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Dubai transforma o deserto em campo fértil com fazendas verticais que produzem alimentos o ano inteiro usando tecnologia hidropônica, robótica e 95% menos água

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 23/10/2025 às 18:16
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No coração do deserto, Dubai constrói a maior fazenda vertical do mundo, capaz de produzir milhões de quilos de alimentos por ano com sistemas hidropônicos, luzes LED e inteligência artificial que economizam 95% da água

Em um dos lugares mais áridos do planeta, onde as temperaturas ultrapassam facilmente os 50 °C, uma estrutura metálica e iluminada por luzes LED desafia a lógica: a maior fazenda vertical do mundo. Localizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, ela promete produzir toneladas de alimentos com 95% menos água que a agricultura tradicional, segundo dados divulgados pelo portal Interesting Engineering.

Agricultura em camadas: a aposta dos Emirados Árabes

A agricultura convencional sempre foi um desafio para os Emirados Árabes Unidos. Apenas 0,5% do território é fértil, e o país depende historicamente de importações de frutas, verduras e grãos. Para reverter essa dependência e garantir a segurança alimentar nacional, o governo apostou em tecnologias de agricultura em ambiente controlado (CEA, na sigla em inglês) e em estruturas conhecidas como fazendas verticais.

Essas fazendas utilizam sistemas hidropônicos e aeropônicos que dispensam o solo, alimentando as plantas com soluções nutritivas reaproveitadas em ciclo fechado. Dessa forma, o consumo de água é drasticamente reduzido, enquanto a produtividade aumenta até 300% por metro quadrado. Segundo a empresa escocesa Intelligent Growth Solutions (IGS), que firmou parceria com a ReFarm Global para construir uma unidade de 83 mil m² em Dubai, a produção anual pode ultrapassar 3 milhões de quilos de alimentos frescos, o suficiente para abastecer 20 mil pessoas por ano (Impact Alpha).

Interior de uma fazenda vertical em Dubai, onde fileiras automatizadas de hortaliças crescem sob luzes LED controladas por inteligência artificial, um modelo agrícola que usa até 95% menos água que os métodos tradicionais

Produção sustentável no coração do deserto

As instalações combinam lâmpadas LED de espectro otimizado, sensores de umidade e temperatura, robótica agrícola e sistemas de recirculação de água. Tudo é monitorado em tempo real por inteligência artificial, que ajusta automaticamente a luz e os nutrientes conforme o estágio de crescimento de cada planta.

A fazenda Bustanica, inaugurada em parceria com a Emirates Flight Catering, é um dos exemplos mais conhecidos. O complexo produz diariamente mais de uma tonelada de vegetais de folha verde — alface, espinafre, rúcula e coentro — usados nos voos da Emirates Airlines e vendidos em supermercados locais. Todo o processo ocorre em ambiente fechado, sem agrotóxicos e sem a necessidade de irrigação tradicional, o que elimina o desperdício de até 250 milhões de litros de água por ano, segundo dados da própria empresa.

Outro destaque é a fazenda da empresa Sokovo, localizada na Dubai Industrial City, com capacidade de 360 toneladas anuais de microgreens e hortaliças. O empreendimento faz parte da estratégia nacional de autosuficiência alimentar, que busca reduzir em até 50% as importações de hortaliças até 2030 (Dubai Industrial City).

Como a tecnologia transforma o impossível em rotina

A base de todo o sistema é a hidroponia, método em que as raízes das plantas ficam suspensas em soluções líquidas nutritivas. Já na aeroponia, as raízes recebem névoas de água e nutrientes diretamente, sem substrato algum. Essa técnica maximiza a oxigenação e acelera o crescimento, permitindo colher produtos de qualidade superior em ciclos curtos — às vezes, em menos de 30 dias.

Cada módulo vertical é controlado por sensores IoT (Internet das Coisas) que coletam dados de luminosidade, pH, temperatura e CO₂. Essas informações alimentam algoritmos que ajustam automaticamente os parâmetros, garantindo uniformidade e produtividade constante. Além disso, parte da energia utilizada provém de painéis solares instalados nos telhados das próprias instalações, o que reduz a pegada de carbono do sistema.

Benefícios e desafios do modelo de Dubai

O sucesso das fazendas verticais nos Emirados Árabes não se resume apenas à eficiência hídrica. Elas trazem uma série de vantagens que estão transformando o modo como o país lida com o abastecimento alimentar:

  • Produção local o ano inteiro: sem depender das estações do ano, o país pode colher alimentos frescos mesmo sob temperaturas extremas.
  • Redução das importações: a meta é substituir parte dos alimentos importados, reduzindo custos logísticos e emissões de carbono.
  • Menos desperdício e maior rastreabilidade: os produtos são cultivados perto dos consumidores e chegam às prateleiras em poucas horas.
  • Menor uso de pesticidas: ambientes controlados praticamente eliminam pragas, dispensando defensivos químicos.

Contudo, o modelo também enfrenta desafios. O alto custo inicial das instalações, o consumo de energia e a viabilidade econômica ainda limitam a expansão em larga escala. Segundo a plataforma iGrow News, manter as câmaras climatizadas em pleno deserto exige sistemas de refrigeração potentes, o que eleva o gasto energético. Além disso, a produção ainda se concentra em folhas verdes e ervas, culturas de rápido crescimento, enquanto frutas e cereais continuam fora do alcance tecnológico atual.

O futuro da agricultura em ambientes extremos

Apesar dos desafios, o avanço das fazendas verticais representa um marco para regiões áridas e urbanizadas. O Conselho Atlântico (Atlantic Council) aponta que essa tecnologia se tornará um pilar da segurança alimentar dos países do Golfo, reduzindo vulnerabilidades a crises globais e fortalecendo a resiliência diante das mudanças climáticas.

Se o modelo de Dubai prosperar, ele poderá ser replicado em outras partes do mundo onde o solo fértil é escasso — como o norte da África, o Chile, o sertão nordestino do Brasil e regiões da Califórnia afetadas pela seca. O deserto, antes símbolo de infertilidade, pode se transformar em o novo laboratório agrícola do futuro.

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Kaden Lester
Kaden Lester
23/10/2025 18:20

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Fonte
Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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