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Crianças serão menos inteligentes no futuro? Especialistas fazem alerta urgente sobre os efeitos ocultos da IA na mente das novas gerações

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 28/08/2025 às 17:51
Especialistas alertam que a Inteligência Artificial pode afetar crianças, criando ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o pensamento crítico.
Especialistas alertam que a Inteligência Artificial pode afetar crianças, criando ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o pensamento crítico.
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Especialistas alertam que o uso indiscriminado da Inteligência Artificial pode comprometer habilidades essenciais de crianças, criando a ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o desenvolvimento do pensamento crítico em um cenário de distrações abundantes.

Durante visita ao Brasil, o escritor de ficção científica Ted Chiang, autor do conto que inspirou o filme “A Chegada”, fez um alerta direto: o uso indiscriminado de IA generativa na educação pode criar a ilusão de aprendizado sem esforço e comprometer habilidades fundamentais das crianças.

Para ele, a eficiência prometida por sistemas automatizados não substitui a prática necessária para formar raciocínio, memória de trabalho e pensamento crítico.

“O grande risco está em oferecer às crianças a ilusão de aprendizado sem esforço”, disse. Em suas palavras, aprender “exige prática, dedicação e resiliência”.

Especialistas alertam que a Inteligência Artificial pode afetar crianças, criando ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o pensamento crítico.
Especialistas alertam que a Inteligência Artificial pode afetar crianças, criando ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o pensamento crítico.

IA e infância: aprendizado rápido versus formação sólida

O ponto central do argumento de Chiang é pedagógico. Em sala de aula, tarefas desafiadoras constroem repertório e autonomia intelectual.

Quando uma ferramenta entrega respostas prontas, a criança pode pular etapas que estruturam o entendimento.

Segundo o autor, esse atalho enfraquece a capacidade de formular perguntas, de avaliar fontes e de conectar ideias — competências que sustentam a leitura crítica e a solução de problemas.

Ao mesmo tempo, a tecnologia se apresenta como atalho tentador.

Sistemas conversacionais e geradores de texto devolvem resultados em segundos e encorajam a terceirização do esforço cognitivo, fenômeno que, para Chiang, tende a se intensificar em um ambiente já saturado de estímulos.

Se a rotina digital oferece “um caminho fácil”, afirma, o aluno pode confundir resposta imediata com aprendizagem real.

Efeitos colaterais: excesso de conteúdo, energia e direitos autorais

O escritor também chama atenção para impactos colaterais do ecossistema de IA. O primeiro é o excesso de conteúdo irrelevante, que dilui o que de fato informa e engaja.

Conteúdos gerados em escala tornam mais difícil encontrar materiais que exijam reflexão, o que pode rebaixar o nível de exigência cognitiva do cotidiano.

Outro ponto é o custo energético associado ao treinamento e à operação de grandes modelos.

Embora não detalhe números, Chiang argumenta que a demanda por processamento amplia a pegada ambiental do setor e precisa entrar na conta de políticas públicas e decisões escolares.

Há ainda os impasses de propriedade intelectual. O uso de bases amplas para treinar modelos levanta questionamentos legais e éticos sobre autoria, remuneração e crédito de obras.

Na leitura do autor, esse cenário reforça a necessidade de transparência e regras claras para mitigar danos a criadores e preservar diversidade cultural.

Um cenário de distrações abundantes

Para além da IA, a dispersão já era um desafio. A novidade, aponta Chiang, é a escala e a acessibilidade de distrações no cotidiano das crianças.

Plataformas que maximizam tempo de tela se combinam a algoritmos que priorizam volume e velocidade.

Nesse ambiente, a IA pode funcionar como um acelerador do consumo automático, reduzindo espaço para o estudo deliberado e para o erro produtivo — aquele que ensina.

Ainda assim, ele reconhece que nem todos os públicos reagem da mesma forma. Como em períodos anteriores, uma parcela continuará buscando aprofundamento.

A diferença, hoje, é o ruído generalizado que torna mais custoso encontrar material de qualidade e manter foco.

Uso pedagógico com propósito: onde a IA ajuda

O contraponto aparece na prática educacional. Ferramentas de IA já apoiam personalização de trilhas de estudo, acessibilidade para quem aprende em ritmos diferentes e produção de materiais didáticos.

Em regiões com menos recursos, elas podem ampliar o acesso ao conhecimento e reduzir desigualdades de conteúdo.

Na gestão de sala, professores relatam ganhos de eficiência com assistentes virtuais que organizam planos de aula, sugerem exercícios e agilizam correções.

Esse tempo devolvido se converte, idealmente, em interação humana qualificada: mais mediação, feedback formativo e acompanhamento próximo de dificuldades específicas.

Especialistas alertam que a Inteligência Artificial pode afetar crianças, criando ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o pensamento crítico.
Especialistas alertam que a Inteligência Artificial pode afetar crianças, criando ilusão de aprendizado fácil e enfraquecendo o pensamento crítico.

“Aliada, não atalho”: o que dizem os educadores

A leitura do setor educacional converge para um princípio: uso com finalidade. “O ponto levantado pelo Ted Chiang é importante, mas precisamos olhar a Inteligência Artificial também pelo seu potencial transformador.

A aprendizagem exige esforço, prática e dedicação — isso não muda. O que a IA faz é abrir portas para mais conteúdos, personalizar trilhas e tornar o acesso ao conhecimento mais democrático”, afirma Diogo França, diretor da XP Educação.

Para ele, o desafio não é rejeitar a tecnologia, e sim definir limites e propósitos claros para que a ferramenta complemente, e não substitua, o esforço intelectual.

Na prática, isso significa usar sistemas para diagnosticar lacunas, oferecer andamiações proporcionais e, gradualmente, retirar o suporte à medida que o aluno ganha autonomia.

O objetivo é reforçar habilidades de estudo e evitar que o estudante confunda facilitação com conclusão de aprendizagem.

Como evitar a terceirização do esforço cognitivo

Especialistas sugerem critérios objetivos para enquadrar a IA no processo.

Vale definir tarefas em que a ferramenta serve de instrumento — por exemplo, gerar exemplos adicionais após a primeira tentativa do aluno ou propor variações de exercícios.

E aquelas em que seu uso deve ser vetado, como a produção do texto final de uma avaliação. Em ambos os casos, a regra é preservar o núcleo do raciocínio com o estudante.

Também ajuda tornar transparentes as etapas do aprender. Ao pedir que o aluno descreva o caminho percorrido, apresente rascunhos ou explique por que escolheu determinada solução, a escola desloca o foco do resultado para o processo.

A IA, quando entra, precisa ficar no papel de apoio e registro, e não no de atalho.

Inovação com responsabilidade

O alerta de Chiang funciona como contrapeso em um cenário animado com novas possibilidades.

Ele não descarta a tecnologia, mas reforça o princípio de que “aprender é difícil, e é justamente isso que o torna valioso”.

A mensagem converge com a prática escolar que busca combinar mediação humana, exercícios desafiadores e instrumentos tecnológicos ao serviço de metas pedagógicas claras.

A baliza, portanto, não é proibir nem celebrar sem ressalvas. É integrar com critérios, avaliar impactos e ajustar rotas conforme evidências de aprendizagem.

Em um ambiente de distrações abundantes, a escola e as famílias ganham relevância ao tornar visíveis os limites e ao reafirmar o valor do esforço sustentado.

Se a IA amplia o acesso e oferece novas camadas de personalização, mas também traz riscos de comodismo intelectual e ruído informacional, qual será o conjunto de regras e práticas que sua escola ou sua família adotará para garantir que a tecnologia atue como aliada — e não como substituta — do pensamento crítico das crianças?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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