A dívida pública brasileira já é de 90% do PIB pelo critério do FMI, bem acima da divulgada oficialmente pelo Banco Central (77,6%), porque Brasília não contabiliza os títulos do Tesouro na carteira do próprio BC. Isso coloca o Brasil entre os países mais endividados do mundo emergente, aumentando pressão por juros altos e afastando o grau de investimento.
A dívida real do Brasil chegou a 90% do PIB em 2025, segundo cálculo do Fundo Monetário Internacional (FMI) citado pelo g1. O número é bem mais alto que os 77,6% divulgados oficialmente pelo Banco Central porque Brasília não inclui na conta os títulos públicos na carteira do próprio BC, usados para regular a liquidez e a Selic. Esse detalhe metodológico faz toda a diferença: coloca o Brasil entre os países mais endividados do mundo emergente, acima da média latino-americana de 70% e da média de 69,5% observada em outros emergentes.
A consequência imediata desse dado é clara: quanto maior o endividamento, maior a pressão sobre os juros, menor a credibilidade internacional e mais distante fica o retorno do grau de investimento selo de bom pagador perdido em 2015.
Quem mede a dívida e por que os números divergem
Segundo o Banco Central, a dívida real do Brasil equivale a 77,6% do PIB, ou R$ 9,6 trilhões, considerando o conceito de dívida bruta do setor público. Mas o FMI adota metodologia internacional que inclui os títulos em poder do Banco Central, elevando o índice a 90%.
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Essa diferença de 12 pontos percentuais é determinante. Enquanto o governo apresenta números menos alarmantes, o mercado internacional usa o critério do FMI para comparar países.
Isso amplia a percepção de risco fiscal e coloca o Brasil em posição desfavorável frente a vizinhos latino-americanos.
Quanto a dívida cresceu ao longo dos governos
A série histórica do FMI mostra que a dívida real do Brasil era de 67% do PIB em 2001 e permaneceu relativamente estável até 2014.
A disparada começou no segundo mandato de Dilma Rousseff, com alta de 16 pontos em apenas dois anos.
O auge foi em 2020, sob Jair Bolsonaro, quando os gastos emergenciais da pandemia levaram a dívida para o maior patamar da história.
Mesmo assim, o governo terminou 2022 com 83,9% do PIB pelo critério internacional. Agora, sob Lula, o indicador já cresceu mais seis pontos em pouco mais de dois anos.
Onde estão as maiores pressões sobre o orçamento
Entre as medidas que mais pressionaram a dívida real do Brasil no atual governo estão a PEC da transição, que abriu R$ 170 bilhões em gastos anuais, o reajuste real do salário mínimo, que aumenta a despesa previdenciária, e a retomada dos pisos constitucionais de saúde e educação.
Além disso, o governo quitou R$ 92,3 bilhões em precatórios atrasados e concedeu reajustes a servidores.
Segundo o Tesouro, a dívida deve atingir 84,3% do PIB em 2028 pelo critério brasileiro.
Mas, pelo método do FMI, pode chegar a 96% em 2033 e até superar 100% do PIB em 2035 marca associada a economias em risco de estagnação.
Por que a dívida alta afasta o grau de investimento
O impacto da dívida real do Brasil vai além das estatísticas. Uma dívida elevada pressiona a Selic, hoje em 15% ao ano, e encarece o crédito para famílias e empresas. Isso trava o consumo, os investimentos e limita o crescimento econômico.
No cenário externo, agências de risco já reagiram. A Moody’s reduziu a perspectiva do Brasil de “positiva” para “estável” em 2024, e a Fitch afirmou que não vê chance de o país recuperar o grau de investimento no curto prazo.
Sem o investment grade, fundos internacionais mais conservadores não aplicam no Brasil, restringindo a entrada de capital de longo prazo.
O que poderia reverter a trajetória
Especialistas citados pelo g1 defendem que apenas uma reforma robusta dos gastos obrigatórios poderia alterar a trajetória da dívida real do Brasil. Entre as propostas em discussão estão:
Reforma administrativa para conter despesas com servidores;
Nova reforma da Previdência ou desindexação parcial de benefícios;
Revisão dos pisos constitucionais de saúde, educação e Fundeb;
Ajustes em programas como abono salarial e seguro-desemprego.
Sem mudanças, o arcabouço fiscal aprovado em 2023 corre risco de perder validade. A regra limita o crescimento real dos gastos a 2,5% ao ano e vincula despesas a 70% da alta da receita. Se os gastos obrigatórios continuarem subindo, a regra pode se tornar insustentável.
Vale a pena confiar no índice oficial?
Esse é o ponto central da discussão. Enquanto o governo apresenta uma dívida de 77% do PIB, o mundo enxerga o Brasil com 90% de endividamento real. Para os investidores, vale mais o número do FMI, o que amplia a desconfiança e eleva o risco de crédito.
Essa divergência metodológica gera descompasso entre discurso interno e percepção externa. E, no fim, o efeito é prático: juros altos, crédito caro e economia travada.
A dívida real do Brasil já ultrapassa 90% do PIB pelo critério do FMI, um patamar que pressiona a economia e afasta a possibilidade de recuperar o grau de investimento.
A diferença entre a estatística oficial e a internacional aumenta a percepção de risco, eleva os juros e dificulta o crescimento.
E você, acha que o governo deveria adotar a metodologia do FMI para dar mais transparência? Ou considera válido manter o índice oficial de 77% do PIB?
Deixe sua opinião nos comentários queremos ouvir quem acompanha de perto o impacto da dívida pública no Brasil.