Dívida crescente, instabilidade governamental e risco de contágio econômico no bloco europeu
A França enfrenta uma crise sem precedentes, que combina instabilidade política e uma dívida pública em escalada contínua. O primeiro-ministro François Bayrou, sem maioria no Parlamento, pode perder a votação de confiança marcada para 8 de setembro de 2025. O cenário repete o ocorrido em dezembro de 2024, quando o governo de Michel Barnier foi derrubado após menos de 100 dias no poder.
A questão central é se a segunda maior economia da União Europeia conseguirá evitar que sua dívida pública, que já atinge 3,35 trilhões de euros (114% do PIB), fuja ao controle. Segundo projeções, o índice poderá ultrapassar 125% do PIB até 2030, acentuando a preocupação de todo o continente.
Dívida francesa já supera níveis críticos
Nenhum outro país da União Europeia acumula dívida absoluta tão alta quanto a França. Apenas Grécia e Itália apresentam maior relação dívida/PIB. Além disso, a França responde pelo maior déficit fiscal do bloco, estimado entre 5,4% e 5,8% do PIB em 2025, muito acima do limite de 3% exigido pela UE.
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Para reduzir esse déficit, seriam necessários cortes severos no orçamento, medida considerada politicamente inviável. Essa dificuldade provoca reações dos mercados financeiros, que aplicam sobretaxas de risco sobre os títulos da dívida francesa. O economista Friedrich Heinemann, do Centro Leibniz de Pesquisa Econômica Europeia (ZEW), afirmou que “a zona do euro não está estável neste momento” e que a fragilidade francesa ameaça o equilíbrio econômico do bloco.
Protestos e paralisações reacendem memória dos coletes amarelos
Enquanto a crise econômica pressiona, a tensão social também cresce. Os sindicatos convocaram uma greve geral para 10 de setembro de 2025, dois dias após a votação no Parlamento.
Esse movimento remete à onda de protestos dos “coletes amarelos” em 2018, desencadeados pelo aumento nos impostos sobre combustíveis. Na época, as manifestações paralisaram o país e deixaram marcas profundas na política do presidente Emmanuel Macron, que hoje tenta mais uma vez manter a governabilidade.
Comissão Europeia e BCE diante de dilema estratégico
A postura da Comissão Europeia é criticada por especialistas, que afirmam que Bruxelas “fechou os olhos para a França durante anos” para evitar fortalecer correntes populistas.
Atualmente, apenas para pagar 67 bilhões de euros anuais em juros, o governo francês é obrigado a cortar investimentos em setores estratégicos. Além disso, existe a expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) possa intervir comprando títulos franceses. Contudo, economistas alertam que essa medida poderia comprometer a credibilidade da instituição em todo o bloco.
Falta de reformas agrava o cenário fiscal
A exemplo da Alemanha, a França precisa de reformas estruturais que reduzam os gastos públicos e tornem a economia mais sustentável. Entretanto, a alternativa de elevar impostos é inviável, já que o país tem uma das maiores cargas tributárias da Europa.
A ascensão dos populistas de esquerda e direita inviabiliza um consenso político. “O centro está desaparecendo e não vejo nenhuma solução à vista”, afirmou Heinemann, ao avaliar a situação no Parlamento francês.
O economista Andrew Kenningham, da consultoria Capital Economics, avalia que os riscos, por enquanto, estão sob controle. Entretanto, ele alerta que a crise pode se transformar em uma ameaça maior para todo o projeto europeu, caso não haja soluções rápidas e sustentáveis.
Tensões comerciais com os EUA aumentam pressão
A crise ocorre em paralelo às delicadas negociações comerciais entre a UE e os Estados Unidos, que incluem disputas sobre a tributação de gigantes de tecnologia.
De acordo com Heinemann, a tradição protecionista da política francesa, presente tanto à esquerda quanto à direita, aumenta o risco de uma escalada comercial com Washington. Caso a Comissão Europeia adote tarifas de retaliação contra medidas americanas, a possibilidade de uma guerra comercial transatlântica não pode ser descartada.
Linha do tempo recente
- Dezembro de 2024 – Governo de Michel Barnier cai após menos de 100 dias.
- Agosto de 2025 – Dívida pública francesa chega a 3,35 trilhões de euros (114% do PIB).
- 8 de setembro de 2025 – Votação de confiança prevista para o Parlamento francês.
- 10 de setembro de 2025 – Greve geral convocada por sindicatos nacionais.
França no centro do futuro europeu
O desafio francês deixa de ser apenas uma questão nacional e passa a representar um risco direto para a União Europeia. Caso o endividamento atinja os níveis projetados até 2030, a pressão sobre o euro será intensa e exigirá respostas imediatas do BCE e da Comissão Europeia.
A pergunta que fica é inevitável: a França conseguirá reverter sua trajetória de instabilidade fiscal e política, ou colocará em risco o futuro de toda a União Europeia?