Setor cobra definições do governo sobre o leilão de eólicas offshore para garantir investimentos, ativar a cadeia produtiva e impulsionar a transição energética no Brasil.
A busca por fontes de energia limpa nunca esteve tão presente nas discussões globais quanto nos últimos anos.
Por isso, diante da crescente pressão internacional por metas de descarbonização e da necessidade de diversificar sua matriz elétrica, o Brasil encontra uma oportunidade promissora: o desenvolvimento das eólicas offshore, também conhecidas como eólicas em alto-mar.
Além disso, o setor privado, formado por empresas de energia, investidores e fornecedores de tecnologia, observa com atenção os próximos passos do governo brasileiro em relação ao leilão de eólicas offshore.
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Essa etapa, por sua vez, destrava investimentos e impulsiona a implantação desse modelo de geração de energia no país.
Embora o marco legal tenha sido aprovado em 2025, o mercado ainda espera sinais concretos e datas definidas para ganhar segurança e previsibilidade.
Início e evolução das eólicas offshore no Brasil
Embora o debate sobre o tema tenha ganhado força recentemente, as discussões sobre o aproveitamento dos ventos no mar começaram no Brasil ainda na década de 2010.
Ao mesmo tempo, países como Reino Unido, Alemanha, Dinamarca e China demonstravam que era possível gerar eletricidade de forma abundante e estável em alto-mar, graças à constância dos ventos oceânicos.
Além disso, essas usinas reduzem os impactos visuais e sonoros das turbinas em terra.
No entanto, apesar do potencial evidente, o Brasil demorou a avançar nesse campo.
Ainda que o país conte com uma faixa litorânea extensa e experiência consolidada na indústria de petróleo e gás offshore, durante anos faltaram incentivos regulatórios e estrutura legal.
A situação começou a mudar apenas com a Lei 15097/2025, considerada o marco legal das eólicas offshore, que traçou um caminho mais concreto.
A nova legislação definiu diretrizes para concessões, licenciamento ambiental e coordenação entre órgãos públicos.
Ainda assim, a regulamentação precisa avançar, sobretudo no que diz respeito ao cronograma dos leilões, pois, sem ele, os investidores seguem inseguros e os projetos não saem do papel.
O leilão como ponto de virada para o setor
Sem dúvida, o leilão de eólicas offshore representa um divisor de águas para a transformação dos projetos em realidade.
De fato, esse mecanismo define as áreas marítimas disponíveis, prazos de implantação e critérios técnicos e legais que os investidores devem atender.
Consequentemente, o leilão também estabelece o modelo de remuneração, obrigações contratuais e nível de retorno esperado.
Por esse motivo, esses elementos garantem um ambiente de negócios competitivo, que atrai capital internacional e acelera o aprendizado técnico do setor no Brasil.
De acordo com Matheus Noronha, representante da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a falta de datas claras para o leilão gera apreensão.
Ainda que o governo tenha divulgado as fases do processo, não estipulou marcos temporais, o que impede as empresas de se organizarem com antecedência.
Noronha enfatiza que as ações devem começar agora, mesmo que a entrada em operação esteja prevista apenas para depois de 2030.
Isso ocorre porque as empresas precisam planejar suas cadeias produtivas, contratar equipes, negociar com fornecedores e realizar estudos técnicos.
Portanto, sem esse planejamento, o Brasil corre o risco de perder tempo e competitividade.
Potencial natural e desafios logísticos no Brasil
Sem dúvida, o Brasil reúne condições naturais excepcionais.
Afinal, com mais de 7 mil quilômetros de litoral e regimes de ventos constantes, especialmente no Nordeste, o país pode se tornar um líder na geração eólica offshore.
Além disso, a infraestrutura da indústria de petróleo e gás oferece uma base estratégica.
Plataformas, estaleiros, portos e profissionais qualificados formam um ecossistema já funcional, que pode ser adaptado com mais agilidade e menor custo.
Por outro lado, o país também enfrenta desafios relevantes.
Por exemplo, conectar as usinas offshore à rede elétrica exige investimentos significativos e uma articulação entre estados, operadoras e a ANEEL.
Ademais, o licenciamento ambiental exige atenção especial à biodiversidade marinha e à pesca artesanal.
Em contrapartida, um dos gargalos mais urgentes está na falta de infraestrutura portuária adequada.
A movimentação de turbinas, torres e equipamentos de grande porte requer portos especializados.
Sem esses recursos, os custos logísticos aumentam e a viabilidade econômica dos projetos pode ser comprometida.
O papel da COP30 e o protagonismo brasileiro
Não por acaso, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP30), marcada para novembro de 2025 em Belém, será uma vitrine estratégica para o Brasil.
Com isso, o evento oferece a chance de mostrar avanços concretos no compromisso com a transição energética.
Matheus Noronha argumenta que o Brasil não pode fazer da COP mais uma reunião de promessas.
Ou seja, é necessário demonstrar ações reais, como o lançamento do primeiro leilão de eólicas offshore.
Assim, o país ganha confiança do mercado e reforça sua liderança climática.
Por conseguinte, o Brasil, como anfitrião da COP30, poderá atrair cooperação internacional, financiamentos verdes e parcerias tecnológicas.
Dessa forma, comprometer-se publicamente com o leilão fortalece tanto o posicionamento externo quanto o desenvolvimento interno.
Eólicas offshore como vetor de desenvolvimento
Além da energia limpa, a eólica offshore carrega um potencial de desenvolvimento econômico e industrial.
De acordo com estudos do setor, os projetos podem gerar milhares de empregos, movimentar a indústria naval e impulsionar a inovação em universidades e centros de pesquisa.
Além disso, ao incentivar a produção nacional de componentes, o país pode reduzir a dependência de importações.
Isso fortalece a competitividade e cria uma reindustrialização verde.
Por fim, como fonte renovável, a energia eólica offshore colabora diretamente para que o Brasil atinja seus compromissos climáticos, incluindo o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Dessa maneira, sua contribuição na redução de emissões de carbono é essencial para a agenda ambiental global.
O que falta para o leilão sair do papel?
Para que o leilão de eólicas offshore se concretize, o governo deve apresentar um cronograma claro e público.
Ao definir prazos e critérios transparentes, o Brasil cria um ambiente de confiança capaz de atrair investimentos e parcerias sólidas.
As empresas não exigem subsídios.
No entanto, elas precisam de previsibilidade e segurança jurídica para planejar com antecedência.
Caso contrário, investidores podem priorizar países com regulamentações mais maduras.
Entretanto, se o Brasil agir com rapidez e organização, pode ocupar uma posição de liderança mundial na energia offshore, aproveitando seus recursos naturais, estrutura técnica e capacidade industrial.
O país está diante de uma escolha crucial.
O leilão de eólicas offshore pode marcar uma nova era energética, com base em inovação, sustentabilidade e crescimento econômico.
Portanto, o sucesso dessa jornada exige clareza política, ação imediata e coordenação institucional.
A energia do futuro já sopra em nosso litoral.
Cabe ao Brasil transformar esse vento em potência limpa e duradoura.