Leilão de 2025 expõe a força estrangeira sobre os blocos de petróleo da Amazônia e reacende o debate sobre soberania e transição energética
Em julho de 2025, o governo brasileiro realizou um dos maiores leilões de petróleo da década, com 19 blocos de exploração na costa amazônica. O resultado chamou atenção internacional e reacendeu antigas preocupações sobre a soberania energética do Brasil. Todas as áreas tiveram participação de empresas americanas, e mais da metade envolveu também companhias chinesas.
Entre as vencedoras, ExxonMobil e Chevron, ambas dos Estados Unidos, garantiram posição de destaque. Elas operam os blocos em parceria com a estatal Petrobras e a CNPC (China National Petroleum Corporation). Esse cenário reforça a influência estrangeira na margem equatorial brasileira, uma das últimas fronteiras petrolíferas do planeta.
A situação repete o que ocorreu na Guiana, onde a ExxonMobil assumiu a exploração em 2019 e passou a influenciar toda a economia local. O fotógrafo Victor Moriyama e o repórter Fábio Bispo retrataram essa realidade na série “Até a Última Gota”, publicada pela InfoAmazonia. O trabalho mostrou que o petróleo elevou o PIB da Guiana em mais de 60% em 2022, mas não gerou empregos significativos para a população.
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O modelo guianense revela o risco da dependência econômica
A experiência guianense provou que crescimento econômico não representa desenvolvimento real. Mesmo com o avanço do PIB, a taxa de desemprego permaneceu inalterada. Esse contraste mostra que o lucro se concentrou nas petroleiras, enquanto a população ficou sem benefícios diretos.
Esse desequilíbrio acende um alerta para o Brasil. A promessa de que a exploração trará progresso regional repete o mesmo discurso usado na Guiana. No entanto, os resultados práticos mostram que, sem fiscalização e controle, a exploração tende a favorecer apenas investidores estrangeiros.
Discurso de Lula na ONU e as contradições do governo
Durante a 80ª Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a corrida global por minerais críticos essenciais à transição energética “não pode reproduzir a lógica predatória que marcou os últimos séculos”. Entretanto, a exploração de petróleo, especialmente em áreas sensíveis da Amazônia, ficou fora do discurso.
A ausência do tema chamou atenção, já que o Brasil se prepara para sediar a COP30, conferência internacional sobre mudanças climáticas.
Em entrevista à InfoAmazonia, a jornalista Tais Gadea Lara conversou com André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que destacou a importância dos combustíveis fósseis no debate, mas explicou que o assunto divide espaço com florestas, agricultura e cidades.
Segundo ele, “alguns países queriam que a questão dos combustíveis fósseis fosse retomada na negociação, mas isso já foi decidido universalmente. Todos nós já concordamos em fazer a transição”. Ele acrescentou que a COP30 poderá propor um cronograma global de transição, detalhando regras por tipo de país e combustível, mas ressaltou que o mundo não precisa esperar novas negociações para agir.
Exploração continua prioridade no Brasil, apesar das críticas
Mesmo com a pressão internacional, o governo brasileiro mantém a exploração de petróleo como prioridade. O avanço dos blocos na margem equatorial mostra que o país ainda aposta fortemente na produção fóssil, ao mesmo tempo em que tenta sustentar um discurso de transição energética e sustentabilidade.
Especialistas alertam que o desafio será equilibrar crescimento econômico e preservação ambiental. A exploração ocorre em áreas de alta sensibilidade ecológica, como os manguezais e o Grande Sistema de Recifes Amazônicos, que exigem rigorosa proteção.
Dessa forma, o Brasil enfrenta uma escolha difícil: continuar investindo em combustíveis fósseis ou acelerar o desenvolvimento de energias renováveis. A decisão definirá se o país se tornará referência em transição verde ou repetirá erros de dependência externa.
E diante do domínio crescente das multinacionais sobre o petróleo nacional, a pergunta que ecoa é a mesma que atravessa gerações: o petróleo é nosso ou deles?