Sem recursos para manter as obras de Angra 3, a Eletronuclear alerta o Governo Federal sobre o risco de apagão energético e o futuro das usinas nucleares no Brasil
Segundo uma matéria publicada pelo InfoMoney neste domingo (26), a Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas nucleares brasileiras, enviou um ofício à ENBPar solicitando R$1,4 bilhão ao Governo Federal. O pedido urgente visa evitar a paralisação das obras de Angra 3, projeto estratégico para a matriz energética do país, e conter o risco de um apagão energético nos próximos anos.
Angra 3: projeto estratégico da Eletronuclear pode ser interrompido
Sem recursos para fechar o ano, a estatal prevê inadimplência já em novembro, com vencimentos bilionários e retenção de receitas que servem como garantia de financiamento. Caso o aporte não seja liberado, a Eletronuclear estima que R$6,5 bilhões em dívidas serão antecipadas, comprometendo contratos e a continuidade das obras.
A situação é crítica. O projeto Angra 3 pode ser inviabilizado definitivamente, com passivos que ultrapassam R$21 bilhões. O alerta foi feito diretamente à ENBPar, empresa pública que controla o setor nuclear brasileiro.
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A construção de Angra 3, iniciada há mais de quatro décadas, é considerada essencial para ampliar a capacidade de geração elétrica do Brasil. Com potência prevista de 1.405 megawatts, a usina poderá abastecer milhões de residências. No entanto, o projeto enfrenta sucessivos atrasos, revisões orçamentárias e entraves políticos.
A paralisação de Angra 3 representa um retrocesso na diversificação da matriz energética nacional. Em um cenário de transição para fontes limpas e aumento da demanda, a conclusão da usina é vista como estratégica para garantir estabilidade no fornecimento.
O papel do Governo Federal na crise da Eletronuclear
O Governo Federal é o principal responsável por garantir a viabilidade financeira da Eletronuclear. A ENBPar, holding estatal que administra as usinas nucleares, está analisando o pedido de socorro. A decisão envolve não apenas questões orçamentárias, mas também estratégicas, já que o setor nuclear é considerado de segurança nacional.
A liberação dos R$1,4 bilhão depende de articulação política e aprovação técnica. O montante solicitado precisa ser compatível com o teto de gastos e as prioridades do governo.
A situação reacende o debate sobre a eficiência das estatais, o papel do Estado na infraestrutura energética e os riscos da dependência de recursos públicos para projetos de longo prazo.
Além disso, há preocupação com o impacto fiscal da operação. O Tesouro Nacional ainda não se manifestou oficialmente, mas fontes indicam que o pedido será avaliado com urgência.
Impactos da crise: risco de apagão energético em 2025
Embora Angra 3 ainda não esteja em operação, sua conclusão é vista como crucial para evitar sobrecarga nas demais fontes de geração. A crise da Eletronuclear pode afetar a confiança no setor e gerar instabilidade no fornecimento de energia nos próximos anos.
O Brasil já enfrentou apagões históricos, como os de 2001 e 2021, que causaram prejuízos bilionários à economia. A falta de planejamento e investimento contínuo em infraestrutura energética pode repetir esse cenário, especialmente diante de eventos climáticos extremos e aumento da demanda.
Especialistas alertam que, sem Angra 3, o país ficará mais vulnerável a oscilações no sistema elétrico. A dependência de fontes hidrelétricas, sujeitas à variabilidade climática, aumenta o risco de falhas no abastecimento.
Eletronuclear e os desafios da gestão pública
A crise da Eletronuclear expõe fragilidades na gestão de projetos públicos de infraestrutura. A venda da fatia privada da empresa ao grupo J&F, embora estratégica, não foi suficiente para garantir liquidez imediata. A estatal depende agora da emissão de debêntures e do apoio direto do Governo Federal para manter suas operações.
A falta de previsibilidade orçamentária e a burocracia estatal dificultam a execução de projetos complexos como Angra 3. Além disso, há críticas à condução política da empresa, que enfrenta dificuldades para atrair investidores e cumprir cronogramas.
A situação atual exige uma revisão profunda dos modelos de financiamento e gestão de obras públicas. Sem mudanças estruturais, o país continuará enfrentando gargalos que comprometem sua competitividade e segurança energética.
Caminhos possíveis para evitar a crise
Para evitar o colapso da Eletronuclear e garantir a conclusão de Angra 3, especialistas sugerem medidas como:
- Revisão dos contratos e cronogramas do projeto
- Maior transparência na gestão da estatal
- Parcerias público-privadas para acelerar investimentos
- Fortalecimento da regulação e fiscalização do setor nuclear
- Planejamento orçamentário de longo prazo com metas claras
Além disso, é fundamental que o Governo Federal estabeleça uma política energética integrada, com foco em eficiência, sustentabilidade e segurança. A crise atual pode ser uma oportunidade para repensar o modelo de financiamento de grandes obras e garantir maior previsibilidade.
A retomada da confiança no setor nuclear depende de ações concretas e coordenadas. O Brasil precisa demonstrar capacidade de execução e compromisso com a modernização de sua infraestrutura energética.
O futuro da energia nuclear no Brasil
A energia nuclear representa uma alternativa estratégica para diversificar a matriz energética brasileira. As usinas nucleares de Angra 1 e 2 já operam com eficiência, e Angra 3 é vista como o próximo passo para consolidar essa fonte como pilar do sistema elétrico nacional.
No entanto, o futuro da energia nuclear depende de estabilidade institucional, financiamento adequado e gestão eficiente. A crise da Eletronuclear mostra que, sem planejamento e apoio governamental, projetos estratégicos podem ser comprometidos.
A retomada das obras de Angra 3 é essencial para garantir segurança energética, reduzir a dependência de fontes intermitentes e posicionar o Brasil como referência em tecnologia nuclear. O país tem potencial para liderar a produção de energia limpa e segura, mas precisa superar os desafios atuais com agilidade e responsabilidade.
Por que essa crise importa para todos
A crise da Eletronuclear não é apenas um problema técnico ou financeiro. É um alerta sobre a fragilidade da infraestrutura energética brasileira. A possível paralisação de Angra 3 afeta diretamente o futuro do abastecimento elétrico, a credibilidade do país no setor nuclear e o bolso do consumidor.
Se o Governo Federal não agir rapidamente, o Brasil corre o risco de enfrentar novos apagões, aumento de tarifas e perda de competitividade. A energia é um insumo básico para o desenvolvimento, e sua gestão precisa ser tratada como prioridade nacional.
O momento exige decisões firmes, planejamento estratégico e compromisso com o futuro. A sociedade, os investidores e os gestores públicos precisam entender que a segurança energética é um bem coletivo — e que sua preservação depende de escolhas responsáveis hoje.


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