Rotatividade crescente, falta de jovens e escassez de mão de obra qualificada colocam o atacado sob pressão no Brasil, segundo estudo da FecomercioSP. Custos operacionais, dificuldades de retenção e impacto na produtividade marcam o cenário atual.
A escalada da rotatividade e a queda na presença de jovens estão pressionando o atacado brasileiro. O setor enfrenta falta de profissionais qualificados e custos crescentes para manter as operações.
O diagnóstico é da FecomercioSP, entidade que reúne empresas de comércio, serviços e turismo do Estado de São Paulo, em estudo que ouviu o setor e aponta impactos diretos no dia a dia das companhias.
Impactos imediatos nas operações e nos custos
De acordo com a FecomercioSP, a substituição frequente de trabalhadores compromete rotinas, reduz produtividade e eleva despesas com recrutamento e treinamento.
-
Estudos mostram que consumo diário de vinagre de maçã pode reduzir glicemia em até 40% e ajudar no diabetes tipo 2
-
Suas compras online podem virar pesadelo: 7 cuidados urgentes que você precisa ter para não cair em golpes de internet
-
Na Suíça, bastam 3 a 4 dias de trabalho para comprar o iPhone 17; no Brasil, o mesmo aparelho exige até 5 meses de salário
-
Maior lago artificial do Brasil tem 4.214 km², mais de 320 km de extensão, gera energia e segue vital após quase 50 anos de operação
A avaliação é de que o cenário já afeta a competitividade de empresas que operam com margens apertadas e forte dependência de equipes especializadas, sobretudo em áreas com maior exigência técnica.
Ainda segundo a entidade, a pressão não vem apenas da dificuldade de contratação.
Reter talentos tornou-se um desafio adicional e contribui para a perda de conhecimento institucional.
A entidade aponta que esse movimento resulta em contratações mais curtas, repasses de funções incompletos e risco maior de interrupções em processos críticos.
Permanência em queda no atacado paulista
Os dados mostram que o tempo médio de permanência no emprego caiu.
Há dez anos, trabalhadores do atacado paulista ficavam cerca de 28 meses no mesmo posto.
Hoje, a média está em 26 meses.
Em três ramos — produtos farmacêuticos, alimentos, bebidas e fumo e matérias-primas agrícolas e animais vivos — a permanência não chega a dois anos, o que fragiliza a continuidade operacional.
Segundo o estudo, essa redução de permanência é acompanhada por um ambiente em que a disputa por mão de obra escala e pressiona salários e benefícios.
A FecomercioSP pondera que a simples elevação de remuneração não tem sido suficiente para evitar o vaivém de profissionais.
Jovens perdem espaço no setor atacadista
A participação dos mais novos diminuiu ao longo da última década. Em 2010, os jovens respondiam por 22% dos cargos formais no atacado. Atualmente, representam 17%.
Para a FecomercioSP, o recuo indica menor interesse das novas gerações em construir carreira no setor, o que estreita o funil de entrada e reduz a base de formação de futuros líderes.
Enquanto isso, áreas que dependem de domínio técnico continuam com ritmo modesto de criação de vagas.
Em junho, foram 254 postos abertos em segmentos de alta tecnologia no atacado, número interpretado como reflexo da escassez de profissionais especializados disponíveis.
Disputa por talentos e efeito nos modelos de negócio
A disputa por perfis qualificados tem repercussões além da folha de pagamento.
De acordo com a entidade, o custo operacional sobe quando empresas recorrem a contratações emergenciais, terceirizações pontuais e horas extras para cobrir lacunas.
O estudo indica que modelos de negócio baseados em eficiência logística, atendimento consultivo e integração com a indústria tornam-se mais suscetíveis a falhas.
Ronaldo Taboada, presidente do Conselho do Comércio Atacadista (CCA) da FecomercioSP, resume o desafio.
“O pleno emprego é uma conquista para o País, mas, para o empresário atacadista, tornou-se também uma batalha diária encontrar e reter bons profissionais. O capital humano virou o grande diferencial competitivo”, afirma.
Carreira e ambiente de trabalho no centro da estratégia
A orientação do estudo é clara: empresas não devem se limitar a reajustar salários.
Para Taboada, é necessário “investir em ambiente saudável, benefícios consistentes e, sobretudo, em planos reais de carreira”.
Sem essas frentes, diz ele, a rotatividade tende a continuar corroendo margens e produtividade, com efeito cascata sobre prazos, atendimento e relacionamento com fornecedores.
Além disso, políticas de valorização profissional, desenho de trilhas de desenvolvimento e atualização constante de competências são apontadas como caminhos para estabilizar equipes.
Em operações distribuídas por várias regiões, esse pacote inclui também padronização de processos, compartilhamento de boas práticas e acompanhamento próximo de indicadores de RH.
Formação de profissionais e tecnologia como soluções
A FecomercioSP recomenda que atacadistas ampliem programas de formação “do zero”, construindo bancas de treinamento para funções críticas ao negócio.
A proposta é reduzir a dependência de candidatos prontos em áreas nas quais o mercado já não supre a demanda, como vendas técnicas, inteligência de dados, logística avançada e gestão de cadeia de suprimentos.
Por outro lado, investimentos em tecnologia e capacitação são citados como complementares.
Ferramentas que automatizam tarefas repetitivas, sistemas de gestão integrados e plataformas de análise podem liberar profissionais para atividades de maior valor.
Esse movimento ajuda a reter talentos e a tornar a operação mais resiliente a oscilações do quadro de pessoal.
Atração das novas gerações
O estudo também sugere programas específicos para atrair jovens. Entre as iniciativas recomendadas estão ações de employer branding, parcerias com escolas técnicas e universidades, e comunicação mais direta sobre possibilidades de carreira no atacado.
A ideia é reposicionar a imagem do setor, tradicionalmente associado a funções operacionais, e evidenciar oportunidades em áreas como tecnologia, compras estratégicas, relacionamento B2B e sustentabilidade.
Ainda assim, a FecomercioSP ressalta que a retenção depende de uma combinação de fatores: clareza de progressão, liderança presente, metas transparentes e reconhecimento por desempenho.
Sem esse conjunto, as empresas veem esforços de recrutamento perderem fôlego com saídas precoces.
Gestão de pessoas como prioridade estratégica
Com a escassez de mão de obra qualificada, a gestão de pessoas deixa de ser atividade de suporte e passa a compor a estratégia central.
O estudo recomenda que indicadores como turnover por área, custo de substituição, tempo de preenchimento de vagas e aderência de competências sejam acompanhados com a mesma disciplina dedicada a métricas comerciais e financeiras.
Enquanto o quadro se mantém desafiador, a FecomercioSP defende a intensificação da governança de RH, o apoio a lideranças de primeira linha e a adoção de rituais de feedback que sustentem o engajamento.
A entidade avalia que, com processos mais sólidos e ofertas de desenvolvimento tangíveis, empresas podem reduzir as perdas de produtividade ligadas à rotatividade.
No atual cenário, o desafio é saber se o atacado conseguirá reverter a fuga de talentos e recuperar a atratividade entre os jovens por meio de mudanças na experiência de trabalho e maior clareza sobre possibilidades de evolução profissional?