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Dólar em xeque? O que o DXY, a China, os Brics e as reservas internacionais revelam sobre o futuro da moeda americana

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 31/08/2025 às 17:19
Dólar em queda no DXY, pressão dos Brics e avanço da China desafiam a moeda americana, mas hegemonia segue forte nos mercados globais.
Dólar em queda no DXY, pressão dos Brics e avanço da China desafiam a moeda americana, mas hegemonia segue forte nos mercados globais.
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O desempenho recente do dólar desperta atenção nos mercados globais, com oscilações do DXY, pressões geopolíticas e iniciativas de países emergentes levantando questionamentos sobre o alcance e a resistência da moeda mais utilizada no comércio internacional.

O desempenho recente do dólar reacendeu o debate sobre sua força global. De janeiro ao fim de agosto de 2025, o Dollar Index (DXY) acumula queda próxima de 10,6%, refletindo expectativas sobre juros nos EUA e maior apetite por outras moedas.

Ainda assim, a moeda segue dominante em pagamentos e reservas, enquanto China e Brics testam rotas alternativas.

DXY: termômetro da confiança

O DXY mede o dólar contra uma cesta de moedas como euro, iene e libra. Em 2 de janeiro, o índice rondava 109 pontos; no fim de agosto, girava perto de 98.

A variação captura, de um lado, o ajuste nas apostas para cortes de juros e, de outro, o impacto de políticas comerciais mais duras.

Projeções de bancos e casas de análise apontaram alívio adicional do dólar ao longo de 2025, ainda que com volatilidade.

Enquanto isso, a agenda tarifária dos EUA ganha peso no cenário.

A administração Donald Trump ampliou tarifas de forma abrangente e enfrenta questionamentos nos tribunais sobre a base legal dessas medidas, que afetam cadeias de comércio e preços de importados.

O tema pode ter desdobramentos até 2026, mantendo a incerteza no câmbio.

Reservas internacionais: onde o dólar ainda impera

Nos cofres dos bancos centrais, o dólar continua majoritário.

Dados do FMI indicam que a participação da moeda americana ficou em cerca de 57,8% no fim de 2024.

O euro aparece em segundo lugar, na casa de 20%, enquanto outras divisas dividem fatias menores.

Mesmo com leve recuo ao longo da última década, a primazia do dólar nas reservas permanece sólida.

Além do volume, pesa a liquidez dos ativos em dólar e a profundidade do mercado de Treasuries.

Foi esse ecossistema, somado à estabilidade institucional norte-americana, que consolidou o papel do dólar após a Segunda Guerra e atravessou o fim do padrão-ouro em 1971.

Pagamentos globais: liderança nos fluxos via Swift

Nos pagamentos internacionais, a moeda americana também segue à frente. Em junho de 2025, o dólar respondeu por 47,19% dos pagamentos por valor na rede Swift.

Quando se exclui transações dentro da zona do euro, a participação sobe a 58,39%. Já o renminbi (RMB), da China, ficou em 2,88%, na sexta posição.

Os números mostram espaço para diversificação, mas confirmam a centralidade do dólar na infraestrutura financeira.

China e Brics: alternativas ganham tração, não hegemonia

No eixo emergente, cresce o esforço para liquidar comércio em moedas locais e reduzir custos e riscos ligados ao dólar.

Na cúpula dos Brics realizada no Rio de Janeiro em julho, os países priorizaram a expansão de arranjos de pagamento e o uso de divisas nacionais.

Uma moeda comum não entrou na pauta.

A discussão incluiu iniciativas como o uso do sistema CIPS em operações bilaterais e projetos do Novo Banco de Desenvolvimento em moeda local.

O desenho de um arranjo unificado, no entanto, permanece distante.

Por outro lado, episódios recentes de sanções, tarifas e choques geopolíticos funcionam como catalisadores para que países busquem redundância em canais de liquidação e em ativos de reserva.

Ainda assim, a dispersão regulatória, a assimetria de mercados de capitais e o controle de capitais em grandes economias limitam a substituição rápida do dólar.

Como o dólar chegou ao topo — e por que continua lá

Para especialistas, a posição atual resulta de um processo de décadas.

O dólar americano se tornou a principal moeda no comércio global devido à força econômica dos Estados Unidos, principalmente no pós-Segunda Guerra Mundial”, afirma Carla Beni, economista e professora da FGV.

O ponto de inflexão foi Bretton Woods, em 1944, quando a moeda foi ancorada ao ouro e ganhou a confiança de governos e mercados.

Mesmo após 1971, quando o presidente Richard Nixon encerrou a conversibilidade em ouro, o dólar preservou a centralidade graças a instituições estáveis, mercados profundos e à criação de pilares como FMI e BIRD, que sustentaram a arquitetura financeira.

Segundo Carla, “todos os países passaram a acumular reservas internacionais em dólares”, o que deu peso e estabilidade à moeda nas décadas seguintes.

Risco de perda de hegemonia?

A queda do DXY em 2025 e o avanço de agendas como a dos Brics reacenderam previsões sobre um mundo com menor dependência do dólar.

No entanto, os dados de reservas e pagamentos sugerem que a transição, se ocorrer, tende a ser gradual.

Como pontua Carla Beni, “o dólar ainda domina como moeda de reserva global”.

Ela acrescenta que o processo de diversificação é lento porque oscilações do dólar impactam o valor das reservas de outros países.

Além disso, para que outra moeda assuma papel equivalente, seriam necessárias condições simultâneas: confiança na estabilidade econômica e política do emissor, mercado financeiro líquido e profundo, aceitação ampla nas transações e integração às redes de pagamento.

Sem esse conjunto, a preferência por ativos em dólar tende a persistir.

O que observar daqui para frente

Sinais relevantes virão de três frentes.

Primeiro, a trajetória de juros nos EUA e seu efeito sobre o DXY e os fluxos globais.

Segundo, a evolução de tarifas e barreiras — tema hoje no centro da política econômica americana — e como isso realoca cadeias e moedas de faturamento.

Terceiro, a engenharia institucional dos Brics e de outras coalizões: o êxito em operar sistemas interoperáveis e em ampliar mercados de dívida em moeda local pode reduzir, na margem, a demanda por dólares, sem eliminá-la no curto prazo.

Em síntese, o dólar passa por um teste real de resiliência, não de substituição imediata.

A pergunta que importa não é se ele deixará de ser a âncora do sistema, mas quanto de sua participação pode ceder a alternativas e em que velocidade — diante desse cenário, qual indicador você acompanharia primeiro: o DXY, a fatia do dólar nas reservas ou o avanço dos sistemas de pagamento alternativos?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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