Olacyr de Moraes: a ascensão e queda do rei da soja. Visionário que transformou o cerrado em potência agrícola deixou um legado marcado por conquistas históricas e uma ruína dramática.
Durante décadas, Olacyr de Moraes foi celebrado como o rei da soja. Comandando um império de 40 empresas, 300 mil hectares de terras e mais de 25 mil funcionários, tornou-se o maior produtor individual de soja do mundo e um dos empresários mais ricos do Brasil. Seu nome esteve associado a obras monumentais, avanços tecnológicos no agronegócio e uma visão ousada de infraestrutura.
Mas a mesma ambição que construiu sua fortuna também contribuiu para sua queda. Entre erros estratégicos, falta de apoio estatal e crises econômicas, Olacyr perdeu tudo. No fim da vida, já sem seus ativos mais valiosos, foi vítima de um episódio trágico envolvendo seu próprio motorista e morreu longe do poder que um dia exerceu.
Das entregas rápidas à engenharia pesada
Nascido em 1931 em Itápolis (SP), Olacyr começou a trabalhar cedo, ajudando o pai em uma pequena empresa de transporte. Sua entrada na construção civil veio em 1957, com a fundação da Constran, que cresceu aceleradamente durante o milagre econômico da ditadura militar.
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A empresa participou de obras icônicas como os primeiros quilômetros do metrô de São Paulo, o Aeroporto de Guarulhos e a Hidrelétrica de Xingó. Com lucros robustos, Olacyr diversificou seus negócios, criando o Banco Itamarati e investindo no setor agropecuário.
A coroação do rei da soja
Em 1973, uma quebra de safra nos Estados Unidos fez o preço da soja disparar. Olacyr viu ali uma oportunidade única e investiu pesado na cultura, adquirindo terras no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul.
Contrariando especialistas que consideravam o cerrado improdutivo, financiou pesquisas com a Embrapa e universidades, desenvolvendo variedades adaptadas ao clima e solos locais. O resultado foi histórico: soja brasileira com 48% de proteína, produtividade recorde e a transformação de regiões inteiras em polos agrícolas.
Na década de 1980, já era reconhecido internacionalmente como o rei da soja, mas também revolucionou o cultivo de algodão, criando a variedade ITA 90, que reposicionou o Brasil no mercado global.
O sonho logístico e o início da ruína
O auge de sua ambição veio com a Ferrovia Norte Brasil (Ferro Norte), projeto que pretendia ligar o Centro-Oeste aos portos do Norte e do Sudeste. Olacyr investiu US$ 200 milhões do próprio bolso, mas a promessa do governo de construir uma ponte ferroviária essencial atrasou sete anos.
Sem ligação operacional, acumulou dívidas que chegaram a US$ 1 bilhão. O confisco das poupanças no Plano Collor e outros investimentos mal calculados, como usinas sem linhas de transmissão, aprofundaram a crise. Sem acesso a crédito, teve de vender o Banco Itamarati e iniciar a liquidação de seu império.
A venda das joias da coroa
Entre 1999 e 2004, Olacyr vendeu fazendas, imóveis e empresas estratégicas. A transação mais simbólica foi a venda da Fazenda Itamarati ao Incra, que a destinou a assentamentos rurais. Para o homem que havia aberto fronteiras agrícolas, a operação teve um sabor amargo.
Nos últimos anos, tentou investir no setor mineral, mas sem grande sucesso. Sua vida pessoal ganhou destaque em colunas sociais, enquanto divergências com familiares e herdeiros expuseram tensões internas.
Tragédia e fim
Em 2014, um episódio chocou o país: seu motorista, Miguel Garcia Ferreira, matou o ex-senador boliviano Andrés Firminia Guzman, alegando proteger o patrão de um golpe. O caso encerrou-se judicialmente sem prisão, mas acrescentou mais um capítulo trágico à biografia do empresário.
Em 2015, aos 84 anos, Olacyr morreu em São Paulo vítima de câncer no pâncreas. Morreu sem fortuna, mas com um legado incontornável: a transformação do cerrado em um dos maiores celeiros agrícolas do planeta.
O legado do rei da soja
Mesmo após perder tudo, Olacyr deixou marcas profundas no agronegócio. As técnicas de cultivo e a infraestrutura que ajudou a implantar sustentam a liderança brasileira na soja e no algodão até hoje. Sua trajetória é um lembrete de que grandes visões podem mudar um país, mas também de que decisões arriscadas e a ausência de suporte estratégico podem custar caro.
E você? Acha que o Brasil reconhece devidamente a importância do rei da soja para o agronegócio? Ou sua queda ofuscou seu papel como pioneiro? Deixe sua opinião nos comentários.