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Cruz de 1.400 anos, ligada ao local da crucificação de Jesus, é descoberta e reescreve a história do cristianismo

Publicado em 19/08/2025 às 22:51
Cruz, Jesus, Achado, Abu Dhabi
Imagem: Department of Culture And Tourism
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Descoberta de cruz de 1.400 anos em Sir Bani Yas revela comunidade cristã próspera no Golfo Pérsico, desafiando ideias sobre o alcance da fé

Uma placa de 1.400 anos representando uma cruz foi encontrada na Ilha Sir Bani Yas, em Abu Dhabi. A descoberta reformula a compreensão sobre até onde o cristianismo conseguiu se espalhar para o leste.

O artefato apresenta uma pirâmide em degraus simbolizando o Gólgota, onde os cristãos acreditam que Jesus foi crucificado. Da base, brotam folhas que reforçam a simbologia da vida.

Ele foi identificado entre as ruínas de uma igreja e de um mosteiro, indicando a existência de uma comunidade cristã florescente na região durante os séculos VII e VIII.

Essa constatação surpreende. Naquele período, o cristianismo era mais comumente associado ao Levante, à Mesopotâmia e a algumas partes da Europa.

Encontrar sinais de prosperidade em uma ilha do sudeste do Golfo Pérsico traz um significado histórico profundo.

Contexto de transformações religiosas

O cenário da época era marcado por mudanças intensas. O islamismo surgia e se espalhava rapidamente pela Península Arábica, antigas tradições pagãs resistiam e muitos acreditavam que o cristianismo estava em extinção na região.

Entretanto, a presença de uma comunidade organizada em Sir Bani Yas desafia essa suposição. A descoberta mostra que os fiéis não apenas sobreviveram, mas se adaptaram e prosperaram em meio às transformações.

Maria Gajewska, arqueóloga chefe do sítio, destacou a força dessa adaptação. “Cada elemento da cruz incorpora motivos regionais”, explicou.

Para ela, esse detalhe indica que o cristianismo não só existia, mas florescia, absorvendo elementos locais e criando raízes próprias.

Vozes locais e significado cultural

A descoberta também foi celebrada pelas autoridades culturais dos Emirados Árabes Unidos. Mohamed Khalifa Al Mubarak, presidente do Departamento de Cultura e Turismo, chamou o achado de “um poderoso testemunho dos valores profundos e duradouros de coexistência e abertura cultural”.

Ele ressaltou que as evidências reforçam a ideia de uma longa tradição de diversidade religiosa pacífica na região, muito antes da formação dos estados modernos.

Detalhes do artefato e novas descobertas

A cruz mede aproximadamente 27 centímetros de comprimento, 17 de largura e 2 de espessura. Os arqueólogos acreditam que ela pode ter servido como objeto de veneração, possivelmente fixado em uma parede diante da qual fiéis se ajoelhavam em oração.

O achado se soma a outros desta temporada de escavações, como cerâmicas, peças de vidro e uma pequena garrafa verde-mar. Essa garrafa, segundo os especialistas, pode ter sido usada para armazenar óleo ou água de rosas.

Hager Al Menhali, arqueóloga dos Emirados, relatou ao jornal The National como encontrou a peça. Ela disse que o gesso estava virado para baixo e um detalhe chamou sua atenção.

Na parte de trás, havia uma impressão digital distinta, possivelmente deixada pela pessoa que moldou a placa de estuque.

Estruturas e modo de vida

As escavações também revelaram construções bem elaboradas. As paredes feitas de calcário e coral, combinadas com cisternas para armazenar água, indicam um estilo de vida relativamente confortável.

Essa realidade sugere que os moradores não viviam em isolamento extremo, mas em comunidade organizada.

Evidências apontam que monges seniores residiam em edifícios com pátios, frequentando a igreja para cerimônias ou usando os espaços para retiros espirituais.

Ligações com a Igreja do Oriente

A comunidade de Sir Bani Yas era ligada à Igreja do Oriente. Esse ramo cristão tinha alcance que se estendia do Oriente Médio até a China.

A descoberta amplia a compreensão de como a fé se expandiu, conectando o Golfo Pérsico às rotas que levavam o cristianismo para a Índia e outras regiões da Ásia.

Outros sítios e investigações em andamento

As primeiras evidências de igreja e mosteiro em Sir Bani Yas foram identificadas no início da década de 1990.

Mais recentemente, em 2022, outro mosteiro semelhante foi encontrado em Umm Al Quwain. Estruturas parecidas também foram registradas no Kuwait, no Irã e na Arábia Saudita.

Apesar do avanço nas pesquisas, ainda não está claro por que o assentamento da ilha entrou em declínio. Uma hipótese é que a própria fragmentação da Igreja do Oriente, marcada por cismas internos, tenha contribuído para o enfraquecimento.

Mesmo assim, escavações apontam que cristãos e muçulmanos conviveram de forma pacífica, mantendo relações comerciais e sociais. Até agora, não há sinais de conflitos ou desastres naturais que expliquem o abandono.

O que mais surpreende os arqueólogos é o estado das ruínas. Os edifícios estão limpos, sem muitos sinais de colapso.

Isso sugere que os moradores podem ter saído de forma planejada, talvez com intenção de retornar, e não em razão de uma fuga forçada.

Olhar para o futuro

Pesquisas adicionais, incluindo análises por radiocarbono, devem trazer novas respostas. O plano é ampliar as escavações nas casas do pátio e, futuramente, integrar o sítio arqueológico a uma trilha para visitantes.

Al Mubarak destacou que esses achados fortalecem a conexão da sociedade com seu passado e inspiram gerações a valorizar o espírito de unidade e respeito mútuo.

A cruz de Sir Bani Yas, portanto, não é apenas um objeto antigo. Ela simboliza uma história de resistência, adaptação e convivência que ilumina um capítulo pouco conhecido do cristianismo no Golfo Pérsico.

Com informações de Daily Mail.

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Romário Pereira de Carvalho

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