Em Shenzhen, idosos e jovens fazem o “último trecho” das entregas em prédios de até 70 andares, cobrando cerca de 2 yuans por pedido.
Cidades verticais criam gargalos simples, elevadores. Em Shenzhen, na China, isso abriu espaço para um trabalho informal que fecha a rota de entrega até a porta do cliente.
Conhecidos como “corredores da último trecho” ou “última milha”, eles recebem o pedido na entrada dos arranha-céus e sobem pelos elevadores ou escadas para finalizar a entrega. A prática se consolidou no complexo SEG Plaza, no bairro de Huaqiangbei.
O pagamento costuma ser 2 yuans por entrega (cerca de US$0,30). A atividade atrai aposentados e jovens em busca de renda extra e rapidez para os motofretistas que não podem esperar longas filas de elevador.
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No entanto, a circulação de vídeos com crianças atuando nessa nova profissão gerou fortes debates, o que levou autoridades locais a coibir o uso de menores, reacendendo discussões sobre segurança e trabalho infantil.
Como nasceu a “última milha” nos arranha-céus de Shenzhen

Nos horários de pico do almoço, a espera por elevador pode inviabilizar que o entregador suba e desça para cada pedido. Em prédios como o SEG Plaza (72 andares), mapas internos complexos e elevadores por zonas tornam o trajeto lento. Runners que já conhecem a malha interna fazem o trecho final com eficiência.
Reportagem do Sixth Tone detalha que esses trabalhadores atuam em cerca de 30 prédios no subdistrito de Huaqiangbei. Muitos são mulheres de meia-idade que disputam pedidos na porta, recebem o repasse via QR code e correm para o andar do cliente.
Para os motofretistas de plataformas como Meituan e Ele.me, terceirizar o último trecho evita multas por atrasos e melhora a produtividade em janelas curtas. O arranjo, embora não formalizado, virou prática cotidiana no polo eletrônico de Shenzhen.
Com a verticalização e a densidade de escritórios, a logística de elevadores virou o gargalo. O “último trecho” reduz esse atrito e mantém a cadeia de entrega de comida fluindo.
Quanto se paga, quem participa e como funciona na prática
O valor padrão é 2 yuans por entrega. Em volumes maiores ou supermercados, alguns cobram mais, até 10 yuans, segundo relatos de campo. A remuneração varia por prédio, horário e concorrência.
Há relatos de ganhos diários modestos para os runners, afetados pela competição; no auge, alguns diziam fazer 80 yuans numa tarde, mas a média caiu com a entrada de mais gente. Para os motofretistas, a existência desses auxiliares pode significar 100 yuans a mais numa tarde em pontos “quentes” como o SEG Plaza. Resultado: menos filas, mais pedidos concluídos.
O perfil é heterogêneo. Aposentados, trabalhadores de limpeza do próprio prédio e jovens entram no circuito após o expediente ou nas férias. O recrutamento é boca a boca. A confiança se constrói pela entrega sem erro e pela rapidez no retorno do comprovante ao entregador.
Crianças trabalhando como “última milha”
Durante as férias de verão, vídeos mostraram crianças com QR codes no pescoço disputando pedidos na porta dos arranha-céus em Huaqiangbei. A prática, vista como “bico” para ganhar mesada, gerou preocupação com riscos de segurança e possíveis violações legais.
Em 12 de agosto de 2025, o South China Morning Post noticiou que autoridades de Shenzhen restringiram a participação de menores após a repercussão online. A reportagem descreve o modus operandi e cita as plataformas Meituan e Ele.me nas cenas registradas.
Em 6 de agosto de 2025, segundo o China Daily, o escritório subdistrital de Huaqiangbei emitiu aviso pedindo a suspensão do envolvimento de menores em atividades de entrega. O texto menciona ganhos de cerca de 1 yuan por entrega para estudantes e alerta para riscos e consequências legais.
O debate dividiu opiniões na China, parte do público viu “prática social” e aprendizado; outra apontou precarização e perigo no fluxo intenso de pedestres, motos e elevadores. Para especialistas, falta regulação clara para esse elo da cadeia.
No Brasil, o que você pensa desse modelo? É solução criativa para arranha-céus com elevadores saturados ou é precarização que precisa de regra clara e fiscalização? Deixe seu comentário: você aceitaria pagar um pouco mais para evitar o uso de trabalho informal, principalmente se houver menores envolvidos?



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