte tarifário ajuda a baratear máquinas, insumos e tecnologia vindos da Europa, com efeitos sobre produtividade e competitividade. Já no agro, cotas e cronogramas desenham abertura gradual, o que exige planejamento logístico e adequação regulatória para capturar as janelas de demanda europeias.
Do lado europeu, analistas destacam o potencial de um mercado combinado próximo de 700 milhões de consumidores, argumento usado por defensores do pacto para reduzir dependência de outros polos e compensar perdas ligadas às tarifas dos EUA.
O que vem agora, assinatura, ratificação e a janela política
Com a proposta já na mesa do Conselho da UE, a próxima etapa é a decisão política dos governos. Depois, o Parlamento Europeu precisa dar consentimento. Dependendo do desenho jurídico, alguns parlamentos nacionais ainda terão de votar. É um processo de múltiplas etapas, suscetível a atrasos se a resistência de países-chave persistir.
Há expectativa de aceleração para aproveitar o momento político, mas a aprovação “não está garantida”. A costura de salvaguardas e de compromissos ambientais mais claros é vista como condição para viabilizar o cronograma. Para as empresas brasileiras, o recado é preparar estratégias de mercado para a UE enquanto buscam mitigar o choque regulatório nos EUA.
Na prática, quem se mover antes tende a capturar melhor a transição: ajuste de regras de origem, certificações sanitárias, posições em cotas e mapeamento de clientes europeus se tornam tarefas urgentes para 2025 e 2026, período de provável intensificação das negociações.
E você, acha que o acordo UE-Mercosul pode compensar as tarifas dos EUA e abrir uma rota mais estável para as exportações brasileiras, ou teme que as salvaguardas e exigências ambientais criem novas barreiras e pouca oferta real de mercado? Deixe sua opinião nos comentários.
O Mercosul tem de fazer um acordo com o mundo árabe!!..😁👍