Da era dourada ao retorno digital: cassinos no Brasil enfrentam nova fase com regulamentação de apostas online e desafios antigos ainda em pauta
Os cassinos no Brasil carregam uma história marcada por altos e baixos. Desde tempos de luxo e salões lotados até a proibição total por décadas, a trajetória desse tipo de entretenimento é cheia de mudanças. Agora, com a recente regulamentação dos cassinos online e das apostas esportivas, o país entra em uma nova fase que promete transformar o mercado de jogos.
Dos tempos dourados ao veto de 1946
Tudo começou no início do século XX. Em 1920, o presidente Epitácio Pessoa autorizou a abertura de cassinos em estâncias balneárias e locais com águas termais. Três anos depois, em 1923, foi inaugurado o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, que abrigava o famoso Cassino Copacabana.
A década de 1930 marcou o auge dos cassinos no Brasil, com destaque para o Cassino da Urca, que se tornou um dos maiores da América Latina.
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Esse período ficou conhecido como a era de ouro dos cassinos no país, entre 1930 e 1945. Grandes salões operavam em diversas regiões e atraíam artistas, empresários, políticos e a elite da época.
No entanto, em 1946, tudo mudou. O então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu os cassinos, alegando que eram nocivos à moral e aos bons costumes. Desde então, a atividade passou a ser ilegal no Brasil.
O Rei da Roleta e os salões lendários
Durante os anos 1930, Joaquim Rolla se destacou como uma das figuras mais conhecidas do cenário dos jogos. Conhecido como o “Rei da Roleta”, Rolla foi sócio do Cassino da Urca e dono de outros cassinos importantes no país. Entre eles, estavam os salões da Pampulha, em Belo Horizonte, e de Icaraí, em Niterói.
Seu maior projeto foi o cassino da Quitandinha, em Petrópolis. O local era tão grandioso que, se estivesse funcionando até hoje, estaria entre os maiores da América Latina.
Os cassinos de Joaquim Rolla também foram palco de apresentações de artistas renomados, como Yma Sumac e a orquestra de Ray Ventura. Estrelas internacionais, como a atriz Lana Turner e o Rei Carlos II da Romênia, também passaram por lá.
Proibição que moldou décadas
A partir de 1946, os cassinos foram oficialmente proibidos e passaram a ser considerados crime. Muitos dos locais que antes abrigavam mesas de jogos viraram apenas hotéis ou resorts. A última roleta girou no Copacabana Palace no dia 30 de abril daquele ano, antes da proibição decretada pelo governo Dutra.
Com a restrição, o cenário dos jogos no país se transformou. Formas alternativas de apostas começaram a surgir, algumas autorizadas por lei e outras de maneira informal.
Jogos informais e a permanência do hábito
Apesar da proibição, os brasileiros não deixaram de jogar. As apostas em corridas de cavalo e nas loterias da Caixa Econômica Federal continuaram legalizadas. Além disso, o tradicional jogo do bicho seguiu ativo, mesmo de maneira informal, em diversas comunidades.
Outro exemplo foram os bingos, que eram comuns em várias cidades até 2004, quando também foram proibidos. Esse cenário alimentou o debate sobre a necessidade de uma regulamentação mais clara e eficaz para o setor.
Crescimento dos cassinos online
Nos últimos anos, os jogos online ganharam espaço no Brasil. O avanço da tecnologia e a facilidade de acesso à internet impulsionaram o crescimento das plataformas de cassino virtuais.
Esse movimento trouxe de volta jogos clássicos, como a roleta, que voltou a ser uma das modalidades mais populares entre os brasileiros.
Em 2018, a Lei 13.756/2018, aprovada no governo de Michel Temer, permitiu a operação de cassinos online estrangeiros no país. Já em 2023, a Câmara dos Deputados aprovou a regulamentação das apostas esportivas e dos cassinos virtuais, marcando um novo momento para o setor.
Estrutura para um mercado mais seguro
Com a liberação recente, surgem também novas preocupações. O mercado de jogos no Brasil ainda enfrenta desafios relacionados à segurança, responsabilidade e proteção dos usuários. Um exemplo disso foi o escândalo envolvendo um cassino online, que reforçou a necessidade de regras claras.
Para tentar fortalecer o setor, entidades como o Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR) têm buscado estabelecer boas práticas. O IBJR propõe ações de conscientização sobre o jogo responsável e defende um código de publicidade para operadoras.
Essas medidas visam garantir que os usuários tenham mais segurança e que as empresas atuem de forma ética, respeitando limites e protegendo os mais vulneráveis.
Cassinos online: Uma nova fase com desafios antigos
A legalização dos cassinos online e das apostas esportivas representa um marco importante na história dos jogos no Brasil. No entanto, o país ainda precisa enfrentar desafios antigos, como o controle da informalidade, a fiscalização adequada e o combate a possíveis abusos.
Apesar das transformações e da modernização do setor, o debate sobre o jogo no Brasil continua vivo. Questões políticas, éticas e econômicas seguem em pauta. O que se vê hoje é o esforço para construir um mercado equilibrado, que respeite as leis e ofereça opções seguras para quem deseja jogar.
A trajetória dos cassinos no Brasil revela uma mistura de glamour, proibição e reinvenção. Da roleta nos salões de luxo ao clique nos cassinos online, o jogo continua presente na vida dos brasileiros.
Agora, com novas regras e maior visibilidade, o país dá mais um passo na tentativa de conciliar tradição, tecnologia e responsabilidade.
Com informações de História do Mundo.