Com tarifas de 50% dos EUA, exportações de madeira e móveis do Planalto Norte caem, empregos correm risco e dependência americana fica evidente
Um diagnóstico recente da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc) revelou números expressivos sobre o peso do mercado externo para o Planalto Norte. Em 2024, as exportações da região alcançaram R$ 4,8 bilhões, representando 6,5% do total estadual. Ao todo, 191 empresas participaram das vendas internacionais.
A região ocupa a sexta posição entre as maiores exportadoras de Santa Catarina. Canoinhas, Mafra e Porto União lideram as operações, com destaque absoluto para os setores de madeira e móveis, responsáveis por mais de 36% das exportações.
Quando o destino é os Estados Unidos, o Planalto Norte se consolida como a terceira maior região exportadora do estado.
-
De 7 mil anos de uso histórico e 60 bilhões de dólares por ano à produção em massa: como o Bambu saiu das aldeias para dominar a indústria global de utensílios e construção
-
O Brasil é o maior produtor de café do mundo — mas as marcas mais vendidas no país são dominadas por empresas estrangeiras; saiba quais são
-
Clássica cerveja alemã de 1602 deixa as fronteiras do país e será produzida em SP com tradição bávara, sabor único e preço acessível
-
Nova fábrica em Pindamonhangaba vai dobrar produção de transformadores e consolidar ainda mais o Brasil como líder em transição energética
A soja também tem papel fundamental, respondendo por 31,8% das vendas internacionais. Entretanto, este produto segue para outros mercados, enquanto os norte-americanos concentram sua demanda nos setores de madeira e móveis.
Forte concentração no setor madeireiro
Em 2024, apenas para os Estados Unidos, as exportações da região somaram R$ 1,076 bilhão. A maior parte desse valor veio da madeira e dos móveis, que correspondem a 95% do total.
O setor de móveis é o mais relevante, com mais de 40% de participação, seguido pela madeira em forma (25,2%) e madeira compensada (17,9%). Essa concentração reforça a dependência do Planalto Norte em relação ao mercado americano.
Portanto, a situação fica clara: 99% da madeira em forma vai para os EUA. Além disso, 60% dos móveis e 44% da madeira compensada também têm como destino o mesmo país. Apesar de esforços de diversificação, o mercado americano segue dominante.
Efeitos da recessão nos EUA
A vulnerabilidade do setor já havia aparecido em 2022 e 2023, quando a recessão americana impactou diretamente as exportações.
A construção civil nos Estados Unidos recuou 5% em 2022 e 2% em 2023. Esse movimento fez as exportações de madeira e móveis do Planalto Norte caírem além da média estadual.
As perdas somaram mais de R$ 1 bilhão. O setor madeireiro foi o mais atingido, com retração superior a 50% nas vendas externas.
Agora, em 2025, a recuperação que estava em andamento enfrenta novo obstáculo: o tarifaço imposto pelo governo Trump.
Projeção de perdas e empregos em risco
Se as tarifas resultarem em prejuízos equivalentes ao dobro das perdas de 2023, as indústrias podem amargar mais de R$ 1 bilhão em redução de produção. Além disso, quase 800 empregos só na indústria madeireira do Planalto Norte estão em risco.
Cidades como Canoinhas, Três Barras, Porto União e Papanduva concentram as principais indústrias, como Procopiak, Energia Madeiras, Brasnile e FComp.
A concorrência internacional agrava o cenário. Países como Vietnã, Filipinas e China já desfrutam de relações diplomáticas mais favoráveis com os EUA.
Impacto das tarifas: desemprego aumenta na região
O impacto das tarifas já aparece nos números oficiais. O setor de madeira e móveis fechou 581 vagas em julho, segundo dados do Caged compilados pelo Observatório da Fiesc. Foi o primeiro registro claro do reflexo das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos.
“O fechamento de postos de trabalho no ramo é reflexo da imposição das tarifas e mostra o impacto direto sobre as indústrias exportadoras”, afirmou o presidente da Fiesc, Gilberto Seleme. No mesmo mês de 2024, o setor havia criado 127 vagas com carteira assinada.
Apesar do saldo negativo para a madeira e móveis, o quadro geral da indústria catarinense em julho foi positivo. O setor abriu mil postos de trabalho, e a economia estadual registrou saldo de 2,8 mil empregos no período.
No acumulado de 2025, Santa Catarina já criou 83 mil vagas, sendo 43 mil apenas na indústria. Mesmo assim, esse número é 8,6 mil menor que o registrado no ano anterior.
Fiesc lança pacote de apoio
Diante do cenário, a Fiesc lançou o programa desTarifaço. A iniciativa oferece suporte gratuito a empresas e trabalhadores atingidos.
O pacote reúne consultoria para novos produtos e mercados, apoio para obtenção de crédito, incentivos públicos e até acompanhamento psicológico.
“O impacto do tarifaço não é uniforme. Algumas pequenas e médias indústrias têm mais de 90% do faturamento comprometido. Precisamos dar apoio imediato a estas empresas e seus trabalhadores”, destacou Seleme, natural de Caçador e conhecedor da realidade do Planalto Norte.
O estudo da Fiesc mostra que cidades menores do Planalto Norte, do Meio-Oeste e da Serra sofrem proporcionalmente mais.
“Atuamos também para preservar a força de trabalho nestas regiões, evitando problemas sociais mais graves”, acrescentou Seleme.
Medidas previstas
Entre as ações voltadas à indústria estão: apoio para busca de crédito, consultoria para novos mercados, adequação de produtos e linhas, auxílio de bolsistas especializados e assessoria jurídica para negociações sindicais.
Para os trabalhadores, o pacote oferece capacitação durante a inatividade, recapacitação de demitidos para setores com vagas disponíveis e acompanhamento psicológico.
Missão empresarial em Washington para tratar das tarifas
Nesta semana, a Fiesc participa de missão organizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em Washington.
Nos dias 3 e 4, representantes terão encontros com escritórios de advocacia, reuniões na Embaixada do Brasil e diálogos com autoridades americanas.
A missão busca abrir espaço para negociações e minimizar os danos do tarifaço, que já afeta de forma concreta o Planalto Norte.
A dependência histórica do mercado dos EUA, portanto, coloca a região em posição delicada diante das barreiras comerciais impostas.
Com informações de JMais.com.