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Descoberta no Brasil revela rochas com até 6 vezes mais terras raras que as da China: o que isso muda para a indústria global de tecnologia?

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 17/08/2025 às 18:23
Descoberta no RS revela rochas com até seis vezes mais terras raras que a China e pode redefinir a indústria global de tecnologia.
Descoberta no RS revela rochas com até seis vezes mais terras raras que a China e pode redefinir a indústria global de tecnologia.
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Rochas em Caçapava do Sul revelam concentrações inéditas de terras raras, até seis vezes maiores que as da China, com potencial para transformar cadeias globais de tecnologia e reposicionar o Brasil em um setor dominado pelo país asiático.

Pesquisadores de três universidades brasileiras identificaram, em Caçapava do Sul (RS), rochas e solos com concentrações de elementos de terras raras muito acima da média mundial.

Levantamentos apontam teores até seis vezes superiores aos encontrados na China e 12 vezes maiores que os de Cuba, resultado considerado inédito mesmo em regiões tradicionalmente conhecidas por esse tipo de mineralização.

A informação foi divulgada inicialmente pelo portal Xataka, especializado em ciência e tecnologia.

O que foi identificado no Rio Grande do Sul

As análises revelaram afloramentos de carbonatitos, rochas raras associadas à ocorrência de terras raras em níveis elevados.

As amostras apresentaram minerais como monazita-(Ce) e aeschynita-(Ce), além da presença de nióbio e tântalo, dois elementos estratégicos para a indústria eletrônica e para aplicações em energia.

De acordo com os pesquisadores, os teores observados superam de forma significativa não apenas outras áreas brasileiras, mas também regiões de países líderes na produção desses minerais.

Descoberta no RS revela rochas com até seis vezes mais terras raras que a China e pode redefinir a indústria global de tecnologia.
Descoberta no RS revela rochas com até seis vezes mais terras raras que a China e pode redefinir a indústria global de tecnologia.

O desafio, contudo, não é apenas geológico: a extração e o refino dos elementos envolvem processos químicos complexos e de alto custo ambiental.

Por que as terras raras são tão estratégicas

Os chamados elementos de terras raras (ETRs) correspondem a 17 elementos químicos, incluindo lantanídeos, além de ítrio e escândio.

Suas propriedades — como magnetismo, luminescência e resistência a altas temperaturas — tornam-se essenciais na fabricação de ímãs permanentes, motores elétricos, turbinas eólicas, sensores, discos rígidos e diversos dispositivos eletrônicos.

Embora a designação “raras” sugira escassez, esses elementos são relativamente abundantes na crosta terrestre.

O problema está em encontrá-los em concentrações economicamente viáveis e desenvolver tecnologias de separação e purificação eficientes, como lembra o portal Xataka ao contextualizar a descoberta.

Como a pesquisa está estruturada

O estudo é conduzido pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com participação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa).

A UFSM lidera a coleta e análise de amostras de solo, água e vegetação.

A UFRGS atua na caracterização mineralógica e geológica, enquanto a Unipampa é responsável por identificar áreas e avaliar o impacto sobre a fauna local.

O projeto é financiado pelo CNPq, com prazo de execução até dezembro de 2026, e tem coordenação do professor Marcelo Barcellos da Rosa, da UFSM.

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Nesta fase, as equipes ainda ampliam a base de dados para estimar a viabilidade econômica e os possíveis desdobramentos ambientais da exploração.

Reservas brasileiras e o contraste com a China

O Brasil é dono de aproximadamente 23% das reservas mundiais de terras raras, índice que o coloca na segunda posição global, atrás apenas da China.

As principais ocorrências estão ligadas a complexos alcalino-carbonatíticos, como Araxá, Poços de Caldas e Tapira, em Minas Gerais; Catalão e Minaçu, em Goiás; Jacupiranga e Itapirapuã, em São Paulo; além de Pitinga, no Amazonas.

Apesar das reservas expressivas, o país ainda não ocupa posição de destaque entre os produtores.

Grande parte dos projetos de extração depende de capital externo, e a etapa mais crítica — o refino químico — praticamente não é realizada no território nacional.

Já a China concentra mais de 60% da produção mundial e quase 90% da capacidade de refino, o que lhe garante influência decisiva sobre preços e fluxos de exportação.

Impactos potenciais para a indústria global

Caso os elevados teores confirmados em Caçapava do Sul se mostrem consistentes em escala, a descoberta pode reduzir a dependência global da China e diversificar a oferta desses minerais.

Isso teria efeitos diretos sobre setores como mobilidade elétrica, aeroespacial, defesa e energia renovável, que hoje enfrentam riscos de abastecimento e volatilidade de preços.

No entanto, especialistas ressaltam que transformar uma descoberta científica em fornecimento estável exige uma cadeia longa: dimensionamento preciso das reservas, estudos de impacto ambiental, licenciamento, infraestrutura logística e, principalmente, instalação de plantas de separação e purificação dos elementos.

Esse conjunto de fatores pode levar anos para se consolidar.

De acordo com o portal Xataka, a relevância imediata da descoberta está no aspecto estratégico: a constatação de novos polos ricos em terras raras fortalece a posição brasileira em negociações internacionais e atrai atenção de empresas globais interessadas em garantir contratos futuros de fornecimento.

Perspectivas

Nos próximos dois anos, os pesquisadores devem intensificar a coleta e ampliar a caracterização mineralógica para definir se o potencial de Caçapava do Sul se traduz em reservas economicamente exploráveis.

Caso haja viabilidade, o Brasil poderá entrar de forma mais efetiva nas discussões sobre cadeias críticas e em acordos de fornecimento de longo prazo.

Se confirmada em escala industrial, a descoberta pode redefinir a participação brasileira no mercado global de ímãs permanentes, motores elétricos e turbinas eólicas.

Mas, na prática, o primeiro grande desafio será superar barreiras tecnológicas e regulatórias para transformar a riqueza mineral em produto disponível ao setor.

Diante desse cenário, a questão que se impõe é: o Brasil conseguirá avançar além da pesquisa geológica e consolidar uma indústria própria de refino e processamento de terras raras?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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