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De um abrigo com três filhas à elite da ciência mundial: a história inspiradora de Ijeoma, a mulher que desafiou o impossível

Publicado em 30/10/2025 às 16:07
Abrigo, Cientista
Imagem: Wikimedea Commons / Ijeoma F Uchegbu
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De um abrigo em Londres à liderança científica em Cambridge, Ijeoma Uchegbu superou preconceitos, perdas e pobreza para revolucionar a medicina com nanopartículas capazes de transformar tratamentos e salvar vidas

Em 1990, Ijeoma Uchegbu desembarcou em Londres vinda da Nigéria com três filhas pequenas, uma delas ainda bebê. Trazia apenas uma mala e pouca esperança de um recomeço. Pouco tempo depois, estaria em um abrigo para pessoas em situação de rua, tentando alimentar e proteger a família.

A trajetória até se tornar uma das maiores especialistas em nanopartículas foi marcada por perdas e reviravoltas.

Nascida em Londres, filha de pais nigerianos que haviam migrado em busca de estudos, Ijeoma recebeu um nome simbólico: “tenha uma boa viagem”.

O casal estudava no Reino Unido e, sem condições de cuidar da filha, deixou-a com uma família em Kent.

Durante quatro anos, a menina acreditou que aqueles eram seus pais. Tudo mudou quando o pai biológico apareceu para buscá-la.

A partir daí, sua vida passou a ser dividida entre o pai, a madrasta e o desejo de reencontrar a mãe verdadeira.

A descoberta da mãe biológica e a dor da perda

O reencontro com a mãe aconteceu aos 13 anos. “Ela tremia quando me abraçou, estava muito feliz e nervosa”, relembra.

Foi um fim de semana inesquecível, cheio de presentes e afeto. No entanto, as duas nunca conversaram sobre o motivo da ausência.

Um ano depois, a mãe biológica mudou-se para os Estados Unidos e morreu aos 33 anos. “Gritei de dor. Nunca imaginei que não a veria de novo.

Ijeoma perdeu também a mãe adotiva e a madrasta, restando apenas o pai, um homem carinhoso que sempre repetia o mesmo desejo: voltar à Nigéria.

Ele não conseguiu realizar o plano por causa da guerra civil, mas manteve viva a cultura nigeriana dentro de casa, lembrando à filha das origens e das tradições.

Entre o preconceito e a superação

Crescer no Reino Unido nas décadas de 1960 e 1970 significava enfrentar um ambiente abertamente racista.

Ijeoma tinha boas notas, mas não conseguia se imaginar em uma profissão de destaque. Queria apenas trabalhar em uma loja, porque não via pessoas negras em cargos importantes.

A mudança para a Nigéria, embora difícil, transformou sua visão. Deixou os amigos e a segurança de Londres para viver em um país que ainda se recuperava da guerra.

No início, chorou e relutou em partir, mas o pai acreditava que a experiência seria valiosa.

Logo após a chegada, enfrentou queimaduras graves por causa do sol, que revelaram uma alergia à luz intensa.

Durante meses, ficou de cama. Quando voltou à escola, foi rejeitada por colegas que a viam como “estrangeira”.

Mesmo assim, descobriu um novo rumo. Refugiou-se nas ciências e na matemática, únicas matérias que entendia plenamente. “Foi a melhor coisa que me aconteceu, porque redefiniu completamente minhas aspirações”, diz.

O retorno ao Reino Unido, o abrigo e o começo de tudo

Aos 16 anos, ingressou na universidade para estudar farmácia. Depois fez mestrado, casou-se e teve três filhas. Mas o casamento fracassou, e ela decidiu retornar ao Reino Unido.

Queria ser cientista, e com a infraestrutura da Nigéria isso era difícil.” Partiu desacreditada, com poucos recursos e três crianças.

Acabou em um abrigo com 11 famílias dividindo o mesmo banheiro. “Fiquei lá por sete meses. Sair foi como deixar uma prisão.

Mesmo nas piores condições, nunca pensou em voltar. Buscava uma vaga de pesquisa para o doutorado e acabou escolhendo um tema sobre partículas minúsculas, sem saber que estava entrando no campo da nanotecnologia.

A virada pessoal e científica

Durante uma conferência, conheceu o cientista alemão Andreas G. Schätzlein. Quatro dias de conversa bastaram para nascer um amor que atravessaria fronteiras. “Ele deixou tudo para estar comigo: uma mulher com três filhos”, recorda.

Juntos, começaram a trabalhar em algo que mudaria a medicina: nanopartículas capazes de levar medicamentos exatamente ao ponto do corpo onde são necessários.

Isso reduz efeitos colaterais e aumenta a eficácia dos tratamentos.

Nem todos os órgãos estão doentes. Se o remédio vai direto ao local da doença, o corpo sofre menos”, explica. Essa inovação abre caminho para tratamentos mais seguros, inclusive para doenças graves.

Além de reduzir efeitos de quimioterapia e analgésicos potentes, suas pesquisas incluem nanopartículas que podem levar medicamentos ao cérebro e à retina, abrindo possibilidades de tratar cegueira e combater a crise dos opioides.

Ciência, humor e igualdade

Atualmente, Ijeoma é professora de Nanociência Farmacêutica no University College de Londres e presidente do Wolfson College, na Universidade de Cambridge.

Também se dedica à divulgação científica e descobriu que o humor é uma ferramenta poderosa.

“Percebi que, quando fazia piadas, os alunos prestavam mais atenção. Fiz até um curso de comédia.” O aprendizado serviu não só em sala de aula, mas também em palestras e eventos.

Outro campo em que atua é a igualdade racial e de gênero nas universidades. Inicialmente cética sobre o tema, mudou de opinião ao ver dados que mostravam a desigualdade nas promoções e nos resultados acadêmicos.

Desde então, visita departamentos e propõe medidas simples para melhorar a inclusão, como incentivar alunos de minorias a repetirem seus nomes até serem pronunciados corretamente e incluir cientistas negros como exemplos em aula.

As mudanças tiveram impacto fenomenal”, afirma. Entre as ações, destaca a retirada de nomes de eugenistas de prédios da universidade, o que gerou reconhecimento e emoção entre alunos e funcionários.

Do abrigo a elite da ciência: o legado de uma cientista

Da infância fragmentada ao reconhecimento acadêmico, Ijeoma Uchegbu construiu uma história de resistência e transformação.

Hoje, suas pesquisas prometem revolucionar o tratamento de doenças complexas e salvar milhões de vidas.

Ao mesmo tempo, seu trabalho social reforça a importância da diversidade e da representatividade na ciência.

Se tivesse que deixar um conselho, ela diz: “Se fizer o que ama, ficará bem.

Uma frase que sintetiza a jornada de quem, com coragem e curiosidade, transformou o impossível em conquista — e o pequeno, no gigantesco.

Com informações de BBC.

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Romário Pereira de Carvalho

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