Um homem simples, quatro filhos e uma oficina em ruínas: a história real por trás da LEGO, a marca que ensinou o mundo a reconstruir
Um carpinteiro dinamarquês viu sua vida desabar durante a Grande Depressão. A crise levou tudo o que tinha, a esposa faleceu, e ele ficou sozinho, cercado por dívidas e com quatro filhos pequenos para criar.
Anos mais tarde, a pequena oficina que um dia quase fechou as portas se transformaria em um império avaliado em mais de US$ 8 bilhões, presente em 140 países e reconhecido mundialmente como símbolo de criatividade, perseverança e reinvenção.
Esse homem era Ole Kirk Christiansen, o visionário que fundou a LEGO. Antes de criar um dos brinquedos mais icônicos do planeta, ele fabricava escadas e tábuas de passar roupas. Em 1932, tentando sobreviver à crise econômica que devastava a Europa, passou a produzir brinquedos de madeira e os vendia de porta em porta, por algumas moedas.
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Mas o destino voltaria a testá-lo. Em 1942, um incêndio destruiu completamente sua oficina, multiplicando suas dívidas e colocando em risco o sustento da família. Aos 51 anos, exausto e desanimado, Ole chegou a considerar desistir.
Foi então que uma nova ideia reacendeu sua esperança. Em 1949, ele decidiu apostar em um material considerado promissor, mas subestimado por muitos: o plástico. Criou blocos de encaixe simples e coloridos, acreditando que poderiam transformar a forma como as crianças brincavam e aprendiam.
A maioria das pessoas duvidou — “ninguém vai querer isso”, diziam.
Mesmo assim, ele persistiu. Em 1958, registrou o sistema de encaixe definitivo, uma inovação que revolucionaria o mundo dos brinquedos e permaneceria inalterada até hoje.
Atualmente, a LEGO comercializa mais de 600 milhões de kits por ano, emprega cerca de 25 mil pessoas e segue como o brinquedo mais vendido e reconhecido do planeta.
As origens: fé, madeira e o primeiro incêndio
A história da LEGO começa em um vilarejo esquecido da Dinamarca rural, no início do século XX.
Em 1915, o jovem artesão Ole Kirk Christiansen ouviu falar de uma pequena oficina de carpintaria à venda em Billund, uma província de menos de 100 habitantes.
Filho de uma família pobre, Ole cresceu cuidando de vacas e ovelhas, aprendendo desde cedo o valor do trabalho manual e da fé.
Determinou-se a mudar o próprio destino. Com a ajuda dos irmãos, conseguiu um pequeno empréstimo e comprou a sonhada Casa Branca de um andar, onde montou sua oficina.
Nas faturas de cobrança, orgulhosamente estampava o nome:
“Trabalhos em madeira e carpintaria – Billund.”
Durante a Primeira Guerra Mundial, a neutralidade da Dinamarca permitiu que os fazendeiros prosperassem vendendo cereais e carne. Entre 1916 e 1918, Ole teve tanto serviço que mal dava conta das encomendas.
Mas, com o fim da guerra, veio a crise econômica global, e o dinheiro sumiu da região.
Mesmo assim, ele não desistiu. Movido pela fé e pela responsabilidade de sustentar os quatro filhos — Johannes, Karl Georg, Godtfred e Gerhard — manteve o negócio vivo.
Até que, em abril de 1924, o destino testou sua resiliência: a oficina pegou fogo.
O incêndio, causado acidentalmente pelos filhos pequenos, destruiu tudo.
Com a ajuda dos vizinhos, Ole reconstruiu a casa e a oficina — agora em tijolos sólidos.
Foi o primeiro de muitos recomeços.
Da Grande Depressão aos brinquedos de madeira
Quando a Grande Depressão de 1929 atingiu o mundo, a Dinamarca mergulhou na crise.
As exportações de grãos, manteiga e carne despencaram.
A madeira ficou cara, o crédito secou e Ole viu seus pedidos desaparecerem.
Mas a mente criativa do carpinteiro encontrou uma saída inesperada.
Em 1932, ele e dois aprendizes começaram a fabricar pequenos brinquedos de madeira — escadas em miniatura, suportes para árvores de Natal, caminhõezinhos coloridos.
Eram simples, baratos e carregavam uma magia silenciosa: cada brinquedo trazia um pedaço da esperança do seu criador.
A ideia deu certo.
Um comerciante da região visitou a oficina e se impressionou com a qualidade das peças.
Fez um pedido grande para o Natal, e aquela encomenda salvou a empresa.
No mesmo ano, um novo golpe abalou Ole.
Sua esposa, Christine, grávida do quinto filho, adoeceu e morreu aos 40 anos.
“Vi meu pai chorar pela primeira vez”, lembraria anos depois o filho Godtfred, que herdaria a liderança da empresa.
Mesmo arrasado, Ole manteve a fé.
Quando lhe perguntaram, anos depois, como conseguiu superar tantas tragédias, ele respondeu com simplicidade:
“É preciso rezar. Rezar para que cheguem pedidos. Rezar para conseguir produzir. E rezar para que paguem.”
Com o tempo, as orações começaram a ser atendidas.
Em 1935, buscando um novo começo, Ole rebatizou a empresa.
Inspirado nas palavras dinamarquesas “leg godt” — “brincar bem” —, nasceu o nome que mudaria o mundo: LEGO.
A receita quase dobrou naquele ano, atingindo 177.200 coroas dinamarquesas.
Em 1939, já passava de 50.000 coroas anuais, consolidando a pequena fábrica como uma promessa no mercado de brinquedos.
A virada: o plástico, o sistema de encaixe e o império global
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Dinamarca foi ocupada pela Alemanha, e a falta de madeira ameaçou o negócio.
Mesmo assim, Ole e Godtfred mantiveram a produção; entre 1940 e 1945, o faturamento saltou de 74 mil para 357 mil coroas.
Em 1947, Ole comprou a primeira máquina de moldagem por injeção de plástico da Dinamarca — algo visto como loucura na época.
Ele e o filho estudaram os blocos britânicos Kiddicraft, de Hilary Fisher Page, e aprimoraram o sistema de encaixe, tornando-o firme e universal.
Em 1949, registraram o pedido de patente.
E, em 1958, nasceu o sistema LEGO definitivo, ainda usado hoje.
Com a morte de Ole Kirk Christiansen, naquele mesmo ano, Godtfred assumiu o comando e expandiu a empresa para a Alemanha, onde as vendas logo superaram as da Dinamarca.
O legado de três gerações: da dor à construção de sonhos
A década de 1960 marcou a era moderna da LEGO.
Sob Godtfred, a empresa abandonou os brinquedos de madeira e apostou em inovação.
Em 1962, o lançamento das primeiras rodas LEGO permitiu criar carros, aviões e cidades completas.
O sistema LEGO tornou-se o coração da marca.
Em 1968, o primeiro Legoland, em Billund, celebrou a criatividade e consolidou a empresa como experiência familiar.
Nos anos 2000, veio a crise mais grave da história da companhia.
A diversificação excessiva afastou a LEGO do conceito original, levando a perdas em 2003.
No ano seguinte, um novo CEO fora da família Christiansen reestruturou a empresa, focando nos blocos e em franquias como Star Wars e Harry Potter.
Videogames e coleções adultas devolveram o brilho da marca.
Segundo o canal Curioso Mercado, a LEGO registrou em 2022 crescimento de 17 %, alcançando 64,6 bilhões de coroas dinamarquesas (cerca de US$ 9,2 bilhões) e empregando 25 mil pessoas em 140 países.
Ao longo de mais de um século, a LEGO sobreviveu a incêndios, guerras e crises.
Cada tragédia virou oportunidade: o fogo de 1924 levou à modernização; a Grande Depressão criou os brinquedos de madeira; o incêndio de 1960** consolidou o plástico; e a crise dos anos 2000 resgatou a essência dos blocos.
Hoje, cada peça LEGO representa a capacidade humana de reconstruir e inovar, transformando perdas em novas possibilidades.
De uma oficina rural na Dinamarca à maior produtora de brinquedos do planeta, a LEGO prova que até os sonhos mais frágeis podem ser montados — peça por peça — até se tornarem eternos.
“Só o melhor é bom o suficiente.”
– Ole Kirk Christiansen


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