A holding J&F, avaliada em bilhões, anunciou investimento de R$ 535 milhões na Eletronuclear e reforça o domínio dos irmãos Batista em setores globais
A história dos irmãos Joesley e Wesley Batista é um retrato do crescimento meteórico de um pequeno negócio goiano que se transformou em um império bilionário com alcance internacional. A holding J&F Investimentos, controlada pela dupla, anunciou na última quarta-feira (15) a compra de uma participação na Eletronuclear por R$ 535 milhões, marcando sua entrada no setor de energia nuclear e consolidando uma presença já diversificada em mais de 50 marcas e oito grandes negócios espalhados por diferentes continentes.
De um açougue em Goiás ao domínio global das proteínas
A origem da J&F remonta a 1953, quando José Batista Sobrinho, o “Zé Mineiro”, abriu o pequeno açougue Casa de Carnes Mineira em Anápolis (GO). A modesta operação, baseada na compra e venda de gado, logo evoluiu para uma rede de matadouros e frigoríficos. Em 1975, o negócio ganhou novo nome: Friboi, marca que se tornaria sinônimo de carne brasileira no mundo.
Com a entrada da segunda geração da família na década de 1980, a empresa passou por uma fase de profissionalização e acelerou o crescimento. A virada de chave viria nos anos 2000, quando o grupo iniciou um processo agressivo de internacionalização. A compra da Swift Armour, na Argentina, foi o primeiro passo para a criação de um verdadeiro império da proteína animal.
-
Engarrafamentos e ônibus lotados? Estudo do governo agita o debate ao propor R$ 60 bilhões para construção de ferrovias para transporte de passageiros no Nordeste
-
CNH pode mudar em todo o Brasil com criação do “personal trainer do volante”: governo quer liberar aulas com instrutores independentes e reduzir burocracia
-
Cresce onda de fraudes com PIX: criminosos usam nomes falsos, aplicam golpes sofisticados e obrigam bancos a excluir 245 milhões de chaves no Brasil
-
Fracasso milionário: Cybertruck despenca nas vendas e Elon Musk apela à SpaceX e xAI para escoar estoque parado da Tesla
Nos dois anos seguintes, o conglomerado adquiriu seis frigoríficos adicionais no país vizinho e, em seguida, expandiu para os Estados Unidos e Europa. Em 2007, o nome JBS passou a representar oficialmente a marca global. Naquele mesmo ano, a empresa realizou sua abertura de capital (IPO), levantando R$ 1,6 bilhão e ingressando na B3 e na Bolsa de Nova York (NYSE). Hoje, a JBS tem valor de mercado estimado em R$ 70 bilhões, sendo uma das maiores processadoras de carne do planeta.
Diversificação bilionária e expansão internacional
A partir de 2010, a J&F diversificou seu portfólio, avançando em setores como finanças, energia, celulose, tecnologia e mineração. A holding também ampliou sua presença no varejo e consumo, criando a Flora Higiene e Cosméticos, e estendeu seus negócios a mais de 20 países.
Com operações que vão de agronegócio e comunicação a serviços financeiros e industriais, o conglomerado tornou-se uma das maiores potências empresariais da América Latina. Segundo informações divulgadas pelo G1, o grupo controla oito grandes negócios e dezenas de marcas, o que inclui uma extensa cadeia de produção e distribuição de alimentos e produtos derivados.
A entrada no setor de energia nuclear, por meio da compra de parte da Eletronuclear, representa mais um movimento estratégico para fortalecer a presença da J&F em setores considerados estratégicos para o futuro. A aquisição de R$ 535 milhões reforça a capacidade de investimento da holding e amplia o alcance de sua atuação global.
Escândalos políticos e reviravoltas judiciais
Contudo, a trajetória dos irmãos Batista também é marcada por escândalos políticos e investigações. Em 2017, uma delação bombástica revelou que Joesley e Wesley Batista gravaram o então presidente Michel Temer autorizando pagamentos para manter o silêncio de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, preso na Operação Lava Jato.
Além disso, Joesley entregou ao Ministério Público Federal um áudio em que Aécio Neves (PSDB-MG) pedia R$ 2 milhões para custear advogados. No auge da crise, os irmãos admitiram ter subornado cerca de 1.800 políticos, e o faturamento da JBS saltou de R$ 4 bilhões em 2006 para R$ 170 bilhões em 2016 — um crescimento vertiginoso que chamou atenção do mundo financeiro.
Os dois acabaram afastados da liderança da JBS e presos sob acusação de uso de informações privilegiadas. Mais tarde, foram absolvidos no processo. Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a multa aplicada à J&F no acordo de leniência, após indícios de tendência indevida por parte de promotores. O caso ainda aguarda decisão definitiva no tribunal.
Um império bilionário em movimento
Atualmente, Joesley e Wesley Batista figuram entre os dez maiores bilionários do Brasil, segundo a revista Forbes. Mesmo após os escândalos, o conglomerado segue em expansão constante, explorando novas frentes econômicas e reafirmando sua influência global.
De um pequeno frigorífico em Goiás à energia nuclear, o império da família Batista mostra como visão estratégica, capital e poder político podem transformar uma empresa local em um dos maiores grupos privados do mundo. E, ao que tudo indica, o expansionismo da J&F ainda está longe de acabar.